A fortuna do bruto
Eram dois irmãos muito
diferentes. O mais velho, inteligente e empreendedor, foi trabalhar para longe.
O outro que era muito bruto, ficou em casa.
Passados tempos, voltou aquele
para a sua aldeia. Logo à entrada encontrou o mais novo, a quem abraçou e
perguntou: — Então que novidades há por cá?
O brutinho, com muito sossego,
respondeu:
— Pouca coisa há de novo. O nosso
pai caiu nas favas, espetou um olho, e cegou, mas o pior é que as favas ficaram
todas pisadas. O nosso cavalo branco (Deus lhe fale na alma!) morreu,
coitadinho! Aquilo corria pelas ladeiras que parecia o caminho de ferro. Tenho
pena! À casa caiu-lhe um raio, e ardeu toda. Na vinha caiu também tanta chuva
de pedra que uns poucos de anos não haverá vinho. Os bois comeram não sei o
quê, e arrebentaram. E a nossa mãe, lá me esquecia esta, morreu! Também o pai
não quis cá ficar sozinho por muito tempo. Lá está com ela, no cemitério, bem
descansado. São fortunas que nos chegam.
Em vistas destas grandes
fortunas, o irmão mais velho partiu outra vez para longe, e não quis mais saber
do brutinho, a quem deixou a herança que tanto o contentava.
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Fonte:
Ana de Castro Osório: “Contos, fábulas, facécias e exemplos da tradição popular portuguesa” (editado a partir da edição da Bibliotrônica Portuguesa)
Fonte:
Ana de Castro Osório: “Contos, fábulas, facécias e exemplos da tradição popular portuguesa” (editado a partir da edição da Bibliotrônica Portuguesa)
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