O figuinho da figueira
Era uma vez um homem que
tornou a casar, e tinha uma filha do primeiro casamento que era tratada pela
madrasta mal a mais não poder. Tinham uma figueira lampa no quintal, para onde
a madrasta mandava a enteada guardar os figos por causa da passarada. Quando a
pequena ia para o campo, a madrasta seguia-a também para contar os figos,
dizendo-lhe que a matava se lhe faltasse algum. Um dia veio o milhano e comeu
três figos, por mais que a pequena o enxotasse. Quando estava já a anoitecer a
madrasta veio revistar a figueira, e deu pela falta de três figos. Logo ali
matou a enteada e a enterrou debaixo da figueira, e veio para casa dizendo que
a rapariga tinha fugido. O pai pensou que ela teria ido servir para alguma casa
longe. Um dia que o pai passava por debaixo da figueira, ficou pasmado de ver
debaixo dela muitas flores, e entre elas um lindo botão de rosa. Foi para as
colher, mas sentiu uma voz, a dizer-lhe:
Não me arranquem os meus cabelos,
Que minha mãe os criou,
Minha madrasta mos enterrou
Pelo figo da figueira
Que o milhano levou.
Ao princípio o homem ficou sem
saber o que havia de fazer; mas por fim resolveu-se a fazer uma cova naquele lugar,
para ver que coisa era. Depois de estar já bem funda a cova, descobriu uma lajem,
levantou-a, e deu com uma escadaria por onde desceu. Quando chegou lá abaixo
encarou com a filha, que estava muito linda e muito bem vestida:
— Filha, como é que vieste ter
aqui?
— Quando a minha madrasta me
enterrou, apareceu-me aqui esta casa, e todos os dias vem aqui uma senhora
dar-me de comer.
O pai ficou vivendo com a
filha, e não quis mais saber da mulher.
(Algarve)
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Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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