As
competências
—
Vossa excelência deseja?...
—
Um compêndio de geografia.
O
caixeiro afastou se, voltando passados dois minutos com um grosso volume na
mão.
—
É o que há de melhor...
—
Perdão; o que eu desejo não é um tratado, é um compêndio.
—
Perfeitamente; é para um estudante do liceu...
E
afastou-se novamente.
Foi
quando entrou o comendador Casquinhas, muito fragalhoteiro, com uma grande camélia
branca na boutonnière da sobrecasaca preta.
—
Ó senhor conselheiro! Os meus parabéns...
—
Obrigado, comendador, obrigado. A política partidária tem exigências que
obrigam, e, acima das comodidades pessoais, está o serviço da Pátria, o bem do
país.
—
Sem dúvida, e eu compreendo muito bem que vossa excelência não desejasse entrar
no ministério, sobretudo para uma pasta que ainda não geriu...
—
É certo que não desejava entrar, mas não pelo motivo que disse. Sempre fui
apaixonado pelos estudos coloniais e tenho dedicado uma particularíssima
atenção a tudo que diz respeito à Marinha. Fui um grande estudante de Geografia,
em cujo exame fiquei distinto. Andava então a abrir-se o canal de... na América...
o canal de Suez.
—
Vossa excelência quer dizer o canal do Panamá?
—
Não, o canal de Suez. Tenciono passar por lá, no verão próximo. Está no meu
programa uma viagem às colônias.
—
A todas?
—
Não, apenas às da Costa Oriental da África. Preciso informar-me do que valem
Macau e Timor. Tenho um plano de administração colonial...
—
Mas Timor e Macau...
—
Bem sei, ficam um bocadito distantes de Angola, que é o objetivo principal da
minha viagem; mas como tenciono visitar os Açores, o desvio não será grande.
O
comendador ia desmaiar quando o caixeiro voltou, com um livrinho na mão.
—
Quanto é?...
—
Meio tostão, Sr. conselheiro.
---
Pesquisa, transcrição e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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