O
monopólio concedido aos negociantes de Lisboa em 1680 excitou o maior
descontentamento entre os maranhenses. Os paraenses, pela sua parte,
sentindo-se também lesados nos seus interesses gerais e particulares, fizeram
uma representação às cortes de Lisboa. Porém os maranhenses, menos sofredores,
formaram e executaram um projeto de sublevação. Manuel Beckman, homem valente e
destemido, foi o chefe dos insurgentes.
Nas
torres das igrejas da cidade de São Luís de Maranhão dava meia-noite; as ruas
estavam silenciosas, uma só patrulha não se via nelas. O dia tinha sido
abrasador, porém uma branda viração, depois que o sol entrou, veio mitigar o
calor do dia. Aqui e ali abriam-se algumas janelas; mas as pessoas que as
abriam, ou fosse receio de se constiparem, ou por outro qualquer motivo, depois
de olharem cuidadosamente para um e outro lado da rua, as fechavam com
precaução, e ainda depois de fechadas, escutavam com os ouvidos encostados nas
tábuas se algum rumor perturbava o silêncio da noite.
Um
homem que passeasse a estas horas podia conhecer, ainda que com dificuldade,
que este silêncio da cidade era aparente. Do interior das casas ouvia-se às
vezes um rumor surdo e um tinido de armas, e distinguia-se o som claro causado
pelas varetas dos canos das espingardas; porém nunca se ouvia mais que uma
pancada; sinal este que denotava precaução e receio de descoberta no manejo
desta arma.
Em
uma sala de uma das principais casas da cidade estavam vinte pessoas sentadas
ao redor de uma grande mesa. Todas as janelas estavam fechadas; duas candeias
nas extremidades da mesa alumiavam uma cena verdadeiramente sublime. Sobre a
mesa estavam dispersas diferentes armas; um crucifixo, tendo a seus pés um
missal, levantava-se no meio de todas estas armas de destruição: podia-se ler
nos semblantes das diferentes pessoas que aí estavam que uma ideia fixa os
preocupava, e que aí se debatia uma questão de vida ou de morte. À cabeceira da
mesa, cercado de alguns papéis, estava o valente Beckman, tendo a seu lado três
dos principais chefes da insurreição, depois dele. À sua direita, via-se
Eugênio Ribeiro e Jorge de Sampaio, e à sua esquerda o hercúlio Manuel Serrão,
homem capaz de abater um touro com um murro; seguiam-se depois os outros
insurgentes.
–
Maranhenses! diz Beckman, levantando-se, chegou o momento de mostrarmos a
Portugal e ao Mundo inteiro que os Brasileiros sabem defender os seus direitos!
Há quatro anos que El-Rei D. Pedro II concedeu aos negociantes de Lisboa o
privilégio exclusivo de comerciarem com o Pará e Maranhão; há quatro anos que
sofremos! Os paraenses fizeram uma representação às cortes; ela foi desprezada!
A nossa também seria se a fizéssemos; assim, façamo-la com as armas na mão;
aonde não chega o clamor da justiça, chega o da revolta!...
Maranhenses!
Às armas!
–
Às armas!! às armas!!! gritam todos, levantando-se.
–
Eu me congratulo convosco, continua Beckman, depois de ter imposto silêncio,
por ver o nobre ardor que anima os vossos peitos; porém, ouvi-me com atenção,
para que as outras nações não digam que os maranhenses revoltaram-se como um
bando de salteadores! Não! esta ignomínia não cairá sobre nós! Os maranhenses e
todos os mais brasileiros defendem os seus direitos; mas não são salteadores!!...
E sofrereis que este epíteto caia sobre nós?!...
–
Não! não! não!! respondem todos tumultuosamente.
–
Pois bem. Ouvi-me. Eis o nosso plano. O capitão-mor Baltazar Fernandes será
preso depois de atacarmos o palácio e dispersarmos a sua fraca guarda. Esta
tarefa pertence ao valente Serrão. E vós, senhor, continua Beckman voltando-se
para Serrão, respondereis pela vida de Baltazar, e vigiareis para que não lhe
seja feito mal algum. A Jorge de Sampaio e a Eugênio Ribeiro pertence o ataque
do aquartelamento dos soldados portugueses; e a mim pertence o ataque do
palácio do governador Telo de Menezes. Se nosso plano tiver bom êxito,
convocar-se-á uma junta para depor o governador e o capitão-mor, para abolir o
monopólio e expulsar os jesuítas. Merece este plano a vossa aprovação?!
–
Sim! sim! merece!
–
Eu contava convosco, não me enganei! Armemos-nos!!
Todos
os conspiradores armaram-se com as diferentes armas espalhadas por cima da
mesa. Serrão armou-se de uma forte trave que pesava, pelo menos, uma arroba.
–
Agora juremos pelo Cristo que nos ouve, diz Beckman, de sermos fiel à causa que
defendemos. Repitam comigo. Eu juro (continua ele, estendendo a mão sobre o
missal, sendo acompanhado por todos nesta ação e palavras), eu juro combater,
até a última gota de meu sangue, para defendermos os nossos direitos; e arda eu
por toda a eternidade no inferno se for falso ao meu juramento!! Os nossos
direitos, ou a morte!!!
Beckman, depois de fazer o juramento, abre uma janela e diz para os seus companheiros: – Eis o sinal da revolta!! Ele estende o braço fora da janela e dispara uma pistola de forte adarme.
Um
grito unânime respondeu a este sinal:
–
Às armas! às armas! às armas!!
Beckman,
seguido de seus companheiros, sai para se reunir aos outros insurgentes.
***
Beckman,
com o seu gênio infatigável, tinha arranjado a sublevação de modo que ela
arrebentasse a um sinal dado: este sinal foi o tiro de pistola.
Repentinamente
grande número de portas se abriram, e uma multidão de gente armada saiu por
elas.
O
silêncio da cidade tornou-se em um motim estrondoso: os sublevados armados, uns
de espingardas, outros de pistolas, espadas, enfim, de tudo quanto servia de
arma ofensiva, corriam atropeladamente para se reunirem a um ponto marcado pelo
chefe. Eles já não ocultavam os seus intentos; do meio da multidão ouviam-se
continuados gritos de – Abaixo o governador!... Morram os jesuítas!... Abaixo o
monopólio!!
Beckman
e os seus companheiros dirigiram-se para o lugar da reunião, e lá já acharam
grande número de insurgentes: – Viva o nosso chefe! viva!! gritaram todos assim
que o avistaram.
Beckman
atravessa apressadamente por meio deles, e sobe para uma pequena eminência; e
aí vê que ninguém faltou ao juramento. O campo estava atulhado de povo, e ainda
chegava mais de todos os lados. – Maranhenses! exclama Beckman estendendo o
braço para pedir silêncio: – Maranhenses! Chegou o momento de nos vingarmos da
afronta que se nos têm feito; porém sejamos humanos. Nós devemos vencer com um
braço e socorrer o inimigo com o outro! Se o governo português tomasse em
consideração os nossos clamores, nós seríamos submissos; mas ele nos trata como
desprezíveis colonos e os nossos vexames só servem de escárnio para ele!! Maranhenses!
Eu já vejo a agitação em que estais; os vossos peitos já não podem conter tanta
indignação, e o vosso ardor já suspira pelo momento do combate,
este ardor é louvável, eu o partilho convosco. Maranhenses! Eis o nosso grito
de guerra: – Os nossos direitos, ou a morte!!
–
Os nossos direitos, ou a morte!!! repetem todos.
Beckman
desce do lugar onde estava e divide os insurgentes em três divisões; a primeira
ele entrega ao comando de Serrão; a segunda ao de Sampaio e Ribeiro; e a
terceira, que era composta da melhor gente por ter de assaltar o palácio do
governador, fica debaixo de seu comando. Cada uma das divisões segue para seu
lado.
O
governador-general dormia com grande quietação, quando um criado entrando
apressadamente e com o terror pintado no semblante, acorda-o dizendo:
–
Senhor! Senhor! Levantai-vos, nós estamos perdidos!
D.
Telo acorda sobressaltado, assenta-se na cama, e manda ao criado que se explique.
–
Eu dormia, diz o criado todo trêmulo, quando uma vozeria me fez acordar
espantado; levanto-me, abro a janela, e vejo uma multidão correndo pela rua, e
dando gritos de morra o governador!! O capitão da vossa guarda já estava
acordado e tinha todos os soldados formados no pátio; a porta da rua ele tinha
fechado temendo alguma invasão no palácio que não pudesse obstar com os poucos
soldados que estão às suas ordens. O povo continua a correr e gritar!!... e
nós estamos perdidos!
D.
Telo veste-se apressadamente e manda chamar o capitão: este chega e confirma a
notícia dada pelo criado. D. Telo ordena-lhe que conserve a porta fechada, e
que poste soldados em todas as janelas. Esta ordem foi executada; e todos no
palácio esperavam ansiosos o fim destes preparativos.
Uma
hora se passou sem aparecer sinais de hostilidades; porém no fim de algum tempo
ouve-se um rumor como o das vagas de um mar distante; pouco a pouco foi
crescendo até que se tornou em um verdadeiro tumulto. Os insurgentes
capitaneados por Beckman desembocaram na rua do palácio e em poucos minutos
estavam todos defronte dele. Um silêncio de morte parecia reinar no interior do
palácio e os mesmos insurgentes ficaram por alguns instantes silenciosos. Uma
janela do palácio se abriu e D. Telo, com todas as suas insígnias de
governador-general, apareceu: todos os rostos voltaram-se para ele.
–
Que delírio é o vosso, maranhenses! diz o governador: Vós vos levantais contra
a autoridade legal, e não sabeis... aqui foi ele interrompido pelos gritos de –
Abaixo o governador!! Do meio da multidão dispararam, e a bala foi bater na
ombreira da janela onde ele estava.
O
governador retira-se apressadamente, e fecha a janela; neste mesmo instante
todas as outras abrem-se, e um chuveiro de balas vem espalhar a morte entre os
sublevados.
Beckman
toma um machado de um dos que estavam a seu lado, e avança intrepidamente para
a porta.
Os
soldados continuaram a fazer fogo, porém a porta cedeu depressa aos repetidos
golpes de machado dados por Beckman e seus companheiros. Os soldados ainda
fizeram alguma resistência, mas o número os abafou.
D.
Telo, conhecendo que toda a defesa era inútil, esperou os sublevados com
dignidade; e quando estes entraram na sala em que ele estava, dirigindo-se a
Beckman, que vinha à sua frente, disse:
–
Vós vindes assassinar um fraco velho, eu me entrego nas vossas mãos; saciai o
vosso furor!
–
D. Telo, replica Beckman, nós não somos assassinos, a nossa missão não é de
sangue, nós defendemos os nossos direitos, vós sereis respeitado, Lázaro de
Melo com mais quarenta homens vigiarão sobre vós, e nenhum mal se aproximará de
D. Telo de Menezes.
Beckman
deixa no palácio Lázaro de Melo, seu pupilo, com uma forte guarda, e dirige-se
com o resto dos companheiros para proteger a operação dos outros chefes, no
caso de necessidade.
Ribeiro
e Sampaio, ainda que com alguma dificuldade, assenhorearam-se do aquartelamento
dos soldados.
Serrão
encontra resistência antes de poder apoderar-se do capitão-mor: depois de ter
arrombado a porta da casa, debaixo das pedras, cômodas, leitos que lançaram das
janelas, sobe ele e seus companheiros, penetram no corredor; porém aí encontrou
ele o colossal Nóbrega, amigo do capitão-mor, e um criado. Logo que o criado
avistou Serrão, disparou sobre ele uma pistola, a bala passou entre a sua
orelha e a cabeça, deixando um rastilho de sangue. Serrão ficou atordoado por
um instante, e Nóbrega, querendo aproveitar a ocasião, caminha para ele com a
espada levantada; porém aquele, recobrando alento, recua três passos e,
levantando a trave, descarrega-a sobre a cabeça de Nóbrega e a faz em pedaços.
O colosso caiu sem vida.
O
capitão-mor ainda resistiu algum tempo; porém, desejando salvar a vida,
entregou-se discrição.
Quando
Beckman chegou a falar com os três diferentes chefes, já tudo estava concluído.
***
A
rebelião foi tão bem organizada que o governador só teve notícia dela quando o
povo, rompendo os diques da paciência, soltou o grito. Nós vimos nos capítulos
antecedentes a sua marcha e o seu feliz êxito.
Logo
que os chefes da rebelião puderam acalmar o povo exaltado pela sua vitória,
convocaram uma junta dos três estados para reger o Maranhão.
Beckman
sabia muito bem que o Maranhão não podia por muito tempo conservar-se
independente. Uma grande parte da população era nascida em Portugal e esta
havia, sem dúvida, de pugnar pelos interesses de sua pátria; se eles protegeram
a rebelião foi porque o governo português feriu seus interesses particulares,
concedendo privilégios aos negociantes de Lisboa, e ele também sabia que ao
menor sinal de revés ficariam abandonados; o que em pouco tempo se realizou. A
outra parte da população era composta de filhos do país descendentes de
europeus; e de indígenas: os primeiros eram pouco numerosos, e os segundos só
serviam de instrumento para uma revolução, e não para sustentar um governo
qualquer.
Beckman
via tudo isto; porém, esperava que a nova da rebelião havia de causar grande
sensação em Lisboa, que o governo, conhecendo o espírito hostil dos
maranhenses, melhoraria a sua sorte. O governo português ou havia de ceder à
petição dos maranhenses, apresentada por seus emissários, ou havia de mandar um
novo governador com novas tropas para abafar a revolta. No primeiro caso
estavam as esperanças dos maranhenses realizadas, pois o monopólio e os
jesuítas não pesariam mais sobre eles; no segundo, Beckman esperava que seria
uma medida intempestiva, pois os maranhenses haviam de pugnar por seus direitos
até a sua última gota de sangue, pois esta medida feriria os seus interesses
gerais e particulares, e que esta oposição ensinaria ao governo português a ser
mais prudente. Sampaio, Ribeiro, Serrão, ele e outros mais foram nomeados membros
da junta provisória.
Três
meses se passaram sem a maior novidade, a não ser o que alguém já tinha
previsto, isto é, a deserção de muitos dos levantados. O governador e o
capitão-mor estiveram presos todo este tempo, porém foram tratados com humanidade.
Os jesuítas refugiaram-se nas províncias vizinhas.
***
Em
uma sala de mesquinha aparência, sentada em uma cadeira de assento de couro e
encosto alto, guarnecido de cabeças de prego dourado, uma bela rapariga lia o
catecismo: repetidas distrações a desviavam de sua leitura; e, depois de um
quarto de hora, ela tinha voltado a mesma folha seis vezes para poder
compreender o que lia, tal era a sua preocupação. Leonor, assim se chamava ela,
fecha o livro com impaciência e vai para janela; assim que aí chegou, seus
olhos brilharam de prazer, o sangue subiu às suas faces, e pronunciou com
prazer estas palavras: – Enfim!
Leonor
esperava seu amante Lázaro de Mello; ela corre para abrir a porta, e Lázaro se
precipita em seus braços.
–
Minha Leonor!
–
Meu Lázaro! Oh! que saudades me tens causado! Já te não lembras de mim, não é
assim, ingrato?
–
Esquecer-me de ti! Isto é impossível. Beckman, meu tutor e padrinho, reteve-me
todo este tempo junto a si, para ajudá-lo a escrever diferentes papéis que
dizem respeito à junta provisória. Eis, meu amor, o motivo de minha ausência.
Tu me desculpas, não é verdade?
–
Tu bem sabes que eu sempre te perdoo. Assentemo-nos, tu deves estar cansado.
–
Ah! Leonor, se pudesse estar sempre junto de ti! Viver só para ti! Então eu
seria feliz!
–
Lázaro, se nisto consiste a tua felicidade, e se tu não és feliz, é porque não
o queres.
É
verdade que eu sou filha de um cuteleiro e tu és cavalheiro; porém eu sou filha
única, e meu pai tem sabido ajuntar uma boa fortuna; muitas pessoas desejam a
posse de minha mão; mas eu os desengano, porque só a ti amo. De que te serve,
Lázaro, a tua nobreza sem dinheiro? tu és órfão: Beckman tem sido o teu
benfeitor, ele também tem família, e tempo virá que tu lhe serás pesado.....
mas que digo eu! Insensata! Lázaro, não me desprezes pelo que eu te digo! Eu
não te quero comprar com a minha fortuna, oh! Não! Não era este o meu
pensamento! Eu te amo, e então tudo quanto eu julgo capaz de te ligar a mim eu
ponho em prática! Ah! Perdoa!
–
Leonor, se dependesse só de mim o ser o teu esposo, há muito que o seria, porém
uma vontade superior à minha a isto se opõe; e esta vontade, continua Lázaro
com furor, e esta vontade é de Beckman! A política tem secado o seu coração!
Ele não se compadece dos tormentos que eu sofro longe de ti, e não pensa senão
na junta!... E que me importa a junta, que me importa a independência do
Maranhão sem Leonor!!
–
Egoísta! replica Leonor. Tu não te importas com os interesses da tua pátria?!
Lázaro, eu não esperava estas expressões de tua boca; se queres que eu te
continue a amar, ame também a nossa pátria; eu nasci no Maranhão, e no meu
peito bate um coração brasileiro.
–
Minha Leonor; perdoa os delírios de minha imaginação!... Eu vou-me lançar aos
pés de Beckman: se ele for humano me há de ouvir. Adeus, eu vou ouvir minha
sentença, porém, se ele me não ouvir! Que trema!! A minha ving..... Adeus!
Adeus, Leonor!
Lázaro
sai precipitadamente, deixa Leonor assustada com seu arrebatamento e
encaminha-se para a casa de seu tutor. Beckman estava sentado à mesma mesa onde
o vimos pela primeira vez; diferentes papéis o rodeavam, e ele, cansado de
escrever, cruzou as mãos sobre o peito e lançava um olhar vago por todos estes
papéis amontoados diante de si.
–
Há apenas três meses, dizia ele com melancolia, que o povo corria entusiasmado
pelas ruas desta cidade para abolir o infame monopólio, e em tão pouco tempo já
este não se lembra nem de sua bela vitória, nem do desprezo ignóbil com que era
tratado!... O povo!... o povo!! desgraçado de quem se fia na popularidade! Hoje
panegirista de um governo levantado por suas próprias mãos, amanhã ele o
calcará na lama, e levantará sobre a sua ruína um novo governo! Um homem
pertinaz com uma ideia nova é tudo quanto basta para levá-lo atrás de si e
fazer uma revolução, arriscando-se, é verdade, a ser vilipendiado ao depois por
aqueles mesmos que mais o favoreciam... Arlequim!... Trabalhemos ainda alguns
instantes, amanhã é dia de Junta.
Beckman
puxa os papéis para junto de si e, quando os principia a ler, entra Lázaro.
–
Senhor! diz este entrando.
–
Que pretendes?
–
Eu vos venho pedir uma graça.
–
Se estiver em minhas mãos servir-vos, podes contar com ela.
–
Eu amo a Leonor, e...
–
É escusado continuares; por muitas vezes já vos tenho dito, que não consentirei
em semelhante casamento.
–
Ouvi-me, Senhor! diz Lázaro com a voz trêmula de raiva: ouvi-me!
–
Lázaro, responde Beckman com brandura; eu desejo a tua felicidade, não o
duvides! Pede-me outra qualquer coisa, e serás servido; porém esta não! Eu não
faltarei ao meu juramento... Ouvi-me. Quando teu pai morreu tinhas apenas dois
anos: no leito de morte, ele me disse estas palavras: “Meu amigo, a ti confio o
meu tenro filho, tu o levastes à pia do batismo, tu serás o seu pai; e eu exijo
de ti o juramento de não dares o teu consentimento para que meu filho se case,
no caso de o querer, antes que tenha completado os 25 anos; e isto por motivos
que eu levarei ao túmulo comigo”. Eu fiz o juramento que teu pai exigiu de mim;
eu te tenho criado com a mesma afeição que as minhas duas filhas. Teu pai te
deixou pobre, e eu te tenho feito uma posição no mundo; por pedido meu fostes
nomeado capitão de um regimento; e eu farei tudo quanto for possível para tua
felicidade, pois eu te amo como o meu próprio filho. Uma só coisa te tenho eu
negado, e te negarei até que tenhas completado os teus 25 anos, o consentimento
para o teu casamento.
–
Este podia ser o parecer do meu pai; porém eu penso de outro modo.
–
Mancebo; já vos disse que isto me é impossível.
–
Senhor!!
–
Torno-te a repetir: não pode ser.
–
Oh! isto é muito!! E que me importa o vosso consentimento?! Eu passarei sem
ele.
–
Eu te irei arrancar do lado de tua amada, e mostrarei o meu direito.
–
Direitos de um déspota! Oh! Os maranhenses foram felizes na troca!
–
Lázaro de Melo! responde Beckman levantando-se com arrebatamento: Mede as tuas
palavras, e não confundas os interesses sagrados da pátria com as tuas paixões
particulares, aliás...
–
Eu não vos temo! diz Lázaro fora de si: eu não vos temo!... Respondei-me pela
última vez: ainda persistes em usares do direito que tendes sobre mim?
–
Ainda!
–
Adeus! Beckman! Neste momento esqueço-me de todas as obrigações que te devo!
Ah! Tremei!
–
Tu me ameaças?!
–
Beckman, lembra-te do dia de hoje!!
Lázaro
sai como um furioso da sala.
Beckman,
depois de ficar algum tempo pensativo, assenta-se e diz sossegadamente:
–
Mocidade, mocidade.
***
A
nova da rebelião dos maranhenses causou grande inquietação em Lisboa.
Receava-se que os franceses, tendo-se estabelecido em Caiena, quisessem renovar
a tentativa de fundar uma colônia nas margens do Orelhana, renovando as suas
pretensões sobre o Maranhão. Nesta crítica conjectura, resolveu el-rei mandar
um novo governador, homem de talento, probidade e reconhecido talento. Gomes
Freire de Andrade, que possuía todos estes requisitos, foi escolhido para o
importante cargo. Depois de se ver contrariado por mil intrigas, conseguiu por
fim plenos poderes de el-rei D. Pedro II; partiu a bordo da nau Conceição e a
15 de maio chegou
à barra de Maranhão, onde ancorou. Beckman e seus sócios mandaram a bordo um
ajudante para saber se era o novo governador ou um navio do pirata D. João de
Lima. Gomes Freire o acolheu bem e manifestou as disposições mais favoráveis
aos habitantes: disse que em Lisboa tinha conferido com Tomás Beckman, irmão do
chefe dos levantados, o que fez crer aos sublevados que nada tinham a recear. O
governador, aproveitando a ocasião, pediu ao oficial que levasse para terra
duas pessoas que tinham sofrido muito durante a viagem, e a quem o ar da terra
seria muito útil para restabelecer a saúde, o que foi atendido. Embarcou-se
pois Francisco Teixeira de Moraes e Francisco da Mota Falcão. Este voltou a
bordo e informou Gomes Freire que não havia na cidade preparativos de defesa, e
que os habitantes estavam inteiramente confiantes no resultado das
representações de seus procuradores de Lisboa. Mas Beckman, tendo resolvido
excitar o povo e opor-se ao desembarque do governador, fez partir o procurador,
o secretário e a junta para irem a bordo cumprimentar Gomes Freire,
mostrando-se disposto a reconhecer a sua autoridade, mas persuadindo-lhe que
quisesse demorar o seu desembarque até o dia seguinte, para dar tempo aos
aprestos de o receberem dignamente; mas ele, descobrindo facilmente o ardil,
disse-lhes que ia publicar uma anistia geral e que desembarcaria na maré
imediata; e logo expediu dois oficiais com cinquenta soldados que se apoderaram
do forte sem resistência. Beckman e alguns de seus sócios fugiram para o
interior.
***
Uma
tropa de 200 a 250 homens marchava silenciosamente por um pequeno e agreste
atalho; não se ouvia senão a bulha dos pés dos homens nas folhas secas que
cobriam o caminho, e o sussurro do vento entre as folhas das árvores. Já tinha
dado meia-noite, uma escuridão completa cobria a terra; porém, o chefe da tropa
a dirigia com segurança e sem hesitar, por entre o intrincado bosque e a
escuridão da noite. Por espaço de uma hora marchou a tropa sem que se ouvisse a
voz de um só homem; o chefe ia adiante, os outros seguiam um após o outro, por
não o permitir mais a natureza do caminho. Iam sair do bosque para entrar em um campo, quando a voz do chefe deu a ordem de fazer
alto; todos pararam, e ele dirigindo-se à tropa em voz baixa:
–
Meus companheiros, nós temos marchado até aqui sem que tenhamos sido percebidos
por pessoa alguma; porém, até agora o bosque protegeu a nossa marcha; o mesmo
não acontecerá quando atravessarmos o campo que está diante de nós; assim,
atravessemo-lo com prudência. Curvemo-nos até o chão, e sigam todos o meu
exemplo.
Ele
bota as mãos no chão e, seguido de todos os outros, principia a atravessar o
campo. Quem pudesse ver de uma certa distância todos estes homens andando a
quatro pés havia de supor que era uma manada de carneiros que a noite tinha
surpreendido no bosque. Eles tinham dado 20 a 30 passos, quando uma bulha de um
dos lados do campo os fez deitar com a barriga sobre a terra. Um quarto de hora
permaneceram nesta posição e, como não ouviram bulha de novo, o chefe deu ordem
de continuarem a marcha. Nada mais os interrompeu até chegaram ao outro lado do
campo.
O
campo neste lugar se estreitava; à esquerda, corria um rio bastante impetuoso,
e à direita um bosque que se estendia até as portas da cidade. Do outro lado do
rio, havia também um outro bosque, que o acompanhava em todas as suas
sinuosidades, ficando apenas um pequeno caminho entre o rio e o bosque à
direita.
Logo
que chegaram ao princípio desse caminho, Beckman (pois já é tempo de dizer o
seu nome), depois de se ter levantado, olhou com atenção para todas as pessoas,
como procurando alguém; porém, depois de procurar inutilmente quem ele
desejava, voltou-se para o Serrão e diz: – Onde está Lázaro?
–
Ele marchava na retaguarda, responde este.
–
Mas eu não o vejo! Onde estará?!
–
Há muito tempo que eu vos tenho dito que desconfio deste Lázaro; porém vós não
me tendes querido dar atenção.
–
Lázaro é meu afilhado, e não me trairá.
–
Ele vos ameaçou, segundo me dissestes, em uma entrevista que teve convosco a
respeito de um casamento; e isto já não dá muito boa ideia dele. Ameaçar o seu
benfeitor!!...
Oh!
Isto é infame!...
–
Mocidade! Mocidade!
–
Queira Deus, replica Serrão, que essa vossa incredulidade não custe a nossa
ruína!...
Enfim,
marchemos.
A
tropa entrou no caminho e principiou a marchar, tendo de um lado o rio, e do
outro o bosque. Por meia hora nada a interrompeu; Beckman e seus companheiros
já esperavam penetrar na cidade com facilidade, surpreenderem a guarda do
governador, matar a este e, no meio do tumulto ocasionado por este
acontecimento, excitar o povo a uma nova revolução, quando de dentro do bosque
uma descarga bem dirigida de mosqueteira veio surpreendê-los no meio de suas
esperanças.
–
Traição! Traição! gritam espavoridos os companheiros de Beckman. Eles não sabem
já o que fazem, a confusão se apodera deles: uns correm para um lado, outros
correm para o outro. A confusão estava no seu auge.
–
Camaradas! grita Beckman, que terror é o vosso?! Ataquemos o bosque; o inimigo
aí está!!
Uma
nova descarga, tão bem dirigida como a primeira, incute terror e pânico nas
fileiras de Beckman; e principiaram a fugir debandadamente. Uma companhia de
alabardeiros sai do bosque e os persegue. Uns caíam no rio e achavam a morte na
sua impetuosa corrente, outros morriam com as alabardas enterradas nas costas.
Eles já não procuravam defender-se, mas sim fugir; porém, o caminho era
estreito, atropelavam-se, e todos querendo fugir ocasionavam a morte de todos.
Serrão, com um pesado machado na mão, aproxima-se do chefe dos alabardeiros e
faz a sua cabeça saltar fora do seu tronco; e vendo, do outro lado dos soldados,
Lázaro que os tinha traído, gritou: “Espera, traidor!” e arremessa-se para ele;
porém o gancho de uma alabarda o retém pelo pescoço, ele cai, sendo logo
amarrado pelos soldados. Ribeiro, Sampaio e Beckman fizeram prodígios de valor;
porém foi forçoso ceder ao número. Ribeiro e Sampaio foram feitos prisioneiros,
e Beckman pôde escapar-se.
Os
soldados do governador, comandados pelo traidor Lázaro, fizeram uma carnificina
horrível.
Expliquemos
a causa desta surpresa.
Lázaro
de Melo, depois que ameaçou Beckman, procurou conciliar-se com ele, o que
conseguiu facilmente. Neste tempo chegou o novo governador, e foi forçoso a
Beckman fugir; Lázaro o acompanhou, esperando poder vingar-se em ocasião
oportuna, e esta não tardou muito, quando Beckman, à frente de alguns de seus
amigos, empreendeu uma nova insurreição. Nós acabamos de ver como ele conduziu
esta expedição e o seu desgraçado fim; Lázaro os tinha traído, apartando-se
deles por caminhos deles conhecidos; e fazendo conhecer ao governador o perigo
que o ameaçava. Teve por prêmio o comando dos soldados mandados contra Beckman,
o qual ele esperava ver morto para poder unir-se a Leonor.
Seus
intentos foram malogrados pela fugida de Beckman; mas conhecendo ele bem todas
as localidades da casa de seu tutor, e onde supôs que ele se tinha refugiado,
marchou com os soldados. Beckman foi preso na sua casa no meio de sua
desgraçada família por aquele que, por muito tempo, fez parte dela.
***
O
povo da cidade alvoroçou-se quando soube da prisão de Beckman. A expedição
tinha sido feita com presteza e segredo, assim, não souberam desta notícia
senão depois que o seu antigo chefe já estava preso. Esta notícia espalhou-se
com a velocidade do raio, assim como o nome de traidor. A multidão estava
defronte do palácio do governador; alguns gritos sediciosos se ouviram do meio
dela; porém o temor os abafou logo. Grande número de patrulhas percorriam as
ruas em todos os sentidos. Se no meio deste povo aparecesse um só de seus
chefes, uma insurreição ainda mais sanguinolenta que a primeira havia de
rebentar; mas eles estavam todos presos, e o povo não tinha quem os conduzisse;
faltava uma voz poderosa que desse unidade às suas ações.
–
Se algum dia encontrar o infame que atraiçoou Beckman, dizia um pedreiro para o
seu vizinho: hei de enterrar o meu martelo em sua cabeça!
–
E fazes bem, responde o vizinho: um ingrato, é capaz de todos os crimes. Oh!
Atraiçoar o seu padrinho! não sei o que me retém aqui e que o não vá procurar
para arrancar-lhe o coração!
–
Infame! Malvado!
–
Oh! Sim! Ele é bem malvado! diz uma mulher que ouvia a conversa dos dois: bem
malvado! Desgraçada viúva! Desgraçados órfãos!
–
Pois Beckman há de ser morto?! pergunta uma outra mulher.
–
Ainda o duvidas?!
–
Coitadas de suas infelizes filhas!... Se eu fosse homem havia de levantar-me
contra esta barbaridade!
–
Isto é fácil de dizer, mas não de executar. Quem nos há de dirigir? Os chefes
estão presos e, além disso, vê quantos soldados vieram com o novo governador.
–
É verdade! É verdade!
Estas
e outras palavras se ouviam por toda a parte. Repentinamente o povo se agitou
como as vagas do mar, e os gritos de – Morra, morra o traidor! se repetiam.
Lázaro
queria atravessar a multidão para entrar no palácio do governador, porém logo
que o avistaram, correram para ele como frenéticos, aos gritos de – Morra o
traidor! Ele não teve remédio senão procurar na fuga a sua salvação.
O
povo ainda ficou por algumas horas junto; porém, foi pouco a pouco
retirando-se; à noite, já não havia pessoa alguma nas ruas.
Lázaro,
vendo-se obrigado a fugir dos que o perseguiam, entra em casa de Leonor, onde
ele ainda não tinha estado depois de sua traição. Leonor estava inquieta pela
agitação que via na cidade e ainda ficou mais quando viu Lázaro entrar
impetuosamente com o terror pintado em seus olhos.
–
Leonor! Leonor! socorrei-me!
–
Ah! O que é isto?!
–
Eles me perseguem! Eles têm sede de meu sangue! Eles dizem que sou um traidor!!
Ah! Sim, eu sou traidor!
–
Tu, traidor!...
–
Sim! Sim! Eu traí Beckman! Beckman, meu tutor e padrinho!! Tu foste a causa,
Leonor!... Enquanto ele vivesse, eu não podia ser teu, e ele morto tu és minha!
Leonor! Beckman vai morrer, ele está preso: e eu fui quem o prendi!... – Lázaro
quer abraçar Leonor, seus olhos brilham como os de um louco, todo o seu corpo
treme. O furor do povo contra ele lhe revelou toda a infâmia em sua alma e o
temor se apoderou dele; e estes dois sentimentos o faziam delirar.
–
Lázaro! Deixa-me! diz Leonor afastando-se dele.
–
Deixar-te, eu!... Não!... Vês este sangue que cobre a minha mão? Pois bem, ele
foi derramado por tua causa!
–
Por minha causa?! Tu deliras?!...
–
Leonor! Leonor, tende piedade de mim!
–
Eu te amava como poucas pessoas amam, eu ainda te amo; mas fostes traidor! Tu
derramastes o sangue de teus patrícios, a minha existência não se unirá mais à
tua! Lázaro, antes de eu ser amante, era maranhense!
–
Tu também me odeias?! Oh!
–
Eu te amo como mulher, e te odeio como brasileira, e este sentimento prevalece.
Lázaro, ide buscar o vosso tutor, ide restituir o pai às filhas, e depois
vinde, que eu serei tua; porém, antes disso, não o esperes.
–
Oh! Isto é impossível, o governador já lavrou a sua sentença.
–
Sai de minha presença, traidor! diz Leonor com dignidade, porém com lágrimas
nos olhos.
–
Lázaro, diz ele, tu és um traidor! Todos te aborrecem!... Ah!... Leonor! Adeus!
Adeus!...
Ele
sai com impetuosidade.
Leonor,
assim que Lázaro saiu, caiu sentada em uma cadeira, tapou a cara com a mão, e
suas lágrimas correram por entre os dedos.
E
Lázaro?
Logo
que ele saiu da casa de Leonor, caminhou como um louco para onde tinha
surpreendido os companheiros de Beckman. Não sabia para onde ia, um sentimento
maquinal o dirigiu para este lugar. Seus olhos pareciam querer saltar fora de
suas órbitas, seus cabelos voavam com o vento, seus vestidos completamente
desarranjados, enfim, tudo nele denotava loucura.
A
terra, no lugar da surpresa, ainda estava úmida com sangue. Apenas chega ali,
ouve rumor no bosque, era uma cobra que se movia, porém supôs que alguém o
perseguia e, olhando para trás, com o movimento que faz, escorrega-lhe um pé no
mangue, e cai para a parte do rio; a não ser o ramo de uma árvore que pendia
sobre o rio, ele se teria afogado; mas ainda não estava fora do perigo. O ramo
em que ele estava suspendido por um braço era frágil e, com seu peso, dobrou.
Ora, tendo o ramo dobrado, e dobrado muito, a cabeça de Lázaro ficou oito
palmos abaixo da superfície da terra firme. O rio debaixo de seus pés faria um redemoinho,
Lázaro a todos os momentos se aproximava dele.
Estendia
o braço a ver se podia firmar-se na terra; porém inutilmente. O ramo
principiava a estalar, seu braço já não podia suportar o peso do corpo: ele
procura agarrar no ramo com a outra mão e, com o esforço que fez, o ramo estala
e seus pés se aproximaram mais ao redemoinho. Lázaro viu diante de si uma morte
inevitável; suas ideias principiam a abandoná-lo; um suor frio cobre todo o seu
corpo; e crê ouvir milhares de vozes dizendo ao redor dele: “Traidor!
traidor”!! Quase já ia abandonar o ramo; porém, lançando-se para um lado, vê –
oh que horror! – um enorme jacaré com os olhos fitos nele!! Esta vista lhe dá
novas forças; ele pode conseguir agarrar no ramo com a outra mão; seus pés
procuram firmar-se na escarpa ribanceira, o suor corre em largas gotas de sua
testa; seus nervos se endurecem; suas unhas se enterram no ramo. Com
dificuldade pode firmar um de seus pés; espera escapar ao terrível jacaré, que
olha para ele com impassibilidade; em último esforço, ele está quase a salvo;
mas este último esforço acaba de destruir o seu apoio; o ramo cede, e Lázaro desaparece
no redemoinho!! O jacaré deixa o seu lugar de observação e, com a boca aberta
mostrando os seus temíveis dentes, com a cauda batendo alegremente na água,
mergulha no lugar onde Lázaro desapareceu! Por algum tempo, a água se agitou na
superfície, o lodo subia do fundo, como denotando um combate no seio do rio; o
lodo principiou a subir com sangue; em pouco tempo o rio ficou vermelho... e
depois tudo ficou quieto...
Assim
morreu desastrosamente Lázaro de Melo! E possam todos os traidores morrer como
ele.
Gomes
Freire portou-se com moderação e generosidade. Depois de ter feito quanto
dependia dele para salvar Beckman, assinou a ordem de execução com mão trêmula,
que apenas se podia reconhecer a firma e, após a morte de Beckman, comprou os
bens dele e os restituiu à inconsolável viúva a quem tinham ficado duas filhas
solteiras. Beckman morreu com dignidade, assim como Ribeiro. Serrão e Sampaio
conseguiram fugir.
Beckman
morreu acompanhado das lágrimas de seus amigos e inimigos: assim é lastimado o
verdadeiro patriota, o cidadão honrado; os seus mesmos inimigos choram a sua
morte!
Lázaro
de Melo morreu execrado de todos: assim morre o traidor!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirObrigado por divulgar a descoberta das minhas pesquisas, Iba! Seu blog faz jus aos bibliófilos. Parabéns!
ResponderExcluirSe puder dar o crédito, seria perfeito!
Abraços,
Rafael Loureiro de Almeida
Caro Rafael,
ExcluirObrigado... Poderia por gentileza informar a referência...