CASTIGO REDENTOR
Não te
envergonhes nunca do teu crime!
Por mais que
te ele de remorsos vare.
Beija-lhe o fruto,
e, à luz que te redime,
Despreza o modo
porque o mundo o encare!
Ser mãe — é um
poema que se não exprime:
E muito embora
um sol de amor o aclare,
Não há inverno
que se lhe aproxime
Nem primavera
que se lhe compare...
Deixa que,
sobre ti, chovam ápodos!
— Da Sociedade
os preconceitos todos
Bem pouco
valem, de banais que são!
Mãe — ninguém pode
macular-te o brilho.
— Pecaste...
Porém, Deus, dando-te um filho,
Deu-te o
castigo e deu-te a redenção...
LUÍS PISTARINI
O
Momento, 28 de novembro de 1938.
***
LENDA
MALAIA
Ela era pobre,
ela era velha e feia,
Mas seu filho
queria-lhe. Uma fada
Lhe disse,
certa vez: — A Água encantada
Do Padã tudo
aclara e aformoseia.
E ela, na água
lavando-se, em sereia
Aparece, de
súbito, mudada.
E a pele que
trazia, encarquilhada,
Tira e despreza,
inútil, sobre a areia,
Corre ao
casebre. Mas seu filho a estranha
Diante daquela
mutação tamanha.
Não a conhece
mais, logo a repele.
E ela despiu a
que era de ouro e rosa,
E voltou a
vestir a antiga pele,
Preferindo ser
mãe a ser formosa.
MARTINS FONTES
***
O CANTO DA INDIGÊNCIA
O CANTO DA INDIGÊNCIA
Como um
terrível açoite
O vento zurze,
esfuzia,
E aumenta o
horror à invernia
— Negra,
insondável — a noite.
Pelas frinchas
da cabana
Penetra, aos
flocos, a geada.
E a ventania,
arrojada,
Acomete,
arruína, dana.
A palhoça, a
que mal cobre
Teto de colmo,
vacila.
Não existe em
toda Vila
Outra choupana
mais pobre.
Uma menina,
que a fome
Abate, linda e
trigueira,
Está sentada à
lareira,
De onde o fogo
já se some.
A miséria
transparece,
Desoladora, maldita,
Na enxerga
onde a mãe se agita,
No berço onde
o irmão fenece.
E o pobrezinho,
que verga.
A suplícios
raladores,
Chora. E a mãe,
ante essas dores,
As próprias
dores posterga.
— “Filha!”
chama. Prontamente.
Corre a filha
ao pobre leito,
Onde, o
semblante desfeito,
Em ânsias, se
estorce a doente.
— “Teu
irmãozinho é quem chora?
Podes dizer
sem receio...
Quisera
dar-lhe o meu seio,
Como te fazia
outrora.
Mas não
consigo, querida,
Levantar-me.
Tu me ajudas?
Meu Deus, que
penas agudas!
Que
sofrimentos! Que vida!"
Mas, terna,
diz a criança:
— “Mãezinha,
não te incomodes!
Pois tu não
vês que não podes
Erguer-te? que
isto te cansa?
Olha: vou
vê-lo, mãezinha.
Repousa, sim?
Eu te rogo.
Dorme!” E, solícita,
logo
Para o berço
se encaminha.
Um sofrimento
infinito
Prostra-a. No
entanto, chorando,
Põe-se a
cantar, embalando
O berço do
pequenito.
HEITOR LIMA
O
Malho, 11 de novembro de 1905.
***
SER MÃE
Ser mãe, é desdobrar fibra por fibra
O coração! Ser
mãe é ter no alheio
Lábio que
suga, o pedestal do seio,
Onde a vida,
onde o amor, cantando, vibra.
Ser mãe é ser
um anjo que se libra
Sobre um berço
dormindo! É ser anseio,
É ser
temeridade, é ser receio,
É ser força
que os males equilibra!
Todo bem que a
mãe goza é bem do filho,
Espelho em que
se mira afortunada,
Luz que lhe
põe nos olhos novo brilho!
Ser mãe é
andar chorando num sorriso!
Ser mãe é ter
um mundo não ter nada!
Ser mãe é
padecer num paraíso!
COELHO NETO
MÃE
Carinhosa!
visão, reflexo verdadeiro
Do mais
sagrado amor — humanidade e santo,
És para todos
nós (exceto os que, no entanto,
Como eu já não
te vêm) — amparo hospitaleiro!
Encarnação do
bem, ao teu mavioso canto
A dor se
lenifica; o teu olhar fagueiro
Esparge em
nosso ser — um fraternal luzeiro
Que desfaz o
sofrer que nos maltrata tanto!
No teu regaço
amigo e acolhedor, propício,
Recebes com
prazer — no mais estoico exemplo
Um filho
pervertido, ingrato ou adventício!
Sem ti, sem
leu amor... Ó Mãe! eu te contemplo
Ai! de mim,
sofredor, que vivo orfandade,
Pela
imaginação, no prisma da saudade!
ULISSES DINIZ
(1951)
Continua...
Continua...
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