Conversão
O Bernardo tornara-se apaixonado
convicto das ideias revolucionárias. E não eram só as de natureza política que
germinavam e floresciam no seu espírito. Estas conjugavam-se com o ódio aos
padres, à Igreja, aos santos, a tudo o que fazia lembrar a reação e o
obscurantismo dos tempos passados, como o Marcolino afirmava, em voz muito
firme e serena, quando falava no Centro Fraternidade e Ateísmo, a que ambos
pertenciam.
Não professara sempre essas
ideias. E hoje tinha vergonha de si mesmo ao lembrar-se de que em pequeno, na
sua terra natal, andava sempre agarrado ao sacristão da matriz, pedindo-lhe que
o deixasse vestir uma opa nos dias de festa, e da alegria com que se
enfileirava nas procissões, erguendo muito orgulhoso uma cruz ou um pendão.
Outras vezes escapulia-se para a torre e conseguia que o sineiro o deixasse
tocar algumas badaladas no sino mais pequeno.
Quando fora chamado para a vida
militar, sua mãe, pobre mártir dolorosa, pusera-lhe ao pescoço uns bentinhos e
um pequeno Cristo de prata, a que lhe pedira muito que se apegasse nas horas de
aflição, porque lhe fora dado pela sua madrinha, que morrera em fama de santa.
Mas, pouco depois, fora transferido para a Infantaria 5, em Lisboa; começara a
ouvir dizer a alguns camaradas, no quartel, e aos amigos, na taberna, para onde
ia sempre, antes do recolher, que tudo isso de imagens e religiões eram
histórias da carochinha, e assim se iniciara a libertação do seu espírito, que
estivera, até então, imerso na mais profunda ignorância, como só agora o
reconhecia.
Quem mais concorrera para essa
mudança tão radical no seu modo de pensar fora o Marcolino, um broxante do
bairro, rapaz magro, de andar bailado, olheiras cavadas e negras brilhando como
carvões, que era um gosto ouvir quando desancava "a corja da padralhada e
as superstições do catolicismo". O Bernardo não percebia bem o sentido
daquelas palavras, mas isso não diminuía a admiração que lhe produzia, vendo-o,
com as feições de iluminado, anunciar uma era de felicidades e de gozos para
todos, quando aqueles erros estivessem destruídos.
Fora ele na realidade o seu guia,
quem o fizera gente. Como se sentia agora diferente do tempo em que se
desbarretava, humilde e mesquinho, lá na terra, diante do Dr. Guedes, porque
era doutor, ou do Sequeira de Castro, porque era fidalgo, como se qualquer dos
dois não fosse também feito de carne e osso!
Abrira felizmente os olhos a
tempo. Todos eram iguais. Diziam os que pretendiam justificar os modos altivos
de Sequeira de Castro que o fidalgo tinha muitos avós. Mentira completa, porque
não podia ter mais de quatro, como lhe sucedia a ele, apesar de não passar dum
deserdado da sorte. Por isso repetia em ar de desafio: "Para mim agora vem
de carrinho", frase que copiara ao taberneiro da Graça, um dos mais
devotados e decididos propugnadores das ideias novas naquele bairro.
Quando teve a baixa já namorava a
Isabel, engomadeira. Era uma rapariga muito fresca, de faces rosadas, olhos
escuros e profundos, cabelos negros, peitos fartos e desenvolvidos de mulher
criadeira. Tinha a simpatia de todos que a conheciam, por ser muito bondosa,
asseada e trabalhadora, com condições para fazer feliz o homem a quem se
unisse. Um tio dela, que juntara uma pequena fortuna com um lugar de hortaliça
na Rua do Sol ao Rato e que resolvera regressar à província, prestava-se a
passar-lhe o lugar, e desse modo pôde apressar-se o casamento.
Um dia o Bernardo disse à Isabel
que desejava que a cerimônia se efetuasse daí a dois meses. Ela escutou-o num
alvoroço de alegria, mas o seu contentamento esfriou muito ao ouvir-lhe estas
palavras:
— O casamento é só civil. Já
sabes que não quero nada com os malandros dos padres.
— Oh! filho — objetou ela
timidamente —, um casamento que não se faz na igreja parece que não é abençoado
por Deus.
— Qual Deus, nem qual Diabo —
replicou o Bernardo sacudidamente. — Deus não precisa meter-se na minha vida.
A Isabel ainda replicou, com as
lágrimas nos olhos:
— Que más ideias te meteram na
cabeça! Verás que ainda vamos a ser desgraçados.
Mas o Bernardo não cedeu. Ia-se
enternecendo quando a viu chorar. Gostava muito da sua namorada. O coração quase
o obrigara a concordar com o desejo que ela tão comovidamente manifestara.
Mas lembrou-se do que diriam os
seus correligionários se ele transigisse, e por isso terminou a conversa
exclamando:
— Já conheces as minhas ideias e
sabes que não posso ceder. Os padres não nos podem dar felicidade. Sejas tu
sempre boa rapariga e eu um homem honrado e trabalhador, e verás que não nos
havemos de arrepender.
Logo que casaram e se instalaram
na sua casinha, o Bernardo, esperto e ativo, entrou a alargar o movimento do
lugar, adquirindo na terra novos gêneros em boas condições e realizando assim
lucros valiosos. A Isabel, pelo seu lado, mourejava também sem descanso.
Passava todas as horas de que podia dispor agarrada ao ferro, com a cara muito
vermelha do calor, mas cantando como uma cigarra, numa voz muito argentina, e
dando desse modo expressão à alegria do seu viver.
O lugar foi-se transformando a
pouco e pouco num centro político. O ervanário do lado, o Tomé, cara de poucos
amigos, sempre azedo e refilão, com a cabeça enterrada num boné de pala já
muito ensebado, e a barba rala e maltratada, fazia ali o seu quartel-general,
aparecendo só de fugida no seu estabelecimento. Juntavam-se também, tanto de
manhã como de tarde, o Afonso, sapateiro da escada defronte, e o Carlos Pinto,
cuja profissão ninguém conhecia, dizendo-se, à boca pequena, que era um espião
da polícia.
Essas reuniões convertiam-se, a
miúdo, numa assembleia revolucionária. Repetiam-se frases ouvidas outrora com
entusiasmo nos comícios. O povo lutara e sacrificara-se pela sua emancipação.
Correra muito sangue para se conseguir que a Pátria fosse dignificada.
Instituíra-se um regime fundado
na liberdade e na igualdade. Mas de fato — tinham de o reconhecer — as coisas
pouco ou nada haviam mudado. Os pobres continuavam a lutar com a miséria, e
figuravam como grandes senhores, desprezando os que os tinham guindado ao poder
e à fortuna, muitos que ainda ontem viviam na maior modéstia e humildade.
Era o Tomé, principalmente, que
fazia ouvir com maior veemência estas lamentações.
Falava como se estivesse a
discursar. A palavra saía-lhe sibilante dos lábios muito delgados.
Carlos Pinto ajudava-o,
sentindo-se também revoltado. Em geral o Afonso e o Bernardo assistiam calados
à explosão daqueles ódios, envergonhados de confessar que se sentiam logrados,
mas reconhecendo, no fundo, que os camaradas tinham razão.
A Isabel desesperava-se com
tantas discussões, e, quando via o marido mais calmo, prevenia-o, receosa:
— Deves evitar esses
ajuntamentos. Os fregueses não gostam de gritarias, nem de políticas. Além
disso tenho medo do Carlos. Tem tão má fama! Quem sabe se um dia não vens a
sofrer algum desgosto por te deitar as culpas do que ele mesmo diz?
— Cala-te, mulher. Deixa-te de
tolices. As minhas ideias são conhecidas. Estão no governo alguns que sabem bem
quem eu sou. Viveram muito comigo, nos tempos da propaganda.
— Mas agora talvez se não lembrem
de ti. O Tomé é que tem razão.
— Não percebes nada de política.
O Tomé está furioso porque queria ser nomeado para o registro civil. Noutros
tempos era um reacionário, andava em procissões e vivia quase de casa e
pucarinho com o tesoureiro cá da freguesia.
— Tens razão — arrematava a
Isabel, condescendente —, não sei nada de política. Mas o que sei é que não
temos ganho nada com os barulhos que tem havido.
— Respira-se melhor. Já não há
roubalheiras e não temos o peso dos padres.
— Eu dantes não respirava pior,
nem sentia o peso de ninguém.
— Já te disse e repito —
terminava o Bernardo, casmurro e de mau humor —, não te metas onde não és
chamada.
Nos dias em que o Marcolino
aparecia, as discussões eram ainda mais vivas e adquiriam maior solenidade. O
broxante como que pontificava. Todos lhe reconheciam a superioridade e a
inteligência. Logo que começava a falar, aquecia-se com as próprias palavras e
as frases saíam-lhe em torrentes dos lábios nervosos, enchendo de pasmo os que
o ouviam.
Fixava a vista num ponto
distante, a face tornava-se-lhe mais pálida, e afirmava sem exaltações, com a
sinceridade e a fé dum apóstolo. Bem sabia que havia descontentamentos. Mas
isso só provava a sinceridade das convicções dos que os sentiam.
Lembrassem-se, porém, de que
tínhamos uma Pátria a refazer, que tudo estava no caos e que não se podia
chegar dum salto à perfeição. Atacara-se o predomínio da Igreja.
Agora já não havia deuses, nem
santos, nem altares. Havia simplesmente homens, todos iguais. Isso bastaria
para se deverem sentir gloriosos da obra realizada. Pela sua parte passava
muitos dias com fome. O capitalismo, que não pudera ainda ser vencido, negava-se
a utilizar-lhe os braços. Mas assim mesmo, roto e desprezível, sentia-se feliz
e continuava firme no seu posto, na ânsia de redimir o seu país, de tornar
felizes os seus irmãos. Não havia razões para esmorecimentos ou desânimos. Era
preciso continuar na luta contra tudo o que escravizava a consciência humana.
Quem não era por nós era contra nós. Não condenava os desabafos que ali tinham.
Estavam entre amigos, entre camaradas. Mas não deviam reproduzir lá fora as
suas queixas. Se elas fossem ouvidas para além daquelas paredes, a reação
aproveitá-las-ia para abrir brecha nos seus adversários.
Os outros bebiam-lhe as palavras
sonoras e embriagavam-se com elas, jurando que iriam com ele até à morte.
Homens assim é que mereciam ser escutados e seguidos com devoção.
Nessas noites o Bernardo dizia
para a mulher, ainda encantado com a impressão das frases retumbantes do
broxante:
— Ouviste alguma coisa? Aquilo é
que é falar!
— Pouco ouvi. Estava entregue ao
meu trabalho. Sabes bem que aquelas conversas não me entretêm.
— Sim. Aquele não é para
mulheres. Mas com que calor e entusiasmo ele fala! Se o visses lá no Clube! Até
o Dr. Azevedo, um que é deputado e está agora no galarim, tem medo dele que se
fina. Para os padres, então, é um carrasco.
— O que eu queria — replicava a
Isabel com carinho, procurando convencê-lo — era que te deixasses dessas
manias, que nenhum proveito nos podem dar. Os outros é que figuram e enriquecem,
e nós havemos de precisar sempre de viver do nosso trabalho. Lembra-te que
daqui a pouco vamos ter um filho e precisaremos ganhar a vida mais ainda do que
até aqui.
O Bernardo fitava-a enraivecido e
monologava:
— A culpa tenho-a eu, tenho. Já
devia saber que as mulheres são, em geral, umas retrógradas, que não sabem
compreender o progresso.
A Isabel estava na realidade
prestes a ser mãe, e as paixões de seu marido tiveram então um período de
esmorecimento. Ela sofria muito, deixara de engomar porque o calor do ferro lhe
produzia sufocações, e por isso o Bernardo, no fundo meigo e carinhoso,
consagrava todo o tempo de que podia dispor a acompanhá-la, cercando-a das
maiores ternuras. Deixara mesmo de ir ao Clube, que ficava lá muito longe, para
os lados da Graça.
Na loja, preocupado com a ideia
de que a mulher podia morrer, de tal modo lhe notava um enfraquecimento
crescente, conservava-se pensativo e abstrato, respondendo com monossílabos ao
que os outros diziam.
E assim, pouco a pouco, o Tomé
começou a afastar-se. Nascera-lhe a suspeita de que ali havia tramoia, talvez
obra da reação, empenhada em abalar o formidável baluarte de liberdade que ele
e os seus companheiros tinham erguido contra ela.
Quem sabe se o Bernardo teria
sido aliciado para a sua causa? O Carlos Pinto declarou logo que já sentia há
muito tempo a mesma desconfiança. Andava desde longe com a pedra no sapato,
acreditando pouco na sinceridade de crenças do "comerciante de nabos",
como ironicamente costumava chamar ao Bernardo. Aquilo não passava dum relento
do Marcolino, embeiçado talvez pelo belo corpo da Isabel, e contava, então,
que, ainda há dias, entrando no lugar, por acaso, a vira a ela bisbilhotar ao
canto, em confidências e em segredinhos com uma velha ranhosa, a criada do Dr.
Lemos, jesuíta de marca, com grande entrada no Patriarcado. E acabava,
congestionado de ira:
— A mim nunca o gajo me enganou.
Vocês é que eram uns palermas em lhe darem crédito.
Só o Afonso, o sapateiro, menos
esturrado, é que resistia, convencido de que o vizinho não se passava para o
partido dos jesuítas. Ele que se mostrara sempre tão sincero, e de quem o
Marcolino continuava a ser amigo! Podia lá ser!
— Mas por que é que já não vai ao
Centro?! Diz lá, tens-lo lá visto? Por que é que está sempre embezerrado como
um pato mudo, quando nós falamos? — perguntava o Carlos, cada vez mais
excitado.
— Sei lá — respondia o Afonso,
confuso, num abanar de ombros imbecil. — O que digo é que não é homem para nos
atraiçoar. Isso é que eu podia jurar.
Pouco depois nascia um pequeno. A
Isabel fora feliz e a criança apresentava-se com um aspeto magnífico. Desde
essa hora, Bernardo dedicou ao filho uma verdadeira idolatria. Era ele quem o
passeava de noite, quando o pequeno chorava, para que a mulher não se mexesse e
não apanhasse algum resfriamento, porque as manhãs corriam muito frias e
agrestes. Era ele quem o adormecia muitas vezes, quando via a Isabel já
extenuada, com os olhos a fecharem-se-lhe pedindo descanso.
O Marcolino fora para o Norte,
dizendo-se que o levara ali a realização de um projeto grandioso, o de
conseguir a federação de todos os elementos operários, em prol da liberdade e
da emancipação do gênero humano. E os seus admiradores repetiam estas palavras quase
com idolatria, pasmados com a magnitude da empresa.
As crenças de Bernardo não se
tinham modificado. Haviam sido as apreensões pela saúde da mulher e a ternura
que sentia quando tomava nos braços robustos o indez do filhinho que lhe tinham
amolecido um pouco as energias, mas as ideias que o fanatizavam desde que viera
para Lisboa continuavam bem firmes a dominar-lhe o cérebro.
Um dia tinha ido, a pedido da
Isabel, a casa das Barcelos. Eram duas irmãs muito velhinhas, a quem a mãe de
sua mulher servira durante largos anos, onde por isso a engomadeira brincara em
pequena, e que lhe haviam ficado querendo como se fosse sua filha. As santas
senhoras queriam dar-lhe umas peças para o enxoval da criança. O Bernardo voltou
com o embrulho, dizendo:
— Lá estive com as velhotas.
Mandam-te muitas saudades.
A Isabel quis ver logo o que lhe
tinham dado, ficando enlevada com a beleza da oferta. Eram cueiros, fraldas,
corpinhos e babetes de fazendas magníficas, tudo feito com o maior apuro e com
guarnições de rendas delicadas e finas. E, à medida que ia admirando e pondo
para o lado todos esses objetos que o seu filho muito querido viria a usar,
exclamava:
— Coitadinhas, coitadinhas, como
se lembraram de mim. São umas santas!
— O que elas são — interrompeu o
Bernardo — é umas beatas que metem nojo.
— Não digas isso — replicou ela,
indignada. — É assim que lhes mostras o teu agradecimento?
— Trataram-me com muitas atenções
e mesuras, não há dúvida. Estenderam-me a mão e perguntaram-me por ti e pelo
pequeno. A mais velha até quase que me fez chorar contando-me o susto que
tivera julgando que não resistirias ao parto. Por isso mesmo é que me fez mais
raiva o que lá vi.
— Então o que é que tu viste que
te pudesse causar raiva em casa dumas senhoras de tanta bondade?
— Sabes o que vi?! Imagens por
todos os lados e em todas as paredes. Entrei numa sala onde havia um oratório
com uma lamparina acesa. Até tive náuseas, não sei se por causa do cheiro do
azeite. A D. Amélia queria que eu te trouxesse um Cristo dourado para pores ao
pescoço do menino.
Respondi que era melhor dar-to a
ti, porque podia perdê-lo, e a outra, a mais rebiteza, descobriu que tem de ir
pagar uma promessa ao Senhor dos Passos, feita por tua intenção. Ah! bom
arrocho!
Desta vez a Isabel não se pôde
conter. Sentiu acudirem-lhe aos olhos lágrimas de revolta. E, com a voz trêmula,
exclamou:
— Cala-te, homem, para que Deus não
nos castigue. Como te estragaram esses que tu admiras e como conseguiram dar-te
cabo do coração! Tua mãe também tinha religião e não era má mulher. É preciso
ser-se muito mau para falares como estás falando.
— Eu não sou mau — disse o
Bernardo, sentindo que a mulher tivera razão em se ter zangado tanto. — Mas não
posso aturar aquele beatismo. Se Deus existe, é melhor deixarem-no sossegado no
Céu e não o maçarem a toda a hora. — E depois, mais conciliador: — Não me
lembrava que diante de ti não se pode tocar naqueles santantoninhos. Dá cá um
beijo e não te arrelies mais, que eu não tornarei a incomodar "suas
insolências" — concluiu ele gracejando e fazendo umas festas na cara de
Isabel.
Mas o que se acabara de passar
impressionara-o no íntimo, profundamente. Sim, a sua mulherzinha, sempre tão
dedicada, tinha no fundo alguma razão. As Barcelos eram umas boas velhinhas.
Era uma pena terem aquela mania dos santos. Acreditavam em milagres e noutras
tolices iguais. Mas isso provinha de serem antigas e de não terem tido quem
lhes abrisse os olhos. Não as tinham ensinado, não podiam compreender a marcha
do progresso e da civilização, como o Marcolino sabia explicar com tanta
clareza. Não era motivo para lhes querer mal, e só devia lamentá-las.
O pequeno prosseguia muito forte,
prendendo de dia para dia e cada vez mais o coração dos pais. Quando fez um ano
já dava uns passinhos, querendo libertar-se definitivamente. O pai passava
horas a rir-se com ele, amparando-o quando o via quase a cair e exclamando ao
vê-lo cambalear:
— Era pai, que grande camoeca.
Hoje foi bebedeira de caixão à cova.
Manuelzinho derretia-se às
gargalhadas, parecendo que já compreendia o que lhe dizia. Revelava muita
vivacidade e tinha muita graça. Já proferia algumas palavras: pai, mãe, pão, com a vozinha muito
entaramelada ainda, pedindo tudo o que tinha à vista, dando gritos de desespero
e tendo birras que lhe arroxeavam as facezinhas se lhe tiravam alguma coisa dos
deditos, que mal se viam, e tanto o Bernardo como a Isabel riam, riam
perdidamente, como duas crianças também, em face desse pequeno ser que era como
que a materialização do seu amor.
Do negócio só tinham razões para
dizer bem.
Continuavam a ter meios
suficientes para gozarem uma existência desafogada e sem cuidados. A Isabel,
acabada a criação, voltara à sua vida de engomadeira, e conquistara tanta
freguesia que fora obrigada a contratar uma rapariga para a ajudar. Não tinham
pois que se queixar do destino e, ao contrário, a vida corria-lhes tranquila,
prometendo-lhes novas felicidades.
O Tomé afastara-se de todo desde
que um dia o Bernardo o insultara e quase lhe batera, por ter denunciado como
inimigos perigosos do regime o Lopes fanqueiro e o filho, incapazes de fazerem
mal a uma mosca e de se meterem em qualquer aventura, só porque o Lopes pai o
quisera obrigar a pagar uma quantia que ele lhe devia há muito tempo. O Carlos
Pinto andava fugido, por estar implicado nos crimes duma quadrilha de
falsificadores de letras. Fora o Dr. Azevedo, o deputado, que o salvara,
prevenindo-o para se escapar a tempo. Só o Afonso é que aparecia de longe em
longe, muito triste, sentindo velhas e emurchecidas as suas antigas ilusões. O
próprio Marcolino raras vezes ia ao lugar. Viera desalentado do Porto.
Todos falavam muito, mas eram bem
raros os que se resolviam a caminhar para a frente.
Os operários do Norte não o
haviam compreendido. Notava-se uma cobardia geral. E o que ia sucedendo era bem
diverso daquilo que tão entusiasticamente sonhara. Mas nem por isso desistira
de lutar. Muitos dos que antes mais o impeliam para o combate e mais o adulavam
com lisonjas, por sinal bem falsas e interesseiras, evitavam agora o seu
convívio e pelas costas chamavam-lhe louco e outros nomes piores. Nada lucrava
com a revolução. Continuava a viver do seu trabalho, quando o podia alcançar,
porque muitos patrões não o queriam aceitar, assustados com a fama de
perturbador que criara. Por isso passava dias de penúria e até de fome.
Em compensação, muitos dos que
conhecera ainda mais miseráveis do que ele ostentavam agora riquezas e
dispunham de poderio. Nada disso, repetia mais uma vez com inquebrantável fé, o
faria abjurar dos princípios e das ideias que constituíam a razão de ser da sua
existência. Se um dia se reconhecesse vencido e visse que nada havia já a
tentar, não se resignaria ao malogro das suas crenças e a bala de uma pistola
poria fim à sua vida.
No espírito de Bernardo causava a
mais amarga e desconsoladora impressão esta linguagem, que nunca supusera poder
ouvir daqueles lábios, antes aquecidos de tanta fé.
E assim, das discussões que dois
anos passados ali se tratavam com tanta fé, quando todos os do grupo vibravam
por igual nas mesmas esperanças e em igual entusiasmo, nada existia já, e a
crença que os animara amolecera, em grande parte, nos seus corações.
O Centro Fraternidade e Ateísmo
caíra também em decadência. O Marcolino, revoltado com as lutas em que ali se
haviam digladiado a pretexto da eleição da direção, só de longe em longe lá
aparecia.
O Bernardo chegava a desafogar os
seus desânimos com a mulher. Já a ouvia com melhor modo e até, por vezes,
chegava a concordar com ela. Sim, tinha talvez razão. Os pobres e sinceros como
ele, grilhetas eternos do trabalho, fariam melhor deixando-se de políticas e
não pensando em ilusões, de que só os ambiciosos se aproveitavam para subir e
medrar.
Uma noite a Isabel disse-lhe que
estranhava muito o pequeno. Via-o triste há dois dias, sem que o riso lhe
abrisse a covinha do rosto, tão graciosa que ela aproveitava para a transformar
num sacrário de beijos, e, ao contrário, chorava a miúdo, apontando para a
cabecinha, como se sentisse ali alguma dor. Perguntava-lhe muitas vezes o que
lhe doía, mas a criancinha não soubera explicar-se. Parecia-lhe melhor mandar
chamar o médico da Associação, porque receava que fosse alguma coisa de
cuidado. O Bernardo ouvia com uma sensação de pavor.
Concentrara no filhinho as
melhores ternuras do seu coração. Repugnava-lhe a ideia de o ver queixar-se sem
ter nas suas mãos meio de lhe minorar o sofrimento.
No dia seguinte, logo de manhã
correu à farmácia, a pedir que lhe mandassem o médico a sua casa. De tarde
apareceu efetivamente o Dr. Amaral, rapaz ainda bastante novo, de óculos e
barba apontada em bico, que já conquistara grande fama no bairro pelas curas
milagrosas que conseguira realizar.
Os outros médicos do sítio
acusavam-no de ser excessivamente teórico, apaixonado por tudo quanto
constituía uma novidade, exagerado até à mania pela assepsia e por todos os
modernismos, mas no fundo sabendo tão pouco que precisava andar dias e dias à
roda dum doente para chegar a conhecer o mal de que ele padecia. Apesar disso a
sua fama não cessara de crescer e era geral o coro com que os pobres lhe
abençoavam o saber e, mais ainda, a paciência e a caridade.
De tarde o Dr. Amaral veio ver o
doente. Auscultou-o cuidadosamente. Pediu à mãe, fazendo-lhe repetidas
perguntas, que lhe expusesse todos os sintomas que lhe notara, e despediu-se,
depois de escrever uma receita, dizendo que não havia de ser nada de cuidado e menos
ainda de perigo, que nas crianças qualquer incômodo se manifestava com uma
febre muito violenta, que era preciso seguir-se uma higiene muito rigorosa e
atender-se sobretudo à alimentação.
Voltaria no dia seguinte e já
esperava então poder diagnosticar a doença com segurança. E quando o Bernardo,
à saída, lhe pediu, com o olhar anuviado de lágrimas, que lhe falasse com
franqueza e lhe dissesse se podia estar tranquilo, respondeu serenamente:
— Já disse à sua mulher o que me
parece. Não sei bem ainda o que tem o pequeno, mas não lhe encontro nada que
nos dê motivo para nos assustarmos.
O Manuel passou a noite muito
inquieto. O corpo escaldava-lhe. Não havia maneira de lhe acalmar o choro. Com os
olhos muito brilhantes, fixava ansiosamente a mãe, parecendo que lhe pedia
socorro. A Isabel ameigava-o sem resultado, conchegava-o muito ao peito,
embalava-o com a maior doçura, cantando-lhe cantigas que sua mãe lhe ensinara,
quando ela era pequena, mas nada conseguia. Então o Bernardo tirava-lho dos
braços, julgando que era a mulher que não tinha jeito para o aquietar, mas
passados momentos reconhecia, aflito, a sua impotência.
No outro dia, o médico tornou a
observar atentamente a criança. Esta mostrava-se mais tranquila. Tratava-se
duma enterite. Era preciso tratá-lo só a leite. O menor abuso na alimentação
poderia ser-lhe fatal. Se houvesse cuidado, muito cuidado, a doença seria
debelada.
E, depois de estabelecer um novo
receituário, já com o chapéu na mão, recomendou à Isabel:
— Depende de si ver o pequeno, em
breve, completamente bom. Ainda que ele chore e peça qualquer coisa de comida,
nada de ter dó, nada de imprudências.
— Esteja descansado, senhor
doutor — replicou a Isabel, sentindo-se já reanimada. — Seguirei à risca os
seus conselhos.
E, logo que o médico saiu,
agarrou-se ao marido, rindo numa grande explosão de alegria e beijando-o, ao
mesmo tempo que dizia:
— Sempre apanhamos um susto! Mas
agora já estamos descansados. Deus não nos podia querer roubar o nosso filho.
Desta vez Bernardo não protestou.
Continuava a não acreditar na existência de um poder superior. As doutrinas de
ateísmo que lhe haviam inoculado no espírito ainda lá conservam as suas raízes
mais fundas, embora já não tivessem a força e a energia de outrora. Mas entrara
num período de quietação, todo dedicado à felicidade da sua mulher e do seu
filhinho.
O Manuelzinho melhorou
rapidamente. O Dr. Amaral ainda foi vê-lo mais três vezes.
Na última, considerou-o em plena convalescença,
mas aconselhou de novo que continuassem a regular-lhe com muita cautela a
comida. Podiam já dar-lhe farinhas, mas, nos oito dias mais próximos, não
passassem daí.
Na alma de Bernardo, ao
desassossego em que se debatera, sucedeu uma confiança absoluta. O pequeno
ainda se mostrava muito fraco, conservava a facezinha pálida, mas já ria muito
quando o pai tocava desesperadamente num tambor que dias antes lhe comprara e
era agora o seu maior encanto. Queixava-se muito menos das dores, a febre quase
lhe desaparecera de todo, notando-lhe apenas a mãe a pele um pouco quente, ao
morrer da tarde.
A tal ponto a tranquilidade
renascera no espírito de Bernardo, que, três dias depois da última visita do
médico, ele retomou a sua vida habitual. Acedeu até ao pedido do Marcolino para
o acompanhar ao Centro, onde era preciso que os dois fossem convencer os
diretores a não tomarem parte numa manifestação de livre pensamento promovida
por elementos suspeitos, que queriam explorar com o povo e dar-lhe provas de um
zelo e de uma dedicação que só nos tolos poderia iludir. Iriam à hora da sesta,
porque a resolução não podia ser adiada, tendo por isso a reunião da direção
sido convocada para essa tarde.
O sol estava bastante quente. Um
sol de junho, que queimava as pedras das calçadas. Seguiram a pé até ao Rossio
e aí tomaram lugares no elétrico da Graça.
No caminho para a Baixa,
acotovelando-se com uma multidão que seguia ou indolente ou azafamada, o
Marcolino foi desafogando a mágoa que o pungia.
Nunca imaginara que chegaria tão
depressa ao desânimo que o dominava, tão grande que ele próprio já não se
reconhecia. Por toda a parte esbarrava com traições às ideias por que se
sacrificara com ilimitada abnegação e fé. Os que dantes lhe pareciam tão puros
eram os que mais se salientavam agora, exigindo que se torcesse a lei e a moral
só para poderem defender os seus interesses materiais.
Parecia que se entrara numa hora
extrema e que já se ouvia o grito de "salve-se quem puder", não tendo
os mais vorazes domínio em si mesmos para adiarem a satisfação das suas
ambições. Tudo isto o desalentava e entristecia. E chegara ao ponto de
perguntar muitas vezes ao seu cérebro e à sua razão: "Para que servia
teimar mais? Para quê?"
outro ouvia-o um pouco
embrutecido, sem saber o que havia de replicar. Dantes era o verbo ardente
desse lutador modelo que lhe insuflava ilusões e esperanças. Agora, vendo-o tão
abatido, sentia-se invadir pelo mesmo esmorecimento.
Ao regressarem, Bernardo
mostrava-se satisfeito. Convidou o Marcolino a jantar com ele. A Isabel não
pudera esperar, tanto tinha tido de trabalhar por ter atrasado muito os
engomados nos últimos dias, e comera à pressa, enquanto os ferros aqueciam. Mal
os viu chegar, pôs-lhes a sopa na mesa, uma sopa apurada e apetitosa de grão e
arroz, e voltou de novo para o trabalho.
Os dois amigos trocavam
impressões sobre o que se passara no Centro. Fora bom terem lá ido, porque
assim se haviam desvanecido equívocos que os traziam desanimados há muito tempo.
O Manuelzinho soltara-se das saias da mãe e viera para ao pé da mesa, apontando
muito guloso para o prato do pai, numa intensa expressão de desejo. O Bernardo
achou-lhe muita graça, e, pegando mesmo com os dedos num grão, meteu-lho na
boca, que se estendia para ele sofregamente.
O pequeno riu-se como um perdido
e, estendendo de novo o dedinho, pediu mais.
Repetidas vezes o pai lhe
satisfez o desejo, até que o Marcolino lhe disse:
— Vê lá não lhe faça mal.
— Não faz. Não vês que ele já
está fixe?
A Isabel, quando lho contaram,
teve um pressentimento terrível. E, quase a meia voz, murmurou estas palavras:
— Fizeste mal, homem. O médico
tinha recomendado tanto que tivéssemos cuidado!
O Bernardo, já arrependido do que
fizera e querendo combater o seu remorso, replicou de mau humor:
— Não estejas para aí com
escarcéus só para me ralar. Não há de haver novidade.
Mas logo nessa noite a criança
voltou a ter um dormir inquieto e agitado. A febre aumentou desabaladamente e
não havia água que lhe refrescasse os beiços muito secos.
De manhã estava como amodorrado, quase insensível
e mal podendo abrir os olhitos.
O Bernardo, mais assustado do que
nunca, e no íntimo revoltado com a sua estupidez, não quis perder tempo e
dirigiu-se diretamente a casa do Dr. Amaral, suplicando-lhe que fosse ver o
filho sem demora. Quando o médico soube o que sucedera, não se conteve sem
dizer:
— Que imprudência, que
imprudência! Vamos ver o que é possível fazer-se.
No dia imediato não se notaram
melhoras nenhumas. O doente continuava muito prostrado, e a febre inclemente
parecia abrasar aquele corpinho tão tenro, que um nada poderia aniquilar para
sempre.
O médico veio muito cedo.
Observou-o com o olhar de uma grande penetração, fez-lhe um exame demorado,
prescreveu-lhe um tratamento muito complicado e rigoroso, ordenando que lhe
dessem repetidos banhos a uma temperatura abaixo do normal. No fim de cada um
deles, o Manuelzinho ficava muito fresco e animado. Por vezes mesmo aflorava
aos seus lábios um leve sorriso, mas, daí a pouco, voltava a ideia de que
estava todo em chamas por dentro, de tal modo irradiava calor.
Nessa noite, o Dr. Amaral
mostrou-se mais apreensivo. Analisou-lhe longamente a língua, palpou-lhe o
ventre com uma pressão muito forte, fazendo chorar estridentemente a criança.
Depois escreveu uma nova receita e disse:
— O pequeno não está bem, mas não
devemos desesperar de o salvar.
Ao outro dia de manhã, as
melhoras pareciam sensíveis. O quebramento de forças não era tão pronunciado,
mas o doente continuava a pedir água com uma viva ansiedade. De tarde voltou a
febre, com mais intensidade do que nunca. O olhar do Manuelzinho vagueava, sem
se fixar em ponto nenhum. A Isabel chorava aflitivamente, dizendo-lhe o seu
coração de mãe que ia perder o ente querido do seu amor. O Bernardo fitava-a,
embrutecido na sua dor e desesperado por ter de ir à Baixa fazer uns pagamentos
que não podia adiar.
Pouco depois dele ter saído, a
criança sentiu-se mais aflita. Parecia às vezes que nem podia respirar. A mãe
tinha-o no colo e debalde procurava aquietá-lo. Sem saber o que fazer e
percebendo que o perigo era eminente, mandou à rapariga que a ajudava nos
trabalhos de engomadeira que fosse a correr chamar o médico. Este estava na
farmácia quase ao lado e acudiu com pequeníssima demora.
Tinha acabado de ver o doente há
poucos minutos, quando o Bernardo regressou. Ao ver a mulher, sem poder suster
as lágrimas, fitou-a angustiosamente durante um segundo, mudo e terrível como a
sua angústia. Por fim perguntou-lhe, balbuciando tremulamente as palavras, com
medo de ouvir a resposta:
— O médico já cá esteve? O que é
que ele disse?
— Achou o pequeno muito mal.
Tenho a certeza, Bernardo, que vamos perder o nosso filho.
— Não digas isso, que enlouqueço.
Ele há bocado ainda parecia tão sossegadinho!
— Sim. Mas o Dr. Amaral, quando
saiu, preveniu-me, com um ar muito triste, que já nada tinha a fazer aqui, porque
só um milagre poderia salvar o menino.
— Um milagre!
— Só Deus o pode fazer. Porque
não lhe pedes tu que não nos roube o nosso Manuelzinho, que é a luz da nossa
alma?!
— Mas eu não sei rezar. Eu nunca
acreditei em Deus!
E Bernardo inclinou-se para o
colo da Isabel, onde o pequenino estava reclinado e parecia adormecido.
Sentiu-lhe a respiração opressa, viu-lhe a facezinha de cera, e teve a
impressão de que aqueles olhos, que tanta vez beijara, já não tinham luz.
Ela insistiu, de novo:
— Deus é bom, ouve-nos sempre nas
nossas aflições e tem piedade pelas nossas dores. Até mesmo por tu seres um
herege é que o teu arrependimento o há de comover. Queres ter o remorso de que
o nosso filho morra por tua culpa?
Bernardo fixou-a então numa
expressão de loucura. No seu íntimo travava-se uma luta desesperada. Hesitou
ainda alguns instantes. Depois, como que automaticamente, foi ao pequeno baú
onde guardava o uniforme militar, tirou de lá o Cristo de metal que sua mãe lhe
colocara ao pescoço e em que ela tinha tanta devoção, pousou-o com respeito
sobre a cama e ajoelhou, fazendo esforços desesperados para se recordar do
padre-nosso, ao mesmo tempo que os olhos se banhavam num choro irreprimível e
amargo.
Nessa ocasião entrou o Marcolino.
No primeiro momento ficou estativo, sem poder compreender o espetáculo que
presenciava. Mas viu o seu velho companheiro de lutas naquela atitude,
ouvia-lhe a prece, formulada em palavras quase sem ligação, e em que o Bernardo
implorava ao Senhor que conservasse a vida do entezinho a que prendera
completamente as exaltações, e, com uma dorida mágoa, exclamou:
— Também tu renegas os nossos
princípios? Para que lutar mais? Para quê?
O outro conservava-se ajoelhado,
e foi numa voz cortada de soluços e quase incompreensível para os seus próprios
ouvidos que lhe replicou:
— O médico disse que só Deus mo
podia salvar. Já não tenho a esperar nada da Terra. Se tivesses um filho,
havias de perceber o que eu faço!
Marcolino não respondeu uma
palavra. Mas os olhos encheram-se-lhe, pela primeira vez, de lágrimas muito
ternas e comovidas.
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Texto publicado da edição de: bibliotronicaportuguesa.pt
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