Março Marçagão
Era uma vez um homem, que
casou com uma mulher desmazelada, e depois dizia o homem:
Oh mulher, oh
mulher,
Eu mercara-te uma
roca…
A MULHER
— Isso não,
marido, não
Que me fá-la cara
torta;
Com o dinheiro e
com a roca
Compraremos um burrinho,
O burrinho leva os
odres,
E os odres leva o
vinho.
MARIDO
— Oh mulher, oh
mulher,
Eu mercara-te umas
meias…
A MULHER
— Isso não,
marido, não
Que me fá-las
pernas cheias.
Antes com esse
dinheiro
Compraremos um
burrinho,
O burrinho leva os
odres
E os odres leva o
vinho.
***
Di-lo o homem:
— Oh mulher, tu não fias? tu
não trabalhas?
— É um dia santo muito grande,
não se pode hoje trabalhar.
Ao outro dia ele perguntou o
mesmo, e ela o mesmo respondeu, e ele disse assim:
— Deixa, que aí vem o Março
Marçagão que ele to dirá.
— E eu pego numas poucas de
esteiras e boto-as no primeiro de Março a corar.
— Ele não quer esteiras, quer
antes meadas.
O marido na véspera do
primeiro de Março pegou num capote muito velho, cobriu-se para fingir um velho
muito corcovado, e a mulher pela manhã cedo levantou-se e foi por muitas
esteiras a corar; e ele apareceu-lhe ali em velho e disse assim:
— Essas são as meadas que tu
tens para corar?
— São.
— Então teu marido não te
dizia? Espera, que eu te falo.
Pega num pau, bateu, bateu até
não poder mais, e deixou-a por morta. Assim que ela se pôde erguer foi para
casa. A primeira coisa foi comprar roca e fiar. Depois já dizia o homem:
— Então era o que te eu dizia
ou não?
Março, Marçagão
Cura meadas
Esteiras não.
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Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2019)
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2019)
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