Amor
de velhos
Sua
Majestade, o Rei Leopoldo,
da Bélgica, esteve ontem em Paris,
incógnito, e com pouca demora.
da Bélgica, esteve ontem em Paris,
incógnito, e com pouca demora.
(Dos jornais)
—
Bonjour, petite chatte...
—
Bonjour, petit chien...
E
era uma cena doida de beijos, ele muito alto, muito magro, agarrando a pela
cintura, como um avaro segurando o seu tesouro, e ela deitando-lhe os braços ao
pescoço, os cabelos douro caindo-lhe pelas costas, e os lábios muito vermelhos,
alongando-se numa momice, sussurrando umas palavras doces, que ele adivinhava
mas não ouvia.
—
Petite chate!...
—
Petit chien!...
Pela
Avenida, cruzando-se em todas as direções, milhares de carruagens
passam, e em muitas delas vão as damas do grande mundo, ao lado dos amantes e
dos maridos, envolvidas em peles caras, ricas de joias ou ricas de beleza,
frutos de carne amadurecidos no ar daquela enorme estufa, propicia à florescência
dos mais belos vícios. Paris é lindo quando o inverno é áspero, e um grande
lençol de neve, esburacado pelas torres e chaminés, se estende por sobre a
cidade, cobrindo-a de um extremo a outro.
—
Minha adorada Cléo!
—
Meu adorado Leopoldo!
E
assim ficavam horas e horas, à janela, por detrás dos vidros cerrados, ele
agarrando-a pela cintura, ela estendendo-lhe os braços ao pescoço, muito
chegados, muito unidos, vendo as carruagens que passavam, cruzando-se em todas
as direções na imensa e linda Avenida. Ao cabo, muito aconchegados, muito
unidos, deixavam-se cair no sofá, junto à janela, ela a estender os lábios
vermelhos numa momice de criança dócil, e ele a adorá-la, num culto de devoção
ardente.
—
Petite chate!...
—
Petit chien!...
E
quando o sol se escondia, por trás do Monte Valeriano, descia ele a escada daquele
entressol luxuoso, limpando os bigodes brancos, muito alto, muito magro,
rei mais que todos reinadio, e ia ela encostar-se à janela, de vidros cerrados,
os cabelos de ouro caindo-lhe pelas costas, os lábios já sem cor retraindo-se
sem graça, a ver os últimos carros que passam pela Avenida, cruzando-se em
todas as direções.
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Pesquisa, transcrição e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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