A lenda do Trigo
Satanás
tinha dado um grande campo a um lavrador com a condição de que metade da
colheita seria para ele. Naquela ocasião, e na terra onde o fato se dera, não
era conhecida senão a sementeira da batata, que foi a que o lavrador fez.
Chegada a época da colheita, o diabo veio reclamar o que lhe pertencia, e,
dizendo que a metade dele era a que estava debaixo da terra, enquanto que a do
ar era do lavrador, deixou este só com a rama, sem ter alimento para todo o ano.
O pobre do homem ludibriado por Satanás, lastimava a sua sorte, chorando à beira
do caminho que passava por junto do campo, quando apareceu um santo monge que
inquirindo a causa do pesar do lavrador, resolveu pregar uma peça ao diabo.
Disse ao homem que o acompanhasse e, chegado ao mosteiro a que pertencia,
deu-lhe sementes de trigo, ensinando-lhe como se semeava e como dele se
fabricava pão.
O
lavrador fez o que o santo monge lhe indicara, e, logo que veio o tempo da
colheita, chamou Satanás que, como no ano anterior, reclamou o que estava sob a
terra, mas daquela vez ficou logrado pois só teve as raízes enquanto o lavrador
se regalava com a magnífica colheita de trigo que lhe forneceu um saborosíssimo
pão.
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Eduardo Sequeira
- (Lenda dos Vegetais, 1892)
Pesquisa e
adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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