As favas
Era uma vez um rei que tinha
por costume andar de noite escutando pelas portas para saber o que se passava.
Viu luzir por um buraco da fechadura, chegou o ouvido à escuta, e estavam uns
sujeitos conversando. Dizia um:
— Eu antes queria uma noite
dormir com a rainha, do que ter muitos contos de réis.
O rei ouviu aquilo e tomou-o
de olho. No dia seguinte mandou-o vir ao palácio. O rapaz ia muito atrapalhado
da sua vida. O rei tinha dado ordem ao seu cozinheiro de lhe fazer um jantar
com favas cosidas em água e sal, favas guisadas, favas ensopadas, favas com
arroz, favas com presunto, enfim, favas de todos os feitios. Assim que o rapaz
apareceu na presença do rei, este levou-o para uma mesa, e disse-lhe que era
para lhe oferecer de jantar.
O rapaz obedeceu; vieram as
favas cosidas, comeu. Vieram as favas guisadas, comeu; vieram favas ensopadas,
comeu. Por fim já não podia mais, e o cozinheiro sempre a trazer-lhe favas de
todos os feitios. O rapaz já estava tão farto e enjoado de favas, que pediu aos
criados que lhe não trouxessem mais.
Veio o rei à sala de jantar, e
perguntou-lhe:
— Então, por que é que não
comes mais?
— Oh, senhor! isto tudo são
favas; comi muitas no princípio, mas agora estou farto de favas.
— Sim, tudo são favas, quer
sejam cosidas ou ensopadas. Pois vá-se você embora, e não torne a dizer que
dava toda a riqueza do mundo para dormir uma noite com a rainha; e lembre-se do
que lhe aconteceu, por que:
— Favas, todas são favas, e
mulheres todas são mulheres.
Assim ficou curado de tolo.
(Algarve)
---
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2019)
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2019)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...