...Pedia esmola porque as suas
pobres mãos encarquilhadas já não serviam para o trabalho, porque o seu corpo,
ajoujado com o peso dos anos, se inclinava para o chão, olhando a terra a quem
brevemente iria servir de pasto... Lutava pela vida, apesar de quase morta...
Pedia esmola...
***
Era um dia lindo d´agosto e ela
lá ia caminhando, pisando as pedras da calçada que, aquecidas por um sol
abrasador, queimavam os seus velhos pés descalços... Havia dois dias já, que
não comia. Sua filha, uma transviada da vida que se afogara no pântano
lodacento da prostituição e do crime, pedira-lhe chorando, algum dinheiro para
o seu amante... Ela dera-lhe todas as poucas moedas de cobre que possuía...
Das famílias que habitualmente a
costumavam socorrer, só uma, por falta de meios, ficara na cidade. Era para a
sua porta que se encaminhava. Subiu a escada, bateu, esperou. Um padeiro que
descia disse-lhe: - "Aí não está ninguém, tiazinha. Saiu-lhes a sorte
grande e foram ontem para fora". Bateu então às portas dos outros andares.
Em todos lhe deram a esmola dum carinhoso "Tenha paciência"...
Saiu; foi caminhando até que se
encontrou numa ruazinha deserta; sentou-se à borda do passeio e, sem forças já
para lutar contra a morte, entregou-se-lhe serenamente...
... Era um dia lindo de agosto e
o seu pobre corpo jazia inerte sobre as pedras ardentes da calçada...
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