As três tatibitates
Como não eram muito feias e
tinham alguma coisa de seu, facilmente achariam noivos — se não tivessem um
grande defeito que afugentava todos os pretendentes.
Caladas, podiam ver-se por gosto,
mas quando falavam — que desconsolação! Eram tatibitates. E ouvi-las era o
bastante para começar toda a gente à gargalhada.
Depois, não conheciam o seu
defeito e estavam sempre a parolar, sempre a meterem-se nas conversas, por mais
que a mãe as advertisse de que mais ganhavam em só falar quando absolutamente
fosse necessário. Não sabiam, as tagarelas, que se a palavra é de prata, o
silêncio é de ouro...
Assim, toda a gente da terra as
conhecia, e causavam tanto riso que não havia rapaz que se atrevesse a ir
buscar para companheira uma criatura que caía no ridículo, mal abrisse a boca
para falar.
Então a mãe, já desanimada porque
via correr o tempo sem que lhe aparecesse sequer um noivo para alguma das
filhas, resolveu-se a convidar um estrangeiro e levá-lo a casa para ver se ele
se agradava de alguma das três raparigas.
Mas, logo por infelicidade, teve
que sair para um negócio de muita urgência, deixando-as em casa para tratarem
do jantar, olharem pelo arranjo da festa que queria dar ao estrangeiro, e
receberem-no quando viesse. Recomendou-lhes muito que não falassem diante dele;
que, vissem o que vissem, não dissessem palavra, pois mais valia que passassem
por mudas do que darem a conhecer logo à primeira vista o seu tão desagradável
defeito.
Na sua ausência veio o hóspede,
que era um rapaz todo janota e bem apessoado. As raparigas levaram-no para a
sala, serviram-lhe bolos e vinho, e sentaram-se as três, muito caladas,
respondendo apenas por gestos ao que ele lhes perguntava.
Nisto sentem a panela que estava
no fogão começar a ferver e a chiar, entornando-se o caldo pelo lume. A mais
velha das raparigas gritou:
— Lá se entona a tutalinha! —
queria dizer que se entornava a pucarinha.
— Tira-le o teto e mete-le a tolé
— respondeu a segunda, muito atormentada, querendo dizer — tira-lhe o testo e
mete-lhe a colher.
A terceira, vendo o hóspede a
rir-se a bandeiras despregadas, e zangada por as irmãs não seguirem a
recomendação da mãe, gritou-lhes:
— A mãe não disse que não
talássemos?! Bem fiz eu que não telei, pois assim me tasalei.
O que significa: — a mãe não
disse que não falássemos? Bem fiz eu que não falei, pois assim me casarei.
Mas, assim, menos ainda se casou,
pois foi falando mais do que as outras e portanto dizendo mais disparates.
O rapaz, em vista disto, fugiu
pela porta fora à gargalhada e nunca mais quis saber de tais noivas — nem com
dote, nem sem dote.
Imagine-se a desconsolação da mãe
que as queria casar!
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Fonte:
Ana de Castro Osório: “Contos, fábulas, facécias e exemplos da tradição popular portuguesa” (editado a partir da edição da Bibliotrônica Portuguesa)
Fonte:
Ana de Castro Osório: “Contos, fábulas, facécias e exemplos da tradição popular portuguesa” (editado a partir da edição da Bibliotrônica Portuguesa)
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