Teatro de São Francisco
Basta analisar o gênero da ópera-cômica para não surpreender a pouca
duração do seu repertório e a dificuldade de se sustentar na cena. Estas óperas
não são nem uma partição segundo o
valor musical da palavra, nem um drama
segundo o mérito literário que se exige em uma peça de teatro. O autor e o
músico, escravos um do outro, raras vezes se pode reciprocamente mostrar, a fim
de que resulte vantagem real para o drama e para a música. A poucos é dado
vencer esta dificuldade; e a reunião de dois gênios que se compreendam não é
tão fácil de encontrar-se. Para crédito da ópera-cômica dois nomes se ajuntam,
muitas vezes:
Scribe e Auber. Ninguém tem sustentado melhor este gênero que Scribe,
ninguém o tem abrilhantado com mais variedade de espírito e bom gosto. Em suas
obras a cena é sempre maravilhosamente compreendida, e com naturalidade se
presta à música; situações engenhosas e inesperadas excitam a atenção sem a afadigar,
e as agradáveis e graciosas inspirações de Auber as vem realçar e embelezar.
O público do Rio de Janeiro já por muitas vezes tem gozado as obras
primorosas destes dois gênios, e ainda esta semana duas ocasiões se lhe
proporcionaram, com o Domino noir e os Diamants de la Couronne, de passarem agradáveis momentos. Já
dissemos como estas óperas foram
executadas, já contamos o seu entrecho, não voltaremos pois a este assunto;
injustiça porém seria se não repetíssemos que os atores têm continuado a
merecer aplausos, e que Mlle. Duval, alma e encanto da companhia, cada vez se
faz mais credora do entusiasmo público.
Passando-se a companhia lírica francesa do imundo Teatro de São Januário
para o de São Francisco, deu acertado passo. Deixava um pardieiro por um teatro
elegante e um diretor ainda pouco versado no gosto do país, e receoso de se
entregar a gastos extraordinários, por outro bem conhecido por seus trabalhos
cênicos, aptidão e ânimo de despender, como não poucas vezes tem dado provas.
Dizer o que o Sr. João Caetano dos Santos é capaz de fazer em um teatro que
dirige, é repetir o que todos sabem e o que a experiência tem mostrado. Só,
lutando com o colosso de São Pedro de Alcântara, sem outro auxílio mais que
seus próprios e incansáveis esforços, tem sabido sustentar os eu teatro com
luxo e esmero, e carregar com duas companhias. Não foi o desejo de lucrar que
fez com que o Sr. João Caetano tomasse sobre si a Companhia Lírica Francesa;
bem sabia ele que ia se encarregar de pesada e dispendiosa tarefa; mas o desejo
de tornar o seu teatro brilhante e uma nobre emulação fizeram-lhe esquecer este
inconveniente, ou antes, lembrando-se dele, o quis arrastar. Estamos que todos
estes sacrifícios serão compensados e reconhecidos, e que o público não
abandonará o artista que tanto se esmera para lhe agradar.
Sabemos que toda a companhia está muito satisfeita com o seu novo
diretor, e que entre todos reina a maior harmonia. É isto uma garantia de
próspero futuro.
Uma nova ópera-cômica de grande cenário, e por conseguinte de avultadas
despesas, se prepara e subirá à cena no dia 24 do corrente; queremos falar do Cavalo de Bronze. Aventurando-se o Sr.
João Caetano a dar-nos uma peça de maquinismo em um teatro de tão acanhadas
proporções internas, mostra que para satisfazer ao público nada receia.
O Cavalo de Bronze é uma das
óperas-cômicas de mais nomeada. O seu enredo é bem conduzido e engenhoso, e a
música magnífica.
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Luís Carlos Martins Pena (1815-1848)
Pesquisa: Iba Mendes (2019)
Luís Carlos Martins Pena (1815-1848)
Pesquisa: Iba Mendes (2019)
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