O Milagre
CAPÍTULO 1
Corre a
manhã de um domingo de novembro, frio, triste e chuvoso.
Na única rua
da aldeia, formada por meia dúzia de casas térreas, separadas umas das outras
pelos muros de vedação de algumas hortas, onde raros pés de couve, queimados
pelas geadas, se erguem de entre as ervas parasitas, não transita viva alma.
As únicas criaturas,
que vagueiam fora de telhas, são um porco e um frango: o primeiro, na sua
marcha tortuosa e indecisa, vai roçando com o focinho quanto encontra no chão,
soltando o monótono grunhido que, em língua suína, deve exprimir:
"Serve-me", "Não me serve", e o segundo, caminhando em
passo presumido, vai vasculhando no lixo o pão de cada dia.
Não se ouve
outro ruído, que não seja o das gotas da chuva, que caem das beiras dos
telhados.
Aberta,
apenas se vê uma porta.
Entremos.
Eis-nos na
tenda do Sr. José... da Tenda.
Não sei se
os leitores se têm, como eu, recolhido algumas vezes numa tenda de aldeia, à
espera que a chuva passe.
Se têm,
conhecem decerto o desconsolo que causa a vista daquele solo composto da lama
acarretada pelos tamancos de quatro gerações, o aspecto do balcão negro e
ensebado, suando imundície por todos os poros da madeira, com o bordo polido
pelo roçar dos fregueses, fartos de escutar pela vigésima vez a história de
dois cruzados novos e três moedas de doze falsos, e pregados ao mesmo balcão,
como prova da pureza de alma do tendeiro e da perversidade dos homens que não
são tendeiros.
E a forma
patibular das balanças, cujo fiel, no dizer dos fregueses, prova contra a
consciência Ido tendeiro?
E a grade de
ripas, fixas ao cabo do balcão, por detrás da qual se veem dois ou três destes
copinhos, vulgarmente chamados meios
netos, e outros tantos cálices da capacidade dum dedal, flanqueados por
duas botijas de genebra e uma garrafa branca, onde se lê: "Licor de
canela"?
E o
tendeiro?...
E os
fregueses?...
Falemos
destes e daquele.
Principiemos
pelo dono da casa; mas sem gastarmos muito tempo.
Façamos uma
espécie de passaporte.
Alto, magro,
olhos pequenos, mas vivos, barbas em forma de presilhas, lábios finos, nariz
adunco, e, a animar todas estas feições, um raio do que quer que seja, a que
talvez se deva chamar alma, que lhe dá um ar de refinado velhaco.
Tem na
cabeça um boné tão lustroso de sebo, que parece feito de algum bocado de
madeira, arrancada ao já descrito balcão.
O resto do
corpo esconde-o ele debaixo de farto capote de dois cabeções, cujo forro, num
ou noutro sítio, começa a mostrar-se indiscreto.
Com o queixo
fincado no peito e os braços cruzados debaixo do capote, passeia vagaroso de um
para outro lado da loja, separados dos fregueses pelo balcão.
Destes
estavam, àquela hora, na tenda, apenas quatro.
Três eram,
inquestionavelmente, pedreiros, a avaliar pelo sentido da conversa.
O quarto,
que também já pela quarta vez fizera encher o cálice de genebra, pertencia com certeza
à classe ultimamente vulgar dos contratadores de gado, raça atlética, cujo brio
consiste em beber uma canada de vinho verde dum trago ou em quebrar os dentes
de um cristão com um murro; fanfarrões de feira, que põem o passo travado ido
seu garrano de jornada acima das virtudes domésticas da mulher; que preferem às
carícias dos filhos as cruas ferezas dos seus cães de fila; que os amigos da
taberna alcunham de francos e alegres, e que as mulheres, em casa, consideram
déspotas e rabugentos.
Estava ele
erguendo o cálice, para o levar aos lábios, quando o que parecia mais velho dos
três pedreiros disse, voltando-se para o dono da casa:
— Então com
que, Sr. José, o Manuel da Maria Rita parece que está a acabar?
—
Parece que sim — respondeu o tendeiro. — Pelo menos o Senhor Cura já
hoje o foi ungir.
—
Pois olhe que era bom rapaz — tornou o pedreiro.
— Lá isso
era! — entoaram os outros em coro.
— E bom
oficial da nossa arte!
— Lá isso
era! — repetiu o coro.
— E homem
capaz — continuou o velho.
O coro ia
proferir pela terceira vez o seu: "Lá isso era!" quando o
contratador, que estivera calado até então, bradou, rubro de cólera e dando um
murro sobre o balcão:
— Lá isso é
que não era!... É um tratante... um caloteiro! Teve dinheiro para se tratar a
galinha e para mandar vir o endireita
do Porto, em vez de ir para o hospital, e não teve dinheiro para me pagar seis
meses do aluguel!... Mas deixa estar! — prosseguiu ele. — Eu vou lá, e ou me
paga ou leva-os o Diabo a ele e à mulher!
E arremeteu
pela porta fora, brandindo o pau argolado.
Os três
companheiros do doente curvaram a cabeça, aterrados provavelmente pela ideia do
que um dia lhes viria a acontecer, se, por causa de uma prancha podre, tivessem
a infelicidade de cair de um terceiro andar, sem terem a compensação de
morrerem imediatamente.
O tendeiro
foi o único que falou, rosnando por entre dentes:
— Judeu!...
E tinha
razão o Sr. José... da Tenda. Aquilo não fazia ele.
Agora
fazia!... Olha quem!... Ele, que, ainda oito dias antes, tinha tomado contado
cordão de ouro da mulher do enfermo, só para não ter o desgosto de lhe não
continuar a vender... fiado!
CAPÍTULO 2
À hora em
que se passava a cena que acabamos de descrever, outra muito diversa tinha
lugar numa casinha um pouco distante — a casa do infeliz pedreiro.
O leitor,
naturalmente, não tem sofrido privações, nem imagina, decerto, sequer o
martírio de quem ama e vê descer, lentamente, para o túmulo, quem até então lhe
fora protetor e ganha-pão.
O leitor,
que, quando Deus lhe chama de novo a si um ser estremecido, sente um santo e
orgulhoso alívio em dizer: "Ao menos não lhe faltou nada!" acaso
conceberá os dolorosos transes porque passa a desgraçada mártir que, para
ocorrer às despesas de uma longa doença, vai vendendo, uns atrás de outros e a
vil preço, o cordão de ouro economizado nas férias que o honrado marido
entregava intactas aos sábados, as arrecadas devidas ao produto da roca, dessa
ímproba tarefa dos serões, o bragal que a santa da mãe lhe deu quando casou, o
anel que o padrinho de casamento, que o fora também de batismo, lhe meteu no
dedo no dia de noivado!?
Compreenderá,
porventura, o que ela deve sofrer, quando, lançando os olhos em roda para fazer
o inventário do que ainda pode
vender, encontra, além da roupa que traz, o catre onde agoniza o marido, e o
Cristo que agoniza na cruz dentro do santuário, que, transmitido como herança
de pai a filho, chegou ao seu poder!?...
Basta!... O
leitor nunca pensou nisto, mas compreende-o agora.
A morte
antecipara-se e a notícia, contra o costume das aldeias, ainda não tinha
chegado à loja do tendeiro.
De costas na
modesta enxerga, com as mãos cruzadas sobre o peito, jazia o cadáver, a quem a
mãe, santo e venerando tipo de velha, acabava de cerrar os olhos, depois de lhe
amarrar os queixos com um lenço.
No rosto
rígido do infeliz lia-se que a alma se ausentara, mais atribulada pela
incerteza da sorte dos que deixava na terra do que pelo receio do que a
aguardava além da campa.
Do outro
lado do leito, com as mãos convulsivamente enlaçadas, os lábios trêmulos
entreabertos, o olhar enxuto mas desesperado, a esposa não retirava os olhos do
rosto do cadáver, e balbuciava de vez em quando e como quem duvida:
— O meu
Manuel!
Sentada num
cepo, em que se rachava a lenha, estava uma vizinha ainda jovem, sustentando
nos braços uma menina de três anos, ao passo que com o pé embalava uma
canastra, berço improvisado, onde dormia uma criancinha ainda de peito.
A pobre
jovem, contemplando o rosto risonho da criança que dormia a seus pés, apertava
ainda mais carinhosamente ao seio a outra filhinha da vizinha, e sentia-se
gelar de medo, só com lembrar-se ide que podia ser ela a viúva, de que podia
ser órfão o seu próprio filho, travesso rapaz de dez anos, que, com a indiferença
própria da idade, se indenizava do silêncio forçado, recortando estampas e,
colocando-as depois nos vidros da única janela do aposento.
A mãe acabou
finalmente a sua piedosa tarefa.
Que
tarefa!... a toilette dum morto!
Que de
angústias, que de recordações de dias felizes e tristes, de raios de sol e de
tormentas!
Com que
escrupuloso cuidado se examina, peça por peça, o modesto linho do defunto! Não
serve esta camisa por estar velha, aquela por ter uma nódoa do ferro, est'outra
porque ele em vida não gostava dela, e este escrúpulo, esta santa vaidade
repete-se a cada uma das diferentes peças do vestuário, e tudo isto
entrecortado por frases saídas da alma, por suspiros filhos da mais pungente
dor!
— Meu rico
filho!... — murmura a mãe. — Meu Manuel!... Quem diria que havias de ir antes
de mim!... Essas meias não, Maria... São muito velhas... Deixa ver as que
fizeste o Verão passado...
— Meu
querido homem!... Não foi para isto que eu tas fiz!... Tome lá, minha mãe... É
a última despesa que se faz com ele, que nos amparava a nós!...
E as
lágrimas irrompem, e o peito estala, e o cabelo encanece, e vivem-se anos em
minutos, e os braços cingem-se em frenético abraço ao corpo inanimado, e a dor
redobra, e os lábios ardentes de febre colam-se aos lábios sem vida de quem era
metade da nossa alma!
Lança a
velha por fim a ponta do lençol sobre o rosto do finado.
A criancinha
no berço acorda, soltando um queixume. É o sofrimento do amanhecer da vida a
contrastar com a derradeira dor do ocaso da existência!
A pobre
viúva ergue a fronte; lembra-se, pela primeira vez, que é mãe; corre ao berço,
ergue o filho, devora-o com beijos e acaba por oferecer-lhe o peito.
A criança,
porém, não cessa de chorar, e a desgraçada, depois de lutar alguns instantes
contra uma ideia horrível, empalidece e contempla o filho com olhos onde a
demência transluz.
Pobre
mulher!
A esposa
tinha morto a mãe; a dor da viuvez secara-lhe no seio a sagrada fonte da vida;
o leite transformara-se em pranto!
Não proferiu
a triste uma palavra; a vizinha, porém, com o infalível tacto das mães, tudo
adivinha, e, tirando-lhe dos braços com amorosa violência a criancinha, dá-lhe
o peito, que ela já começava a pensar que estaria fazendo falta ao próprio
filho, que ficara em casa, e diz apenas, com voz em que se revela a verdadeira
fé:
— Maria,
Deus é pai de misericórdia!
A pobre mãe
cravou na amiga olhos em que a gratidão se ia de envolta com a inveja e,
escondendo o rosto entre as mãos, balbuciou:
— Seja feita
a sua vontade!
Ouvia-se
apenas, naquele instante, no quarto, o som da água benta, que o cura trouxera
numa garrafa, a cair no copo, onde a velha a estava despejando, depois de lhe
haver metido um ramo de alecrim.
E, como que
a tornar mais carregado aquele quadro de dor, só se via indiferente e
descuidado, o rapazito, que continuava a pregar estampas na janela.
CAPÍTULO 3
Dez minutos
teriam decorrido num silêncio apenas cortado pelo sussurro das orações da
velha, a quem as agonias de uma vida de sessenta anos já haviam ensinado a só
procurar auxílio em Deus, quando a pedra, que calçava a porta, veio saltar ao
meio do quarto, e esta se abriu deixando aparecer o vulto espadaúdo e o rosto
afogueado do contratador de gado.
A viúva nem
sequer se moveu; a mãe do finado, porém, alçou a cabeça e ao reconhecer o
implacável senhorio revelou, pelo tremor dos lábios, o medo que a dominava.
Só a
vizinha, menos diretamente ameaçada pelo perigo, cobrindo o peito e
aconchegando o lenço ao rosto da criança, perguntou com voz mal segura:
— Vossemecê
que quer, Sr. Joaquim?...
— Quero que
me paguem! — bradou o energúmeno. — Deixemo-nos de choradeiras!... Quem deve
paga e eu só peço o que me devem. Esse senhor, que aí está a fingir que dorme,
que responda, pois eu com mulheres não me entendo!
A velha
ergueu-se, como obedecendo a oculta mola, e, levantando a ponta do lençol,
mostrou com o dedo a face gelada do cadáver.
— Deus
decerto o está ouvindo a ele no Céu; mas ele... já nos não ouve a nós! — disse
ela.
E, tornando
a cobrir a cabeça do morto, sentou-se.
Que se
passou nesse momento na alma do Sr. Joaquim?!... Assaltou-a o remorso?...
Amoleceu-a a compaixão?...
Sentimos
dizer que nenhum desses sentimentos a agitou.
E, note-se,
não foi porque ele fosse mau e cruel.
Valha-nos
Deus!... Não foi, porque o não era.
Recite o
leitor uma poesia de Soares de Passos a qualquer que não tenha recebido
instrução; conte uma ação do anônimo Y a um avarento; diga a um homem sanguíneo
e vingativo que o Cristo manda oferecer a face esquerda a quem lhe esbofetear a
direita... e nenhum destes o compreenderá.
A
sensibilidade requer educação, como tudo o mais, e foi por isso que, quando a
velha se calou e o Sr. Joaquim não pôde duvidar da morte do devedor, o seu
primeiro movimento foi analisar a mesquinha mobília, derradeiro resto daquele
naufrágio de uma vida inteira de trabalho, que veio despedaçar-se, impelida
pelas vagas da desventura, nos cachopos fatais em que irremediavelmente vai a
pique a barca do pobre, e que se chamam no mundo — miséria, doença e morte! — e
no Céu — provações!
O olhar do
Sr. Joaquim foi um verdadeiro balanço dos haveres do pobre pedreiro, e foi
preciso um esforço sobrenatural para não exclamar: "Estou roubado!"
E o caso é
que, no íntimo da consciência, se considerava roubado.
Depois de
breve silêncio, o Sr. Joaquim, que não podia esquecer a que viera, disse:
— Bem!...
Está morto... acabou-se!... Não se lhe dá volta; é rezar-lhe por alma... Agora
o que importa é saber como hei de receber... E nada de choradeiras!... —
continuou ele, atalhando um gesto suplicante da mãe do pedreiro.
A viúva
ergueu então pela primeira vez a fronte, e, pondo nele os olhos angustiados,
murmurou:
— Ó Sr.
Joaquim... Eu como lhe hei de pagar?!... Vossemecê bem vê o que aqui há...
Aquela caixa de ferramenta que ali vê, essa mesma!... já nos não pertence...
Emprestou-me sobre ela uma moeda o tio Zé Pedro...
— Pois daqui
não sai nada e que leve o Diabo o Zé Pedro!... O aluguel é a primeira coisa que
se paga, e você, tia Maria, — depois de amanhã despeje-me a casa! — retorquiu o
terrível credor.
— Ó Sr.
Joaquim... pelas suas alminhas!... Pelas cinco chagas de Nosso Senhor Jesus
Cristo! — balbuciou a pobre vizinha, com os olhos rasos de água, imaginando que
a sua intervenção seria bem aceite.
Bem
depressa, porém, perdeu a ilusão, ouvindo o Sr. Joaquim gritar como um
possesso:
— Quais
chagas, nem meias chagas!... Nem que Jesus Cristo cá viesse pedir por eles!
Ainda bem
não tinha proferido a blasfêmia, quando o roxo — da cólera se lhe mudou no
rosto em lividez do medo; os olhos dilataram-se-lhe; erriçaram-se-lhe os
cabelos, e, caindo primeiro de joelhos e em seguida de rosto no chão, bradou
com assombro de todos:
— Perdão,
Senhor, perdão!
Assim esteve
alguns minutos, ao cabo dos quais, erguendo-se e apontando para o leito, onde
jazia o cadáver, exclamou quase desvairado:
— Estava
ali... não viram?... Estava ali... Estava, que eu bem o vi!...
E,
voltando-se para a viúva, prosseguiu com uns suplicante:
— Perdoe, Sr
a Maria!... Pague-me quando quiser... ou não me pague nunca... É o mesmo!...
Sabe que mais?... Em precisando de lenha, ou de um bocado de fumeiro, ou de
quaisquer seis vinténs para uma necessidade, mande lá a casa... Tome lá para os
seus arranjos... — continuou ele, metendo na mão da viúva algum dinheiro. — É
para si; não o gaste em missas... Quem tem o Senhor a pedir por si não precisa
de missas!
E saiu como
louco, deixando os espectadores desta cena indecisos sobre a verdadeira causa
de semelhante proceder.
Dias depois,
indo o Sr. Joaquim falar com o padre, confessou-lhe que, mal desafiara Cristo a
vir interceder pela família do pedreiro, lhe aparecera a imagem do invocado
sobre o peito do defunto.
O cura,
conhecendo quanto este incidente, a que ele de si para si chamava visão do
remorso, o podia auxiliar na difícil tarefa de reconduzir ao aprisco algumas
ovelhas tresmalhadas, impôs-lhe, como penitência, publicar o ocorrido, sem
ocultar circunstância alguma.
E assim se
soube este milagre, que nós, mais vaidosos do que o cura e mais fiéis da
aldeia, vamos explicar.
Lembram-se
do rapazito da vizinha, que se distraía à janela recortando estampas e
colocando-as nos vidros?
Como
verdadeira criança, cansado do longo silêncio e já aborrecido do brinquedo,
começou a esfaquear as estampas com uma pequena navalha.
Já apenas
lhe restava uma — um exemplar grosseiramente colorido da cabeça do Redentor,
representado, como no-lo pinta a tradição, quando Pilatos o mostrou ao povo,
dizendo: Ecce Homo!
O pequeno,
vendo quase a acabar o divertimento, e inspirado pelo espírito de destruição,
colou a estampa no vidro, e, em seguida, começou a golpear a imagem
sistematicamente, isto é, seguiu com a ponta da navalha todas as linhas dos
contornos; depois, requintando, arrancou-lhe o branco dos olhos, fendeu-lhe a
boca, despegou-lhe o nariz das faces, e, prosseguindo ou por fabricar com mão
inconsciente o que todos conhecemos sob o nome de sombrinhas.
Ao terminar
esta horrível mutilação, proferia o Sr. Joaquim a sua cruel blasfêmia; mas o
sol, que até ali se conservara encoberto, raiou de repente e só o tempo
bastante para operar o milagre, e, coando por entre os golpes e claros que o
pequeno praticara na estampa, veio refletir sobre o peito do cadáver a
resignada e austera cabeça do Redentor, fulminando o insolente que ousara
reptar a Divindade.
Ainda hoje,
em duas léguas ao redor da aldeia, chama o povo a isto — o milagre!
E o leitor
como lhe chama?
Eu,
desprezando — neste caso — a sua opinião, seja ela qual for, dir-lhe-ei que,
atendendo a que Deus pode tomar a forma que mais lhe aprouver para se
manifestar, também lhe chamo — MILAGRE!
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