O sino que anda
(Imitação de Goethe)
Era um dia uma
criança tão inquieta e travessa, tão amiga dos brinquedos e da ociosidade, que
não tinha paciência de estar por muito tempo ajoelhada na igreja, aspirando o
perfume do incenso, sob a luz dos altares.
Quando chegava
o domingo, à hora de ir fazer suas orações, achava sempre um pretexto para
correr até ao campo, à procura das borboletas e de ovos de passarinhos.
Disse-lhe a
mãe um dia:
— O sino
chama-te, meu filho, o sino toca, o sino fala-te, o sino prescreve-te os
deveres da religião e obriga-te a assistir às missas; e se continuares a fugir
para o campo, um dia o sino há de descer da altura em que está e correr atrás
de ti.
Mas a criança
pensou:
"O sino
está tão alto, badalando lá em cima, preso nas paredes da torre!..."
E seguiu
adiante, correndo pelos atalhos e devesas, ávido de ar e de liberdade.
Mas que medo,
meu Deus! que terror lhe arrepia os cabelos e lhe empalidece o rosto. Numa
curva do caminho o sino aparece, andando como se tivesse pernas, a ralhar como
se tivesse boca. A pobre criança, desesperada, corre de um lado para outro,
tropeçando nas pedras, rasgando-se nos espinhos.
E o sino cai.
O pobrezinho corre, corre sempre, toma a direção da igreja e entra, mal
acordado do susto. Desde esse dia, quando chega o domingo, ou algum dia de
festa, ele é o primeiro a ir à igreja, obedecendo ao primeiro toque do sino,
sem ser preciso que ninguém o convide.
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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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