5/04/2019

Paulo Mendes Campos - Diário da Tarde (Ensaio)



Paulo Mendes Campos - Diário da Tarde
Paulo Mendes Campos pode ter sido tudo, mais não era cronista preso a ideários formais de literatura. Isso é evidente nas suas crônicas, como se vê na “amplidão de suas escolhas de traduções e paixões literárias, bem documentadas na interessantíssima coletânea Diário da Tarde”. Sempre de maneira mais coloquial possível, em linguagem de simples entendimento, “vai do futebol e dos roteiros de bares a Christian Morgenstern e Borges, passando por Dante, Cummings, Eluard, Montale, Auden e tantos outros. – disse Claudio Willer em artigo na Revista Agulha.
O sábio editor Ênio Silveira já dizia na orelha do livro Diário da Tarde: “Paulo Mendes Campos é, mineiramente, a soma de várias personalidades que se superpõem, que se mesclam, ensejando-nos a cada instante uma visão de sua pessoa, que no instante seguinte já é outra, nenhuma delas permitindo clara e completa definição do todo. Algo assim como se ele fosse um calidoscópio, regalando nossos olhos com sucessões aparentemente infinitas de arranjos, todos eles fascinantes”.
Deve-se dizer que Ênio Silveira não fazia orelha de livro pra qualquer um. Se o autor, mesmo estreante, merecesse algumas palavras assinadas pelo editor na orelha de seu livro, poderia se considerar um privilegiado. Pois, aproveitando a ocasião desse registro, já é bom alguém pensar reunir em livro as orelhas que o Ênio Silveira escreveu. Teremos então um compêndio histórico da literatura brasileira, dentro de um ciclo que delimita bem claro a importância desse intelectual literato, que teve como escrivaninha o prelo e escolheu o arrojo da edição corajosa para exercer sua arte: a literatura como um todo.
É provável que o “Diário da Tarde” seja um dos livros menos conhecidos de Paulo Mendes Campos, entre os muito desconhecidos e conhecidos que escreveu. Aqui o poeta escolheu a informalidade estética e temática, ajuntando num pacote de temas e escolhas um complexo cotidiano que supera a crônica, a poesia, o conto, o comum e o excepcional. Na verdade, ao final de todo capítulo chega-se à conclusão que cada pacotinho de temas tem na verdade a informalidade de um bate-papo de botequim.
“Um painel da barafunda das minhas curiosidades, que não foi projetado, mas resultou dessas atenções múltiplas que surgiram sempre na minha vida e estão refletidas neste volume involuntário” – assim o próprio Paulo Mendes Campos descreveu o “Diário da Tarde”.
Paulo Mendes Campos – poeta do qual não se pode falar sem mencionar o nome inteiro – foi anotando, sob o roteiro fixo de cinco temas, quais sejam: Artigo Indefinido, O Gol é Necessário, Poeta do Dia, Bar do Ponto, Pipiripau, Grafite, Suplemento Infantil e Coriscos, os textos, elaborados em aparência informal, que contemplam o universo do dia-a-dia de todos nós. São temas que tratam da importância da vida, da existência pela qual passa o cidadão comum e o burocrata, o padeiro e o médico de plantão, a florista e o jornaleiro, o padre e o mais devotado, fervoroso e carola fiel.
E aqui não cabe mais lero-lero, nem farofa, nem quero-quero, senão encerrar ainda com as palavras finais de Ênio Silveira na orelha: “Humor, ironia, mordacidade, beleza poética, esporte, frases soltas (que, por vezes, fazem mais sentido do que parágrafos inteiros...), emoção de viver e de sentir, tudo isso está aqui, tudo isso é Paulo Mendes Campos, a soma sendo maior do que o total das partes. Um belo livro. Um documento. Um testemunho”.
Tê-lo é preciso, mas aonde? Catar nos sebos, claro.

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