A Mãe de São Pedro
A Mãe de São Pedro era muito
invejosa e muito avarenta. Pode ser que não tivesse outros defeitos, mas estes
eram muito feios. E com eles desgostava bastante o Senhor.
Ora, um dia, morreu. E no
primeiro julgamento feito às almas foi mandada para o Purgatório.
Com isto ficou muito triste São
Pedro, que era muito bom filho e respeitador, não querendo saber dos defeitos
da sua mãe. Como ele está sempre em face do Juiz Supremo, não fazia senão
pedir-lhe que tivesse piedade da sua mãe e a absolvesse de toda a mácula,
chamando-a ao gozo eterno da bem-aventurança.
Nosso Senhor respondia-lhe:
— Mas tu, Pedro, sabes que tua
mãe não pode entrar no Céu sem se purificar daquele grande defeito da avareza e
da inveja, que torna as criaturas mais semelhantes ao demônio.
Mas por fim, cansado já de ouvir
as súplicas do amado discípulo de Seu Filho, o Padre Eterno chamou-o um dia à
sua presença e disse-lhe:
— Toma esta folha de alface, vai
com ela ao Purgatório e estende-a para que tua mãe, agarrada a ela, possa subir
ao Paraíso. Como as almas sem culpa não têm peso, se estiver curada já dos seus
defeitos, agarrada a esse frágil arrimo pode entrar no Céu.
São Pedro, contentíssimo,
agradeceu ao Senhor, e foi de corrida debruçar-se na janela que dá para o
Purgatório. E com grande alvoroço chamou a sua mãe.
Quando a alma, tisnada nas chamas
do Purgatório, ouviu a voz do seu filho e viu o apoio que lhe dava para se
salvar, correu cheia de alegria, abençoando a hora em que ele viera ao mundo com
tantos merecimentos para ser ouvido por Nosso Senhor. Agarrou-se logo com toda
a força à folha verde da alface, e começou a subir para o Paraíso.
Quando isto viram, outras almas,
igualmente tristes e sofredoras, quiseram aproveitar do seu benefício e
ergueram-se para também segurarem aquela nova e fugidia esperança.
A mãe de São Pedro estava, porém,
tão sôfrega da sua salvação, que aos empurrões as deitou abaixo.
Mas... que sucedeu? Com o esforço
que fez, a folha de alface rompeu-se, e ela caiu de novo no Purgatório para,
durante mais tempo sofrer os trabalhos merecidos por esta falta de caridade
para com outras alminhas padecentes.
Eis o motivo porque não foi logo
para o Céu a mãe de São Pedro. Nem as almas invejosas e avarentas e sem
caridade têm lá lugar.
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Fonte:
Ana de Castro Osório: Contos, fábulas, facécias e exemplos da tradição popular portuguesa (Editado a partir da edição da Bibliotrônica Portuguesa)
Fonte:
Ana de Castro Osório: Contos, fábulas, facécias e exemplos da tradição popular portuguesa (Editado a partir da edição da Bibliotrônica Portuguesa)
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