A história do México reflete as
inquietações dessa alma instável e ambiciosa. Antes da conquista, maias e astecas se
disputavam cidades e campos, deuses e riquezas. Como na Itália medieval, um entranhado
localismo caracterizava a organização política
dos diferentes povos mexicanos. Em Tenochtitlan, em Mitla, em Palenque, em
Uxmal, em Cnichén-Itzá, uma aristocracia de artistas levantou cidades, construiu
templos e palácios de granito lavrado, casamatas, pirâmides e fortins, desviou
o curso dos rios, rasgou canais e abriu, nas terras áridas, imensos lagos
artificiais.
Nos bosques de Chapultepec os imperadores astecas, à laia dos cortesões
toscanos, ofereciam aos seus hospedes bailados e poemas, assentando-os em mesas
cobertas de baixelas de ouro e de prata. Não lhes era estranha a ciência dos
pactos, a diplomacia das alianças, os ardis dos tratados bélicos.
Cortez foi recebido em Tenochtilán como aluado da dinastia. Se os
príncipes indígenas não dessem fé à palavra do espanhol, dificilmente
conseguiria o descobridor encontrar, nas cordilheiras, o caminho de acesso para
conduzir aos altiplanos os ginetes de Castela. Vale apontar esta coincidência:
Cortez chegou ao México para tomar parte numa revolução. Muito dura seria a sua peleja se,
nesse momento, os astecas não estivessem a pique de travar luta com o inimigo
e, sobretudo, se não traísse ele desabusadamente os seus compromissos.
Durante os séculos da colonização, o espanhol não pôde subjugar o
indígena. Excetuada uma elite de fidalgos feudais, possuidora de quase todo o
patrimônio nacional, a massa da população vegetava sob o regime das
"encomiendas", despojada inteiramente das suas fortunas e tradições. Seu
instinto de liberdade, embora amortecido, continuava latente. Estaria reservado ao clero humilde, que fora, até então,
o educador vigilante das inteligências, um eminente papel na história da independência
mexicana. Foram dois padres os primeiros homens que reclamaram a soberania para
a sua pátria. Amotinando os índios da aldeia de Dolores, em Guanajuato, D.
Miguel de Hidalgo, gravou na consciência dos seus concidadãos o episódio de 15
de setembro de 1810. Proclamando a independência, em 1818, D. José Maria
Morelos ditou a primeira constituição mexicana. Foi a destemerosa propaganda desses
sacerdotes, fuzilados pelas tropas coloniais, que determinou o movimento vitorioso
de Guerrero e Iturbide, em 1821.
Ao revés do que sucedeu no Brasil no
vice-reinado do Prata e no vice-reinado do Peru, onde se formou, rapidamente, uma
classe média de pequenos proprietários, favorecidos pela agricultura e pela mineração,
no México existia apenas uma casta de senhores de latifúndios enormes, sem o
menor contato com o povo. Constituiu-se a nação sobre a base de uma despropositada
desigualdade de fortuna. Acresce, ainda, a circunstância importante de que era
também considerável o desequilíbrio dos componentes étnicos. Na "Nova
Espanha" o caldeamento se operou em escala mínima, se o compararmos com os
dos outros Estados Americanos. O melting-pot não chegou para o advento de
uma sub-raça, em cujas veias se harmonizariam os sangues do europeu e do íncola.
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Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2019)
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