DA GENTE E DA VIDA
(De Ghiaroni)
ANA MARIA
(1971)
Mãe! Eu volto a te
ver na antiga sala
onde, uma noite, te
deixei sem fala,
dizendo adeus como quem
vai, morrer.
E me viste sumir pela
neblina,
porque a sina das
mães é esta sina,
amar, cuidar, criar,
depois perecer.
Perder o filho é como
achar a morte!
Perder o filho,
quando grande e forte,
já podia ampará-la e
compensá-la.
Mas nesse instante, uma
mulher bonita,
sorrindo o rouba... E
a velha mãe aflita
ainda se volta para
abençoá-la!
Assim parti e nos abençoaste!
Fui esquecer o bem
que me ensinaste;
fui para o mundo me deseducar.
E tu ficaste, num silêncio
frio,
olhando o leito que
eu deixei vazio,
cantando uma cantiga
de ninar!
Hoje volto coberto de
poeira
e te encontro
quietinha na cadeira,
a cabeça pendida sobre
o peito.
Quero beijar-te a
fronte... e não me atrevo!
Quero acordar-te, mas
não sei se devo!
Não sinto que me cabe
esse direito!
O direito de dar esse
desgosto
de te mostrar, nas rugas
do meu rosto,
toda a miséria que me
aconteceu!
E quando vires a
expressão horrível
da minha máscara
irreconhecível
minha voz rouca
murmurar: Sou eu!
Eu bebi nas tavernas
dos cretinos!
Eu brandi o punhal
dos assassinos!
Eu andei pelo braço
dos canalhas!
Eu fui jogral em todas
as comédias!
Eu fui vilão em todas
as tragédias!
Eu fui covarde em todas
as batalhas!
Eu te esqueci! As
mães São esquecidas!
Vivi a vida, vivi
muitas vidas.
E só agora, quando
chego ao fim,
traído pela última esperança;
e só agora, quando a
dor me alcança,
lembro quem nunca se esqueceu
de mim.
Não! Eu devo voltar,
ser esquecido.
Mas... que foi? De
repente ouço um ruído!
A cadeira rangeu! É
tarde agora!
Minha mãe se levanta,
abrindo os braços!
E me envolvendo num
milhão de abraços,
rendendo graças, diz:
“Meu filho”... e chora!
E chora! E treme,
como fala e ri!
E parece que Deus
entrou aqui,
em vez do último dos
condenados!
E o seu pranto,
rolando em minha face,
quase é como se o Céu
me perdoasse,
me limpasse de todos
os pecados!
Mãe, nos teus braços
eu me transfiguro!
Lembro que fui
criança, que fui puro!
Sim! Tenho mãe! E
esta ventura é tanta
que eu compreendo o
que significa.
O filho é pobre, mas
a mãe é rica!
O filho é homem, mas
a mãe é santa!
Santa que eu fiz
envelhecer sofrendo,
mas que me beijas,
como agradecendo
toda a dor que par
mim te foi causada!
Dos mundos onde andei,
nada te trouxe!
Mas tu me olhas num
olhar tão doce
que, nada tendo, não te
falta nada.
MINHA MÃE
CLAREL GAVIRAGHI
(1979)
Sentado na soleira da
porta
Neste entardecer
calmo de melancolia
Recordo-te mamãe com
saudades
Do carinho e ternura
de passados dias.
Lembro do que me
ensinaste
Da verdade, do amor e
bom exemplo
Me indicaste sempre o
caminho certo
Quando íamos juntos
orar no templo.
Mãe és refúgio de
bondade e afeição
Não te esqueço nem
sequer um segundo
Por seres dedicada,
terna e amável
E possuíres o coração
maior do mundo.
Recebe a homenagem
neste dia
Deste a quem lhe
deste a vida
Que no seio do convívio
familiar
Continuarás sendo
sempre a mais querida.
MINHA MÃE
ÚRSULA TRAPP
(1978)
Com três letrinhas
apenas
se escreve a palavra MÃE:
E das palavras
pequenas
A maior que o mundo
tem.
Mãe — sinônimo
perfeito
De sacrifício e de
amor
Tendes espinhos no
peito
E aos vossos filhos
dais flor.
Ó Mãe, canta-me as
cantigas,
Com que outrora me
mimavas!
Quero que alegres meu
túmulo
com o riso que ao
berço davas.
Mãe! Acima de tudo,
acima
do céu, te devemos
pois
O teu nome não tem
rima
Nem limite o teu
amor.
DIA DAS MÃES
ÚRSULA TRAPP
(1978)
Mãe! A primeira
palavra
Que pronuncia a
criança;
São as letras de seu
nome:
Martírio — Amor — Esperança
Mãe! Palavrinha que
encanta;
Com três letrinhas
somente,
Lembra o nome de uma
santa,
Louvado por toda a
gente.
Você me chamou de
pobre,
No que disse, pense bem.
Sou mais rico que
você,
Tenho mãe, você não
tem.
MÃE, MINHA MÃE! MAMÃE!
MARTINS FONTES
Beijo o teu nome
quando o leio, quando
O escuto, e, por
milagre, ao seu solfejo,
Com os olhos ouço a
sílaba cantando,
Ou, pelo ouvido,
iluminante, a vejo!
Sinto, ao seu
surdinar, límpido e brando
Qualquer coisa ideal,
como o branquejo
De uma chuva de pétalas,
em bando,
De milhares de
pombos, em voejo!
Mãe! Minha mãe!
Mamãe! Beijo-te a face,
Mas sem nunca te
amar, quando desejo,
Quanto me amas, por
muito que sonhasse!
Tenho sempre a
ilusão, se te festejo,
De que é o teu beijo
que beijasse
O meu beijo,
beijando-se em teu beijo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...