Em 10 de junho de 1874, Magalhães é acreditado junto à Santa Sé, na qualidade de enviado extraordinário e ministro plenipotenciário, e, quase simultaneamente, por decreto de 25 do mês seguinte, passa de barão a visconde com grandeza.
Quando o Visconde de Araguaia
apresenta as credenciais a Pio IX, dois príncipes da Igreja, frei Vital e D.
Antônio de Macedo Costa, acham-se, um na fortaleza de São João e outro na da Ilha
das Cobras, expiando a pena de quatro anos de prisão simples, em que lhes foi
comutada a de prisão com trabalho, a que foram condenados pelo Supremo Tribunal
de Justiça, às ordens do primeiro Rio Branco.
Tanto basta para demonstrar a
delicadeza excepcional da situação do diplomata brasileiro junto ao Sumo Pontífice.
Em boa hora vem facilitar-lhe a missão
a anistia de 1875, Magalhães pode então voltar às suas preocupações filosóficas.
As duas últimas obras que lhe saem da
pena são A alma e o Cérebro, em 1876, e Comentários e Pensamentos, em 1880.
Desta nenhuma página existe, que
mereça menção. Naquela, dedicada ao Imperador, que se dignou "ouvir a
leitura de alguns capítulos" e animou o autor a concluir o trabalho, há
uma apreciação da frenologia de Gall, do sensualismo de Condillac e do
materialismo. Na parte negativa está, para Leonel Franca, a parte melhor da
obra filosófica de Magalhães.
Em Roma, a 10 de julho de 1882, com
pouco menos de setenta anos, falece o Visconde de Araguaia.
Bem pode ser que, a dois passos do
trânsito supremo, lhe tenham acudido à memória aqueles versos de Antônio José:
Morrer... Morrer... Quem sabe o que é a morte?
Porto de salvamento ou de naufrágio?
O naufrágio, para um homem como ele,
seria o esquecimento. Passados cinquenta anos, o seu nome vive ainda e não
morrerá tão cedo, porque sem decliná-lo ninguém poderá traçar a história do
pensamento nacional. Entendia assim José Veríssimo, representante da geração
que lhe sucedeu: "influiu poderosamente na formação da literatura
brasileira, que desde então começa a distinguir-se da portuguesa".
Reconhecem-no os moços de hoje (década de 1930) como Ronald de Carvalho e Mota Filho,
que enaltecem "o empenho de Magalhães em prol da libertação literária do
Brasil".
Pouco importa que, fecunda em abortos,
a obra do poeta, do teatrólogo, do crítico, do novelista, do filósofo tenha mais
intenções do que realizações. A grandeza dos ideais que o inspiravam, o desejo
constante de enobrecer a vida, o culto ardente das coisas da inteligência, a
coragem e por vezes a galhardia com que abordou todos os gêneros, o papel que,
embora contra a sua vontade e ao arrepio de suas convicções mais radicadas,
desempenhou no movimento romântico, fazem de Magalhães um dos valores de nossa
aristocracia espiritual.
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ALCÂNTARA
MACHADO
"Gonçalves de Magalhães ou o romântico
arrependido" (1936)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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