À MINHA MÃE
No teu viver
cruel, de dor cheio de abrolhos
És qual o
viajor a bordejar sem norte
Em densa
cerração perdido nos escolhos
Daria minha
vida inteira, num transporte
P’ra te
restituir a luz aos tristes olhos.
Mas... quem
sabe! talvez eu te apressasse a morte!...
Talvez te
amargurasse os últimos instantes!...
Sem me veres,
ver tudo... Oh! que suprema dor!
Que os nossos
corações se juntem, queres antes
Qual de asas
um sentir de tépido calor.
Seguiremos
assim... cansadas e anelantes
D'árdua senda
a vencer o intérmino labor
Na vida eu guiarei
teus passos vacilantes
E o meu guia
há de ser o teu sublime amor.
ÁUREA M. DE
SIQUEIRA
(1901)
***
À MINHA MÃE
Suspiros e
prantos, gemidos, lamentos,
Dos negros
tormentos d'ausência penosa
Oh! mãe
carinhosa, definham-me a vida
Em uma iludida
esperança, enganosa!
Um canto
sentido,
De mágoa
nascido
Eu, mãe,
anelava
Aqui te
ofertar;
Mas, neste
momento
Debalde eu
intento,
Apolo mo nega,
Não quer me
inspirar.
Debalde eu
intento, é em vão meu almejo,
E já antevejo
que em vão tentarei,
Que nunca
serei bem ou mal inspirado.
Meu plectro
forçado jamais tangerei.
Findou-se a
alegria
Que dantes
havia,
Oh! mãe
adorada,
Que sempre
senti,
Quando essas
delicias
De tuas
carícias,
Que ou hoje
recordo,
Mui lodo frui.
E oh! mãe carinhosa,
meus lábios gelados
Do peito,
coitados, não sabem contar
O duro penar,
a saudado amargosa!
Ai! mãe
bondosa! Não posso acabar!
ANASTÁCIO JOSÉ
DOS SANTOS JÚNIOR
( 1857)
***
MATER
Mater
amabilis
Mater
admirabilis,
Mater
dolorosa:
Chega-me o
pranto, foge-me a calma,
Quando suponho
teu termo breve:
Antes eu quero
que Deus me leve,
Mãe de minha
alma!
Tu, que és da
lágrima o ermo diamante.
O solitário
cristal da Dor,
Vives cravada,
pura e brilhante,
No meu Amor!
És do que foste
quase que nada:
Hoje os teus
olhos e o teu cabelo
Vivem cobertos
de névoa e gelo,
Mãe adorada!
Eu que, não
raro, canto a candura,
Tão poucas
vezes falo de ti!...
É que eu te
tenho como hóstia pura
Guardada
aqui...
Porque te
afogas em prece tanta,
Lendo os
Breviários e os Evangelhos?
Ah! não magoes
os teus joelhos,
Que tu és
Santa!
Eu — só no
estado de Graça Plena
Desenhar posso
tua feição,
Sobre uma
hóstia, molhando a pena
No coração.
Eucaristia
deste sacrário...
Talvez eu
beije teus frios ossos,
Quando
finarem-se os Padre-nossos,
Do teu
rosário!
Fechem-me os
olhos na primavera,
Na flor da
vida, meu doce Bem;
Fechem-me os
olhos!... Oh! mãe, espera,
Que eu vou
também.
Vida? — é teu
filho junto ao teu seio!
Vem sob as
minhas asas ativas:
Eu tudo faço
por que não vivas
Do pão alheio.
Ícaro — eu de
asas armado saio,
Medindo a face
do Céu azul;
Mas se não
velas por mim, eu caio
Sobre um paul.
Prefiro
ver-te, vaso de afetos,
Em noites
frias e merencórias,
De boca
murcha, contando histórias
Para os teus netos.
Não sei o que
outras criaturas pensam
Da que,
dorida, lhes deu o ser...
Mãe, eu só
penso na tua bênção
Quando morrer.
Deus te
reserva do justo a palma;
Mas eu queria
ver-te velhinha,
De touca
branca, fiando linha,
Mãe de
minh’alma!
B. LOPES
***
MÃE
Dessa palavra
augusta é que promana
Da divina
criação a pura essência;
Do bem a
origem e da Moral a ciência,
Toda a
grandeza da existência humana.
Nesta palavra
Mãe — quanta eloquência!
Mas, se de
havê-la criado, Deus se ufana,
Nossa linguagem
áspera e profana
Não enuncia a
sua transcendência.
Vencedora na
Dor — no Amor vencida,
Mãe, quanto
mais te exaltas mais humilho,
Ser mãe é ser
glorificada em vida!
É das virtudes
todas ter o brilho,
Do Universo a
grandeza indefinida...
Deus também
teve Mãe — Deus quis ser filho!
MARIA DE
ALMEIDA
O Município, 23 de julho de 1935.
O Município, 23 de julho de 1935.
***
OS OLHOS DE MINHA MÃE
Luzes benditas
sobre a minha vida obscura,
Que esparge o
amor materno — imenso lampadário!
Sendas que me
levais à região tão pura
Onde esse amor
palpita em amplo santuário!
Notas
sentimentais da humana partitura,
Caprichoso
labor do Artista extraordinário!
Páginas de
orações e fina iluminura,
Minha leitura
sã, meu vívido breviário!
Olhos de minha
mãe! oh luzes peregrinas!
Vós possuís o
dom de irradiar esperança
Entre
cintilações de verdes turmalinas!
Nos alcantis
da dor, nos crespos torvelinhos,
Em vossa chama
encontro eflúvios de bonança,
Vejo estrelas
nos céus, flores pelos caminhos...
REGINA GLÓRIA
CASTRO ALVES GUIMARÃES
Brasil
Feminino, maio de 1932.
Continua...
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...