Na vida privada, no recesso do lar ou no convivia de amigos, era de inexcedível cavalheirismo.
Bondoso para com todos, só foi
austero para consigo, traçando e pondo em prática o mais severo programa de
vida.
Além de seu talento e
erudição, impôs-se ainda pela capacidade de trabalho. Nesta época em que parece
que os brasileiros têm querido arvorar altura de um princípio o laissez faire laissez passer, dos
fisiocratas, é realmente admirável a atividade de Aberto Torres.
Ministro, deputado, presidente
de Estado, jornalista, teve ainda tempo livre para escrever um grande número de
obras, sem se deixar jamais levar pelo desalento.
No meio de tantos heróis, às
vezes de conceito adquirido pelo mero convencionalismo, devem aquele que, como
Torres, solidamente firmaram sua reputação, servir de exemplo à geração que
passa. Foi um lidimo representante da raça dos lutadores.
Homem de saber e de caráter,
com uma regra de vida que é um relicário de ensinamentos cívicos, fica em
destaque por um conjunto de virtudes.
Desde colegial, pela sua inteligência
e aplicação revelava já vir a ser um dos vultos de valor. Dentro os seus
professores de humanidades atestou-lhe a precocidade intelectual Menezes Vieira,
citado pelo Barão Ramiz Galvão, vulto que os mais assinalados serviços tem
prestado à instrução brasileira desde os dias idos do regime monárquico.
Cursou Torres a Academia de
Medicina, para onde entrou com 14 anos, durante um biênio. Verificando que não
ia ao encontro de seus desejos, em 1881 matriculou-se na Faculdade de direito
de São Paulo.
De sua vida estudantina, cita
o seu ilustre filho e homônimo o incidente com o Dr. Limoeiro, professor de retórica
da Inspetoria Geral de Instrução Pública da Corte, que, supondo empáfia no modo
sobranceiro das respostas de um aluno de 11 anos, lhe mandara tomar cuidado
porque nem todas as torres eram muito altas.
Findo o exame o bondoso
mestre, paternalmente, perguntara ao examinando se supusera intuito de ter
querido ofendê-lo ao que, desembaraçadamente responde Torres de modo negativo,
porquanto sabia que nem todos os limoeiros dão frutos azedos...
***
O EDUCADOR
Se a maior das glórias é a de
formar discípulos, Alberto Torres conquistou-a. Era mestre sem cátedra, porque
ensinava no gabinete e nas suas obras. Jamais usou o estilo incompreensível daqueles
que, não tendo ideias e querendo aparentá-las, se tornam ininteligíveis e, para
usar de uma frase de Boileau — parlant beaucoup
ne dissent jamais rien.
Falava nessa linguagem sóbria
que deve usar o verdadeiro mestre e todo aquele que não tem pensamentos vacilantes.
Dispondo de extraordinária ilustração e invejável talento, mesmo quando
reproduzia, não foi um assimilador desses que, pensando pela cabeça dos escritores
que consultam, as ideias passam pelo braço sem irem ao cérebro, os quais, na opinião
feliz de Schopenhauer seriam muito ilustrados se soubessem o que escreveram.
Na assimilação deixava a
impressão do seu pensar.
Aproveitando os alheios,
fazia-os passar por esse processo a que o eminente autor dos “Escritores e Estilo"
chama de elaboração pessoal. Foi o educador que pregou a educação pela consciência
e pelo exercício, isto é, por um programa.
Queria o ensino primário para
os que sabem ver e ouvir e o secundário e superior para os capazes.
Foi, na opinião de Saboia
Lima, um pedagogo de gerações porvindouras.
Mas praticamente trabalhou
multo pela instrução quando administrou o Estado do Rio de Janeiro.
O Decreto nº 588 de 25 de janeiro
de 1900 reorganizou fundamentalmente o ensino, aparelhando-o convenientemente,
mental e materialmente.
A educação profissional foi objeto
de seus cuidados.
Na Escola Normal introduziu a
cadeira de Economia Rural e noções de Agronomia e Zootecnia.
Com a educação rural pensava
não somente livrar o brasileiro do excesso de importação de imigrantes como também
descongestionar os centros urbanos.
Pregou a gratuidade da instrução
primária e profissional e norteou o nosso caminho, quer como Estado, quer como
unidade da comunhão universal.
Doutrinou sobre política,
interna e internacional, sobre o modo de encontrar a paz e a guerra e sobre a questão
social, estudando o valor individuai da sociedade e da pátria.
---
Revista "O Malho", 15 de julho de 1934.
Revista "O Malho", 15 de julho de 1934.
Pesquisa
e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...