Castigo de bem-falantes
Três lorpas, muito vaidosos, não
contentes com os disparates que faziam na sua aldeia, resolveram vir de
companhia à Capital, porque, diziam eles, queriam aprender a falar à lisboeta.
Para aprenderem melhor
separaram-se, seguindo cada qual por sua rua.
O primeiro ouviu dizer, a uns
sujeitos bem vestidos, que conversavam à porta de uma tabacaria:
— Nós todos três...
O segundo parou defronte dum
ourives, onde estavam umas senhoras vendo as joias e ouviu uma dizer:
— Por nosso gosto...
Vai o terceiro e encontra uma
grande multidão aclamando um homem que se tornara notável, e ouviu dois
espectadores que diziam:
— Justo será...
Ficaram com aquilo na cabeça e a
todo o momento empregavam as palavras que tinham aprendido, para mostrarem que
já sabiam falar à lisboeta. Daí voltaram todos três à terra, radiantes com a
sua sabedoria.
No meio do caminho encontraram um
homem morto e foram dar parte à justiça. Perguntou-lhes o Juiz:
— Quem o matou?
— Nós todos três (respondeu o
primeiro).
— Por que motivo (continuou o
Juiz)?
— Por nosso gosto (respondeu o
segundo).
— Bem, então vão ser presos.
— Justo será (disse o terceiro).
E assim foram metidos na prisão,
por quererem falar à lisboeta.
É o que sucede a quem fala sem
pensar, nem saber o valor das palavras.
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Fonte:
Ana de Castro Osório: “Contos, fábulas, facécias e exemplos da tradição popular portuguesa” (editado a partir da edição da Bibliotrônica Portuguesa)
Fonte:
Ana de Castro Osório: “Contos, fábulas, facécias e exemplos da tradição popular portuguesa” (editado a partir da edição da Bibliotrônica Portuguesa)
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