Os teimosos
Dois casados, mulher e homem sem
filhos e com boa casa de lavoura, tinham, para seu mal, o mesmo defeito de
serem teimosos. E, o que era muito pior, teimavam por tudo e por nada, e até
por uma simples palavra.
Uma vez, quando estavam a jantar,
disse o marido:
— Este sáfio está muito bom.
— Não é sáfio, é sáfia (retorquiu
a mulher!)
E daqui se armou logo uma grande
questão. E tão grande que, por fim, o marido enfureceu-se e deu pancada na
mulher. Depois arrependeu-se do que tinha feito, só por serem ambos teimosos. E
ficaram de bem um com o outro.
No ano seguinte, no mesmo dia,
diz a mulher:
— Lembras-te, homem? Faz hoje
exatamente um ano que tivemos uma grande questão por causa de uma sáfia!
— Não era sáfia, era sáfio
(emendou logo o teimoso, para não dar o braço a torcer!) — E lá tornaram a
questionar e, de tanto dize tu direi eu, perderam a cabeça e acabaram por bater
um no outro.
Todos os anos era certo festejarem
assim aquele bom aniversário. Arrependiam-se depois. Mas, sempre que vinham a
falar no caso passado, a fúria da teimosia tomava conta deles.
Parecia uma praga rogada por
algum inimigo a repetida guerreia por causa do nome, de sáfio ou sáfia, daquele
peixe cozinhado e comido há tanto tempo. Bem diz o ditado antigo: "duro
com duro não faz bom muro". E, se a dureza é de estúpida teimosia, desfaz
todos os muros e defesas da vida em comum e abre campo à desgraça.
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Fonte:
Ana de Castro Osório: “Contos, fábulas, facécias e exemplos da tradição popular portuguesa” (editado a partir da edição da Bibliotrônica Portuguesa)
Fonte:
Ana de Castro Osório: “Contos, fábulas, facécias e exemplos da tradição popular portuguesa” (editado a partir da edição da Bibliotrônica Portuguesa)
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