6/03/2019

A raposa que foi ao galinheiro (Fábula), de Ana de Castro Osório



A raposa que foi ao galinheiro

Um dia a Raposa, que rondava havia muito pela porta de um rico lavrador, dono de farta capoeira, descobriu nesta um buraco. Como o buraco era pequeno encolheu-se quanto possível, e, fazendo-se esguia, conseguiu caber por ele.

Ia só para estudar o caminho (pensava ela), e depois voltaria por lugar mais seguro e fácil.

Mas o mau foi apanhar-se lá dentro, pois assim que viu diante dos seus olhos as galinhas, galos, frangos, patos e perus, não teve mão na gula, deitou-se a eles e comeu, comeu, até se abarrotar.

No melhor da festa, quando já estava que se não podia mexer, sentiu passos no pátio e quis fugir por onde entrara. Foi-lhe impossível! O buraco por onde coubera com a barriga vazia, não lhe deu passagem com ela cheia a mais não poder, por grandes esforços que fizesse. Sentindo-se perdida, de que se há de lembrar a grande manhosa? De fingir-se morta!

Deitou-se no meio do chão, muito estendida, com a língua entre os dentes, tal como se tivesse morrido de farta.

Quando o lavrador veio, de manhã, abrir a porta à criação, caiu-lhe a alma aos pés. Os pobres animais que a gulotona não comera, matara-os e deixara-os de lado. Cheio de raiva ia para lhe dar uma paulada, gritando:

— Ah grande marota que estrago me fizeste na capoeira!...

Mas, tocando-lhe com o pé, imaginou-a já morta e, em vez de lhe bater, agarrou-lhe pelas pernas e atirou-a para a horta, dizendo:

— Tanto comeste que arrebentaste! Foi bem feito! Fica-te para aí, que logo te enterro, malvada!

A espertalhona, logo que se viu fora da capoeira, deu um pulo, e pernas para que te quero! Aquilo, foi fugir, campos fora, que nunca mais lhe puseram a vista em cima.

Então o lavrador jurou a si mesmo nunca mais se fiar em pessoas intrujonas, nem mesmo quando parecessem mortas.


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Fonte:
Ana De Castro Osório: “Contos, fábulas, facécias e exemplos da tradição popular portuguesa” (editado a partir da edição da Bibliôtronica Portuguesa)

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