Contam
que uma mulher foi um dia à casa de um homem casado e pediu para ali ficar.
Perguntou-lhe
o homem:
—
Que sabes tu fazer?
—
Sei fiar.
—
Então, fia.
Dizem
que lhe deu algodão. Depois a mulher ficou em casa dele. Deixavam-na só e nada
lhe davam para comer. Então, ela ia ao ninho das galinhas e tirava os ovos para
chupar, e deixava as cascas inteiras, como se não fossem quebradas. Depois
disso o homem voltou do mato com dois ovos de mutum; quebrou um e meteu dentro
dele um cabelo humano. Em seguida, a mulher foi chupá-los. Cresceu-lhe tanto a
barriga que ela já não podia andar. Voltando do mato, o homem disse-lhe:
—
Vamos apanhar sorva que encontrei aqui perto.
Dizem
que da barriga responderam-lhe:
—
Eu vou contigo, minha mãe. Disseram eles então:
—
Que é isto?
—
Eu vou contigo, minha mãe.
O
homem foi com ela, apesar da barriga grande. Apenas chegaram junto à sorveira,
o homem disse:
—
Cortamos ou subimos?
—
Eu mesmo subo.
Então
o homem tirou a maior sorva; tirou dela o conteúdo e encheu-a de saliva. Da
mulher que estava sentada saiu uma cobra que subiu para a sorveira. Ainda
estava na barriga a metade, já a cabeça estava na ponta da árvore, engrossando
ao mesmo tempo. Então, disse o homem:
—
Agora, quando acabar de sair, mete a ponta do rabo na casca da sorva.
A
mulher meteu-o logo. Então fugiram, levando o homem a mulher as costas para
casa. Logo depois, a cobra gritou:
—
Minha mãe! Minha mãe!
—
Uh! Uh! ...
Chegaram
a casa. Imediatamente o homem meteu a mulher num pote e pôs terra em cima. A
cobra foi no encalço da mãe, chegou e chamou-a... chamou-a. A mãe não
respondendo, saltou a filha ao rio. Procurou o fundo e não o achou. Subiu e foi
para o céu.
A
cobra grande chamou o homem e disse:
—
Meu avô, escondeste minha mãe. Agora vou-me embora para o céu; não achei lugar
no rio e quando eu te chamar, me responderás. Quando eu aparecer, capina tua
roça, porque será então o princípio do verão.
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Fonte:
João Barbosa Rodrigues (1842-1909):
"Poranduba amazonense" (1890)
Pesquisa: Iba Mendes (2019)
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