Você já pensou sobre o que é a
calúnia? Certamente que já, mormente sendo você um homem batido na rotunda da
vida por todos os vendavais...
A potência da calúnia é como a força
insidiosa dos tentáculos do polvo: acaricia com ternura a presa, para depois
cingi-la entre os viscosos liames e lentamente gozar a volúpia do mal.
A calúnia nasce na sombra e se arremete
contra quem quer atassalhar, de um modo vago, indeciso, de forma amorfa, misto
de lesma e de infusório; o seu fim capital ferir, mas ferir sem tomar uma
atitude, sem dizer quem é, contanto que desmorone, aniquile a sua vítima, que
lhe proporciona ensanchas para vergonhosas gargalhadas!
Há criaturas tão ignóbeis na vida, que
inventam calúnias com a mesma facilidade e perícia com que Fregoli executava os
seus trabalhos de transformismo e prestidigitação.
Fizeram da calúnia uma muleta e vivem
escorados nela toda a existência; no dia que lhes faltar essa muleta, rolarão
por terra, como um fruto podre, que além de não prestar exala mau cheiro. A
calúnia soez é sua razão de ser, o seu fim, o seu princípio e a sua modalidade
única.
O caluniador passa pela vida encerrado
no aprisco sórdido do seu egoísmo, achando defeitos em toda a gente, falhas em
todos os indivíduos, mazelas em todas as criaturas, mesmo nas que são
fisicamente e moralmente mais limpas do que ele. Passa pela vida como aquele
personagem de Kalidassa, atirando lama às estrelas, sem perceber que essa lama
lhe borrifa a própria cara.
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