José
Bento de Monteiro Lobato nasceu na cidade de Taubaté, Estado de São Paulo, no ano
de 1886.
Estudou
mesmo pela zona Norte, do seu Estado, zona tão pobre de recursos econômicos,
mas tão rica de material humano, e que influenciou decisivamente a conformação
espiritual daquele que seria o seu maior fixador de tipos e de costumes.
Formado
em direito, Monteiro Lobato viu-se no caminho traçado a todos os bacharéis, em
qualquer tempo: a promotoria pública. Exerceu-a na cidade de Areias, uma
dessas cidadezinhas perdidas, não servidas por estrada de ferro, onde havia uns
sobrados antiquíssimos, um juiz de direito com tiradas a Pacheco e um eterno comerciante
que elogia as novas tributações estaduais pela simples razão de não pagar
imposto de espécie alguma...
Foi
penetrando nesses ambientes adormecidos da província, na alma desses boticários
palradores e desses políticos carrancudos que Monteiro Lobato sentiu despertar
em si o chamado das letras.
Começou
cedo a escrever, e o seu "Urupês" é sem dúvida alguma um dos grandes
gritos da literatura brasileira do século.
O
aplauso caloroso de Rui Barbosa sagrou o escritor pelas maravilhas do grande
livro. E desde então tem sido de domínio e de soberania o papel de Lobato nas
nossas letras.
Os
contos que se seguem são magníficos. Tendo-os em dois únicos volumes, um de
"Contos Pesados", outro de "Contos Leves", Lobato pôde dar
às novas gerações o espelho vivo da sua mais duradoura ficção. Esses pequenos
pedaços da imensa, desconhecida província, desse "interior" que tem
sido o desespero de tanto ficcionista impotente, são realíssimos e impressionantes,
na "Onda Verde", nas "Cidades Mortas", na
"Negrinha".
As
"Ideias de Jeca Tatu", livro de crítica, põem de novo em reboliço as
trombetas da crítica indígena.
Lobato
é um realizador. De um gênero de literatura ele passa para outro. Da crítica
para o conto, do conto para o romance social: "O Choque".
Viajando,
deu-nos um excelente "América".
Escrevendo
história para crianças, criou Narizinho, Pedrinho, Rabicó, a Emília, o Visconde
de Sabugosa, tipos já hoje inseparáveis de toda a garotada brasileira que saiba
ler.
Editor,
foi ele quem suscitou o movimento publicitário do presente. Não descansou
nunca, e traduções suas inundavam as livrarias, pois a ele se devia uma série
de versões de notáveis livros do estrangeiro.
São
também conhecidos de todos os seus gestos em defesa do petróleo brasileiro,
numa campanha rumorosa.
Monteiro
Lobato é, como se vê, uma das mais expressivas, das mais características, das
mais vincadas personalidades da nossa literatura. E os críticos de qualquer
tempo não poderão deixar de reconhecer neste homem que fixou o idioma brasileiro
pela fala dos seus personagens, criando e modificando o linguajar desta parte dos
trópicos.
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Revista "Vamos Ler!", 15 de abril de 1937.
Revista "Vamos Ler!", 15 de abril de 1937.
Pesquisa e adaptação ortográfica: Iba
Mendes (2019)
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