CHORANDO
Quem por acaso
me vir chorar,
Por Deus, não
queira zombar de mim.
Também não
queira me consolar
Pois o meu
pranto não terá fim.
Eu choro a
perda da mãe querida
Que somente me
sabia amar.
Seus carinhos
me davam vida
Seus conselhos
vinham me animar.
No entanto,
morres e oh! Mãe bondosa,
Mas no meu
peito tu viverás.
Mesmo na campa
silenciosa
Todos meus
passos tu guiarás.
Fugiu já de
mim toda alegria
No mundo
jamais terei prazer.
Uma fé me
resta nesta vida
É ver minha
mãe quando eu morrer.
E. J. OLIVEIRA
A
Cruz, 8 de abril de 1922.
***
ALGUÉM
Para alguém
sou o lírio entre os abrolhos
E tenho as
formas ideais do Cristo,
Para alguém
sou a vida, a luz dos olhos
E, se na terra
existe, é porque existo.
Esse alguém,
prefere ao namorado
Cantar das
aves, minha rude voz,
Não és tu,
anjo meu idolatrado,
Nem, meus
amigos, é nenhum de vós!
Quando alta
noite reclino e deito,
Melancólico,
triste e fatigado,
Esse alguém
abre as asas no meu leito,
E meu sono
desliza perfumado.
Chovem bênçãos
de Deus sobre a que chora
Por mim além
dos mares! Esse alguém
É de meus dias
a esplendente aurora
És tu, doce
velhinha, oh! minha mãe!
GONÇALVES
CRESPO
***
QUANDO MORRERES
Quando
morreres, minha mãe querida,
Quando
vencer-te o derradeiro sono.
A minha vida,
após teu abandono,
Verei, também,
por certo, sucumbida!
Mas, imutáveis
são as leis da Vida
E, embora eu
rogue a Deus não vir o Outono
Vencer-te,
enfim, num derradeiro sono,
Sucumbirás, ó
minha mãe querida!
Porém, se
acontecer tão cedo
Que te
libertes deste vil degredo
Sem te
despedires de mim sequer,
Falo confiante
em que há de honrar teu nome
— Esse Bem a
que o Tempo não consome —
PERY GUANABARA
Revista
Excelsior, outubro de 1930.
***
MÃE?!
E negas ao teu
filho o próprio leite,
Alma de rude e
brônzeo coração...
Brutal assim, não
há quem desrespeite
Tão pura e tão
singela condição.
A pedra o
musgo cria, sem que enjeite
O pesado labor
da criação;
Do ser pequeno
ao grande, o só deleite,
Mas no produto
está que na paixão...
Só tu te
abrasas, firme no furor
De eternamente
amar, deixando em flor
O sentido carnal
apercebido.
Olha, toma o
teu filho; e os teus desejos
Se resumam em
pô-lo envolto em beijos,
No teu carinho
quente adormecido.
HEMETÉRIO DOS SANTOS
"Frutos Cadivos", 1919
***
SAUDADES
(Á minha mãe)
(Á minha mãe)
Atra saudade o coração me oprime
Com a dor intensa de meus tristes carmes.
Sentidos ais
Há já dois lustros que proscrito, errantes,
Incerto os passos nesta senda trilho
Sem ver meus Pais
Se a lira tomo, mais o pranto excita
Quede meus olhos incessante corre
Por minhas faces;
Já não encontra bonançosas brisas
Que noutros tempos a beijar-me vinham
Ledas fugaces
O quanto é doce minha mãe querida,
Após da lida que suporto atroz.
Nas curtas horas em que o céu me inspira
Pegar na lira, me lembrar de vós.
Então me sinto transportado a um mundo
Novo, fecundo de feliz magia,
E nele vejo radiante e pura,
Maga ventura, que gozar queria.
Dentre mil flores dum odor fragrante
Vejo brilhante, deslizar-se um véu,
A pouco a pouco remontar-se às nuvens
Das mãos de Rubens, o retrato teu.
Nesse momento de ilusão tão casta
Ele se afasta, que mais vejo! — Deus —
Que lá do Empíreo, rodeado de anjos;
A par de arcanjos o conduz aos céus!
O quanto é doce minha mãe querida
Após da lida que suporto atroz,
Nas curtas horas em que o céu me inspira,
Pegar na lira me lembrar de voz.
Aos dois lustros e dois anos
Minha mãe, que te deixei,
Não sabia,
Prezar teus doces carinhos
Que tão cruel desprezei
Num só dia.
Nem as lágrimas piedosas,
Que de teus olhos brotavam
Só de amor.
Nem os suspiros magoados
Que de teu peito manavam
Pela dor.
Nem os queridos abraços
Que a teu colo me cingiam
Com ternura
Nem as frases maternais
Que teus lábios desprendiam
De candura.
Nem teus amorosos beijos
Que com transporte me davas
De mãe triste
Nem o teu último — Adeus —
Quando de mim te apartavas
E fugiste.
Aos dois lustros e dois anos
Minha mãe, que te deixei,
Não sabia.
Prezar teus doces carinhos
Que tão cruel desprezei
Num só dia.
Parti: e deixei-te sofrendo mil dores,
Deixei os frescores das brisas sem par:
O seu ciciar: E por quê? por tremendos
Bramidos horrendos das ondas domar.
O tempo mudou-se da minha ventura,
A voz da natura em meu peito ecoou,
Mas tarde chegou... e mui longe senti
O bem que perdi, o meu pranto o mostrou.
Cresceu a saudade no meu coração
A luz da razão me animou a sofrer,
Para um dia te ver, uma vez abraçar-te.
Mais nunca deixar-te, contigo viver.
E então a teu lado
Libando as delícias
De tuas carícias
Minha mãe, sem par:
Eu quero cantar
No meu alaúde
Um hino que mude
Teu agro penar.
Quero ver teus olhos
De chorar pisados
Pela dor magoados
De tanto sofrer;
Ah! sim, queremos ver
De novo brilhar
Seu júbilo mostrar
Fulgir de prazer.
Depois que me importa!
Que a Parca sedenta
De meu sangue, intenta
Meus dias torcer,
Me vinha dizer
— Teu fim já
chegou
Agora aqui estou... —
— Já posso
morrer —
FRANCISCO COELHO MARTINS DA COSTA
(1856)
***
MAMÃ
Toda a Paz, todo o Amor, toda a Bondade,
Toda a Ternura que de ti me vêm,
Amparam-me esta triste mocidade
Como nos tempos em que tinha Mãe.
Quanto eu te devo! Ódios, impiedade,
Indignações e raivas contra alguém,
Loucuras de rapaz, tédios, vaidade,
Tudo isso perdi— e ainda bem!
Salvaste-me! Trouxeste-me a Esperança!
Nunca ma tires não, linda criança,
(Linda e tão boa não o farás, talvez!)
Pois que perder-te, meu amor, agora,
Ai que desgraça horrível! isso fora
Perder a minha Mãe, segunda vez.
Toda a Paz, todo o Amor, toda a Bondade,
Toda a Ternura que de ti me vêm,
Amparam-me esta triste mocidade
Como nos tempos em que tinha Mãe.
Quanto eu te devo! Ódios, impiedade,
Indignações e raivas contra alguém,
Loucuras de rapaz, tédios, vaidade,
Tudo isso perdi— e ainda bem!
Salvaste-me! Trouxeste-me a Esperança!
Nunca ma tires não, linda criança,
(Linda e tão boa não o farás, talvez!)
Pois que perder-te, meu amor, agora,
Ai que desgraça horrível! isso fora
Perder a minha Mãe, segunda vez.
ANTÔNIO NOBRE
"Despedidas", 1902
***
SOBRE O TÚMULO DE UMA MÃE
Se alguém compreende a mágoa que te oprime
Não n'a compreende mais do que a compreendo.
Mágoa que o pranto, às vezes, não n'a exprime
Mas que num riso, às vezes, se está vendo!...
Deixa, porém, que paire a alma sublime
Daquela santa sobre o mundo horrendo!
Que ela te ampare contra o mal e o crime,
Ao teu futuro bênçãos estendendo.
Vejo-te a rir, amigo, mas no brilho
Do teu olhar eu leio todo o inferno
Do teu celeste coração de filho!
Ri comigo! Eu também num riso eterno
Sigo da vida o doloroso trilho,
Sem o guia imortal do amor materno!
EMÍLIO DE MENEZES
"Últimas Rimas"
***
MÃE E FILHO
Menino, que ao céu revoa
Levado por mão de santa;
Junto a Deus a luz o espanta,
Quer chorar e Deus sorri...
Neste abandono celeste,
No vago de uma lembrança,
Mãe!... balbucia a criança,
E um anjo canta: ei-la aqui!
Súbito o triste inocente
Se lança meigo e choroso
No branco seio amoroso
Que ali outra mão conduz;
A mãe e o filho abraçados
Se prostram na imensa alfombra,
Ela... com medo da sombra
Ele... com medo da luz!!...
TOBIAS BARRETO
"Dias e Noite", 1881
Continua...
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...