
O velho Coelho Neto

Na língua arrevesada e
diferente de Henrique Maximiliano Coelho Neto não há, como se pensa, apenas o
vazio da forma. Há a ternura e a emotividade, em suas manifestações mais
palpitantes. Num concurso de contos instituído por certa revista carioca,
observamos, não sem alguma tristeza, que o nome de Coelho Neto não foi
lembrado, e que apenas, ao que nos parece, um escritor votou em “Os velhos”
como uma das grandes páginas da literatura brasileira. Ora, Coelho Neto, se não
teve a técnica de Machado de Assis, teve, em compensação, maior poder de sentir
a melancolia humana, as superstições, as crendices, os espantos que povoam, no
Brasil, o espírito do homem. Seus contos e novelas de fundo regionalista são
páginas insuperáveis, basta recordar aquele pequeno conto que está em “Treva”
onde o prosador admirável fixou o medo do caboclo diante da fuga dos pombos,
quando tinha em casa o filho doente.
“Os pombos”, que ainda não
figura em nenhuma antologia, é certamente o maior conto de Coelho Neto e poucas
páginas, em nossa literatura, se podem comparar a essa, que o mestre escreveu
de um só jato, num impulso único, e nos deu, mesmo assim, sem tortura
estilista, uma autêntica obra-prima.
O nome de Coelho Neto não
merece a onda de esquecimento em que o envolveram. A circunstância de ter
pertencido à Academia Brasileira e se ter proclamado o último heleno não quer
dizer que ele fosse um empalhado ou um fóssil. Ao dizer-se “heleno” praticou
uma atitude, e todos nós sabemos, em certos casos, o que valem as atitudes.
Quanto a ter pertencido à Academia, Machado de Assis também figurou entre os
quarenta, e anda, não obstante, perfeitamente desculpado desse passo em
falso...
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Revista Careta, 20 de maio de 1939.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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