7/19/2019

A poetisa Júlia Cortines



Júlia Cortines

Desejamos iniciar neste número uma série de biografias das mais talentosas poetisas, escritoras ou musicistas brasileiras, para que se tornem conhecidas, pois notamos muito a falta de conhecimento acerca das mulheres que honraram e honram o Brasil.

Abrimos a série com a poetisa Júlia Cortines, que nos parece, muito pouco lida...

D. Júlia Cortines Laxe nasceu em Rio Bonito, no estado do Rio de Janeiro, a 12 de dezembro de 1868. Está classificada entre os nossos melhores poetas, quer pela métrica impecável e vivi imaginação, quer pelo profundo sentimento que reina em suas poesias.

D Júlia Cortines, possuiu uma pena segura, e nas peças de sua lavra reconhecemos o seu alto valor artístico. O imparcial crítico Jose Veríssimo comparou-a com a célebre poetisa italiana Ada Negris.

Entre os livros de sua autoria notam-se: “Versos e Vibrações”. Entre as belas e inúmeras poesias que compôs, destacam-se as duas encantadoras e adoráveis que adiante transcrevemos:

EXILADO

Longe a pátria querida. À linguagem das gentes
Estranho, estranho a toda a alegria e doçura,
Debalde o céu do exílio ao teu olhar fulgura;
Em meio à multidão solitário te sentes.

Rolam pelo teu rosto as lágrimas ardentes
Da saudade. Que importa? Impassível ou dura,
Em torno a face vês de cada criatura:
A impiedade dos maus e dos indiferentes.

Longe o doido prazer da infância turbulenta,
Longe o sonho que atrai, a esperança que alenta,
E a materna afeição, de mãos postas, a orar...

Tudo ao longe ficou nesse amado recanto
Da pátria, onde, através da tristeza e do pranto,
Vês, tranquilo, se erguer o teto do teu lar...

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O DESERTO

O sol queima; o ar sufoca; a infinita celagem
Do céu resplende sobre o infinito deserto;
E do vasto horizonte, ao derredor aberto,
Sopra, como de um forno, uma ardente bafagem.

Nada à flor do areal, quer a distância ou perto;
E, através da nudez da vazia paisagem,
Nem sequer a ilusória e efêmera miragem
Deixa, ao longe, entrever o seu perfil incerto...

Nem o leve ruflar de uma asa; nem um grito,
Fazendo estremecer o deserto que dorme,
Como uma flecha, vara a mudez do infinito...

Implacável, o sol, quente e fulvo, dardeja
Uma luz que, abrasando a solidão enorme,
No ar, na areia e no céu treme, brilha e flameja...

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"A Sempre Viva", 15 de junho de 1924.
Pesquisa a adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)

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