Minhas Senhoras, Meus Senhores:
Em nome da Comissão Promotora do Monumento a Eça de Queirós, comissão—
ai de nós!—já tão mutilada pela morte, é a mim que me cabe, nesta soleníssima ocasião,
fazer à cidade de Lisboa a entrega do monumento, que amigos e admiradores do
grande escritor, inspirados no mais alevantado ideal de justiça, lhe quiseram
consagrar, dando assim mais um exemplo do muito que pode a iniciativa
particular no pagamento das dívidas sacratíssimas que a Pátria contrai para com a memória daqueles que mais a souberam ilustrar
e engrandecer.
E este monumento, tão belo na sua harmoniosa simplicidade, ao mesmo
tempo que perpetua a memória do artista sublime, que só na Verdade soube
inspirar-se, porque ela é sempre espelho da mais clara perfeição, levará também
pelos séculos a dentro o nome do escultor incomparável, que tão assombrosamente
o soube conceber e executar.
Dir-se-ia, senhores, que o grande, o generosíssimo coração de Eça de Queirós,
não querendo entrar só na luminosa apoteose da glória, leva consigo o artista
que no mármore lhe ressuscita e imortaliza a expressão tão cheia de bondade.
Porque a bondade, e sem limites, foi também uma das grandes características da
sua nobilíssima alma de eleição.
Deveria agora, senhores, falar-vos da sua prodigiosa obra, que tão
profundamente revolucionou toda a nossa literatura; mas sobre ser empresa, que
excede o meu esforço, outros o vão fazer, e em palavras que ficarão ecoando nos
vossos ouvidos, como notas afinadas de clarins triunfais!
E a este triunfo pode bem dizer-se que assiste o próprio glorificado,
porque ele seguramente nos escuta, através do coração despedaçado da mais
desvelada das companheiras, da alma dos filhos, das lágrimas da Mãe carinhosa,
das enternecedoras lembranças da irmã estremecida, e ainda através da saudade,
cada vez mais doce e mais viva de todos os seus amigos.
A cidade de Lisboa, estou certo, guardará com orgulho e com amor este
monumento, que lhe lembrará também, e com honra para nós todos, que nesta inquieta época
de tão profundos desalentos ainda se congregavam espíritos para semelhantes
consagrações!
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CONDE DE ARNOSO
CONDE DE ARNOSO
"Discursos", 9 de novembro de 1903.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019).
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