Desejamos
iniciar neste número uma série de biografias das mais talentosas poetisas,
escritoras ou musicistas brasileiras, para que se tornem conhecidas, pois
notamos muito a falta de conhecimento acerca das mulheres que honraram e honram
o Brasil.
Abrimos a série com a poetisa Júlia Cortines, que nos parece, muito pouco lida...
D.
Júlia Cortines Laxe nasceu em Rio Bonito, no estado do Rio de Janeiro, a 12 de
dezembro de 1868. Está classificada entre os nossos melhores poetas, quer pela
métrica impecável e vivi imaginação, quer pelo profundo sentimento que reina em
suas poesias.
D
Júlia Cortines, possuiu uma pena segura, e nas peças de sua lavra reconhecemos
o seu alto valor artístico. O imparcial crítico Jose Veríssimo comparou-a com a
célebre poetisa italiana Ada Negris.
Entre
os livros de sua autoria notam-se: “Versos e Vibrações”. Entre as belas e
inúmeras poesias que compôs, destacam-se as duas encantadoras e adoráveis que
adiante transcrevemos:
EXILADO
Longe a pátria
querida. À linguagem das gentes
Estranho,
estranho a toda a alegria e doçura,
Debalde o céu
do exílio ao teu olhar fulgura;
Em meio à
multidão solitário te sentes.
Rolam pelo teu
rosto as lágrimas ardentes
Da saudade.
Que importa? Impassível ou dura,
Em torno a face
vês de cada criatura:
A impiedade
dos maus e dos indiferentes.
Longe o doido
prazer da infância turbulenta,
Longe o sonho
que atrai, a esperança que alenta,
E a materna
afeição, de mãos postas, a orar...
Tudo ao longe
ficou nesse amado recanto
Da pátria,
onde, através da tristeza e do pranto,
Vês,
tranquilo, se erguer o teto do teu lar...
****
O DESERTO
O sol queima;
o ar sufoca; a infinita celagem
Do céu
resplende sobre o infinito deserto;
E do vasto
horizonte, ao derredor aberto,
Sopra, como de
um forno, uma ardente bafagem.
Nada à flor do
areal, quer a distância ou perto;
E, através da
nudez da vazia paisagem,
Nem sequer a
ilusória e efêmera miragem
Deixa, ao
longe, entrever o seu perfil incerto...
Nem o leve
ruflar de uma asa; nem um grito,
Fazendo
estremecer o deserto que dorme,
Como uma
flecha, vara a mudez do infinito...
Implacável, o
sol, quente e fulvo, dardeja
Uma luz que,
abrasando a solidão enorme,
No ar, na
areia e no céu treme, brilha e flameja...
---
"A
Sempre Viva", 15 de junho de 1924.
Pesquisa
a adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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