Os
naturalistas e os parnasianos
Sucedendo aos
românticos, sem transição violenta, porquanto, entre aqueles já havia elementos
fartamente aproveitados mais tarde, vieram os naturalistas. Propunha-se o Naturalismo
olhar com mais penetração a realidade, ver a vida sem paixão nem grita. A linha
objetiva deveria preocupar mais os naturalistas que os tesouros falaciosos do
mundo subjetivo. A exemplo daquela "beleza imóvel" de Baudelaire, sua
arte não deveria chorar nem rir. Tudo, porém, seriam maravilhas, enganos da
novidade. Os parnasianos não desertaram das fontes tradicionais do nosso
lirismo. Guiados, a princípio, por Machado de Assis, Luís Guimarães Júnior e
Gonçalves Crespo, dissidentes do puro romantismo, os nossos chamados
parnasianos foram procurar modelos principalmente na poesia francesa, em
Leconte de Lisle, Heredia, Gautier e Sully Prudhomme.
Cabe a Raimundo
Correia, Olavo Bilac e ao Sr. Alberto de Oliveira, primordial lugar entre os
representantes dessa corrente. Raimundo Correia é o mais profundo, o mais
arguto e penetrante dos três; Bilac é o mais amoroso, o mais lírico, e
perfeito; o Sr. Alberto de Oliveira, o mais nacional, aquele que mais
intimamente soube traduzir os encantos da nossa terra.
Não se mostraram
porventura mais impassíveis que os poetas os prosadores do Naturalismo. A história
do romance naturalista, aqui, está feita na obra de quatro escritores: Machado
de Assis, Aluísio Azevedo, Júlio Ribeiro e Raul Pompeia. Machado de Assis é o
psicólogo, sobreleva a todos pela profundeza da inteligência, pelo apuro da
linguagem, pela sobriedade da forma e pela ironia sutil, que o aproxima da
linhagem dos Sterne, dos Swift, na Inglaterra, dos Anatole, na França, e dos
João Paulo, na Alemanha. Da sua obra se desprende um sentimento de constante preocupação
pela beleza ou pela miséria terrena, e uma rara compreensão da triste
inutilidade a que as contingências reduziram o coração e o espírito do homem.
Em seus romances, o documento humano
não obedece a um plano preconcebido, a um postulado primordial, a uma lei
qualquer científica ou literária. Reflete-se neles, apenas, um espírito
indagador, que, a todo instante, se observa a si mesmo através dos outros, e
vai corrigindo, com o sorriso ou a lágrima, a imagem que a vida lhe põe diante
dos olhos. Machado de Assis, é, sem favor, sobre variados aspectos, o mais
significativo dos escritores de ficção da língua portuguesa, e, especialmente
entre nós, ficará como exemplo de discrição, graça de estilo e finura de
percepção. Aluísio Azevedo é um impressionista, tem a visão móbil e rápida, o
senso do colorido, é um retratista seguro e espontâneo. Os flagrantes que
desenhou são de uma leveza de toque admirável. Júlio Ribeiro é um voluptuoso,
cheio de requinte e artifício, mas possuidor de grande imaginação. Raul Pompeia
é um inquieto, um insatisfeito, um poeta comovido ante o espetáculo do mundo e
a fuga perene das coisas.
Entre os críticos,
historiadores e publicistas, que, de 1870 em diante se notabilizaram, estão
Tobias Barreto, chefe aplaudido da chamada escola do Recife, engenho versátil,
cultor fecundo da poesia, da jurisprudência, da etnografia, da filosofia e da historiografia,
polemista e orador de fama; Sílvio Romero, crítico abundante, autor da primeira
história sistematizada da nossa literatura, folclorista, sociólogo e professor
de filosofia; José Veríssimo, o mais equilibrado e sensato dos nossos críticos
literários; Araripe Júnior, espírito sutil, mas escritor nebuloso; Joaquim
Nabuco, historiador elegante e orador de grande relevo; Artur Orlando, Alcindo
Guanabara, um dos nossos mais completos jornalistas, Rocha Lima, Eduardo Prado,
publicista vigoroso, o Sr. Capistrano de Abreu, notável sabedor da nossa história,;
principalmente da colonial, crítico e filólogo distinto; e Rui Barbosa, cuja
fecunda atividade como orador, jurisconsulto e jornalista, e cujo prestígio
universal honram a nacionalidade brasileira.
No teatro naturalista
são dignos de r Artur Azevedo, Valentim Magalhães e Moreira Sampaio, que se
esforçaram, o primeiro mais que todos, por continuar a tradição dos Martins Pena
e dos França Júnior.
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RONALD DE CARVALHO
Estudos Brasileiros (1924)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
RONALD DE CARVALHO
Estudos Brasileiros (1924)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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