As Asas Brancas
Sempre
o mesmo olhar doloroso! Uma constante expressão de mágoa, esse abandono, que é
o tédio da vida! Porque é que na flor dos anos, quando a existência se purpúrea
com todas as graças que se entreveem apenas em sonho e se veste das alegrias
que a rodeiam, como uma criança enfeitando-se distraída com as florinhas
espontâneas, tu, bela, sentida, deixas refletir pela transparência da tua face
pura um clarão pálido e incerto como de agonias e desespero, como a
fosforescência de um grande mar que estua? Diante de ti sente-se uma opressão
estranha, a mudez sagrada de uma grande floresta, o terror gélido, de quem
entra na caverna de uma sibila. Porque é que os teus vinte anos, as formas
arrebatadoras do teu flexuoso corpo de sílfide, que verga pela dor, mais lânguido
e gentil do que a palmeira solitária embalada nas bafagens mornas vindas da amplidão
remota do deserto, como é que toda esta adolescência, que te cinge como auréola
de encanto e atrativos, me faz ter medo de ti, me prende a voz temerosa e
balbuciante, que ousa às vezes perguntar-te:
Donde
vieste? Em que penas? Que véu te acena e está chamando de longe? Porque te
escondes dos olhos que choram de ver-te assim desolada, na consternação de uma
angústia intraduzível por palavras humanas? Por que não falas, e nos contas o
que sofres? Por que te deixas ficar horas esquecidas com a mão firmada ao
rosto, suspensa numa contemplação divina, irradiante, de um modo, que ninguém
ousa dizer se és da terra, se és a encarnação de alguma essência arcangélica
que anda errante no mundo a santificar o amor no sofrimento?
***
Às
vezes o teu rosto, onde se pode ler um enigma que se não destrinça, tem a
lividez de cera, e a claridade que parece conter em si o jaspe. Então julgo
ver-te uma santa, sob o aspecto de penitente que acha em cada sucesso da vida
uma tentação oculta nas aparências mais risonhas, no folguedo mais descuidado e
inocente, do mesmo modo que o áspide se esconde no alegrete das mais perfumadas
flores ou o sono letal na sombra da mancinela verdejante e copada, aberta ao
sol, como uma escrava sustentando a umbela com que abriga do rigor das calmas a
voluptuosa odalisca.
Os
vinte anos são a alegria, a inocência, a expansão; ainda não viveste bastante
para provar o travo amargo da vida, não sabes conhecer a tormenta que há de vir
pela nuvem que negreja, nem a bonança pelo santelmo, nem os parcéis pelo
refluxo da vaga marulhosa, nem o porto pelo perfume embalsamado da terra. Tu
passas na vida como um meteoro fulgurante que não procura aonde irá cair, como
uma criatura sonâmbula que não vacila, não hesita diante do abismo que
transpõe, nem deixa possuir-se da atração irresistível porque a desconhece. A
vida é assim para ti; passas despreocupada do mundo, levada na ondulação
saudosa dessas vozes interiores que te segredam mistérios indefiníveis que
fazem sentir o desejo de voar para o alto, até perder-se no azul.
Os
teus cabelos, quando os deixas cair destrançados sobre os ombros de marfim,
agitados pela brisa vespertina que vem confidenciar contigo à janela, que olha
para o ocidente, esses cabelos louros, extensos, são como as cordas de uma harpa,
em que as imagens incoercíveis dos teus pensamentos vêm falar do céu, do amor,
no frêmito ligeiro, quase imperceptível das vibrações que só tu compreendes.
Consternada
e muda como uma estátua, a Níobe grega, o teu silêncio incute uma sublimidade
profética; parece guardar a impressão do selo mais tremendo do Apocalipse, — a missão da mulher forte.
***
Quem
sabe se é o amor que a transporta assim para as solidões, como a pomba que vai
esconder-se na rocha alcantilada? O amor que esmalta a vida de harmonias e
encantos, que acorda as virações para levarem longe o pólen fecundante, que
abre o cálice das flores para as abelhas tocarem os nectários deliciosos, que
une o gemido do regato trepido com o ruído, brando que adormece, do canavial
que orna as margens sinuosas? O amor é um amplexo, a identificação; como
poderia divorciá-la com a vida, mudar a sua alegria numa tristeza que é como o
pressentimento do sepulcro? Aquele segredo incomunicável oprime, aterra como a
esfinge propondo o enigma.
Ela
cada vez andava mais desfalecida, pendia de cansaço, ofegava; mas procurava
iludir os desvelos da família com um vigor que não tinha, como sucede ao
náufrago quase a aferrar a terra, de que a ressaca da onda o afasta, e que
hesita se deve lutar mais tempo, se deixar-se engolir nas voragens do oceano.
Gravitaria ela em volta de um mundo em que procurasse absorver-se, e a vida da
terra, de cá, fosse como o refluxo que a impelia para longe? Pobre flor, que se
debruça nas bordas da sepultura, será uma ilusão quanto a sua alma ingênua
sente? Serão uma mentira todas as harmonias que se modulam lá dentro? O tapiz
verde da relva fresca, lúbrica, que a chama para vir doidejar ali num volteio
feérico, febril, esconder-lhe-á o lodo de um charco estagnado que a há de
engolir para sempre?
Tenho
medo de vê-la assim, com os olhos fitos no horizonte, nessa morbidez do êxtase;
a vertigem pode sacudi-la, e precipitar-se, como a borboleta prateada e
indiscreta. A sua alma eleva-se para o céu; porque voa tão cedo para cima a névoa
da madrugada, de uma alvura nitente? A andorinha quando parte, voa na asa da
rajada hibernal que a arrebata.
Mas
o mundo acariciou-a sempre; porque se esconde pois e foge dele? Será a
reminiscência viva do foco de luz donde saiu, que lhe inspira tamanha ansiedade,
e lhe abre na alma uma saudade vivíssima, que mata? Às vezes está tranquila,
imóvel, como quem escuta a toada de um concerto mavioso que embala e com que se
adormece. Oh, quem ousará despertá-la? Seria perturbar a cristalização de uma
gota de orvalho que se transforma em pérola. Outras vezes tem o olhar pávido,
firme, de quem contempla e pasma perante uma visão imensa e augusta. Que
aparição risonha virá falar-lhe? Eros, na solidão remota da noite? Será o
desejo de vê-lo, o desalento do impossível, que a fazem reconcentrar assim
nessa dor? Uma lágrima era a gota do óleo aromático da alampada escondida; em
vez de fazê-lo desaparecer, envolto na nuvem branca e etérea, a lágrima
prazê-lo-ia como um grande astro que atrai após si miríades de planetas.
***
A
tarde declinava amena, festiva, com o último lampejo de graça que deixa
pressentir já a melancolia do outono. Ema ergueu-se da mesa; o rosto estava
deslumbrante de transfiguração, possuída do sentimento do infinito, que lhe
dava uma expressão sobre-humana, excelsa, que se não podia fitar, semelhante à Seraphita enlevada nas iluminações
swedenborgianas, ao transpor os precipícios icários, inacessíveis dos fiordes
da Noruega.
Naquela
tarde parecia opressa por uma angústia mais intima. Segui-a, queria admirá-la
na altura a que se remontava, queria que me fizesse herdeiro do seu manto
profético, no instante em que se librasse no carro de fogo, como Elias. E ela
era bem a profetisa do deserto. Aproximei-me. Estava serena e plácida, como
quem mergulhara no oceano da contemplação. De mais perto vi que dormia, com um
sono hipnótico. Ficara-lhe um sorriso estampado nos lábios; parecia o involucro
de uma crisalida misteriosa; a borboleta voara para a luz, abandonara-o na
terra.
Conservava
então um livro sobre o regaço; a mão inerte repousava sobre a página. Um leve
sinal notava uma frase profunda em que a alma se lhe absorvera: “Um anjo está
presente a um outro, quando ele o deseja.”
Procurei
ver de quem era o livro. Era escrito por Swedenborg, o patriarca dos teósofos
do norte, o que levou mais longe as relações com o mundo invisível. O livro
intitulava-se: A sabedoria angélica da
omnipotência, omnisciência, omnipresença dos que gozam a eternidade, a
imensidade de Deus.
Ema
acordou de súbito. Senti um estremecimento de terror, começava a compreender a
sua solidão. Eu mesmo tinha estudado a segunda
vista, coligido alguns fenômenos de sugestão que se passavam no meu espírito,
conseguira por uma excitação nervosa perene a hipnotização voluntária.
***
Também
no livro De varietate rerum descreve
Jerônimo Cardan a faculdade que tinha de experimentar o êxtase espontâneo, e de
tornar objetivas as imagens criadas na sua mente: “Quando eu quero, vejo o que me apraz, e isto não
só com o espírito, mas com os olhos, com essas imagens que eu via na minha
infância. Mas agora creio que elas são o resultado das minhas ocupações. É
certo que nem sempre possuo esta faculdade, contudo não a tenho senão quando
quero. As imagens que eu vejo estão sempre em movimento; é assim que vejo as
florestas, os animais, os diversos países e tudo quanto eu quero ver. Creio que
a causa de todos estes efeitos está na atividade da minha imaginação e numa
vista penetrantíssima. Desde a minha infância tinha de comum com Tibério César
o poder ver na obscuridade mais profunda, como em pleno dia. Porém não
conservei muito tempo esta faculdade. Apesar disso vejo ainda alguma coisa,
posto que não posso distinguir bem o que vejo; e atribuo este efeito ao calor
do cérebro, à sutileza dos espíritos vitais, à substancia do olho, e à energia
da imaginação.” (Lib. IV c. 43.)
É
esta uma qualidade vulgaríssima nos povos do norte, principalmente os
insulares, conhecida sob a denominação de Second
sight. Aí a imaginação tendo pouca variedade de paisagem que a fecunde, volta
sobre si o que há edificado e exagera-lhe as proporções. Por isso as teogonias
do norte são terríveis. As avalanches suspensas a precipitarem-se, os nevoeiros
difundidos por toda a parte como um sudário imenso e frio, a aurora dos polos a
desdobrar-se esplêndida, tudo faz sonhar de um mundo fantástico, escutar essas
toadas vagas, indefiníveis dos espíritos que se anunciam pelo ressoar de uma
harpa longínqua. O dom da visão é comum; é assim na ilha de Ferroë. Que virgens
se não ostentam numa aparição repentina, e que o vidente procura, sem nunca
mais poder encontrá-las! Balzac, o observador sem igual do coração, sentiu toda
a poesia do norte no poema de Seraphita;
é um mistério, o enlace da filosofia e da poesia, um êxtase indecifrável de
Swedenborg, contemplado nas fiordes da Noruega. O delírio de Seraphita é o problema incessante da
percepção imediata; o seu amor é mais puro que o ideal de Dyotima, é ele que
lhe dá a segunda vista.
Taishatrim e Phissichin
são os nomes que em língua gaélica se dão aos que tem esta faculdade. Os fatos
observados são inúmeros, o seu estudo é dos nossos dias. Kant combateu a
doutrina visionária de Swedenborg, mas não atendeu que este fenômeno físico era
todo sentimental; viu no patriarca dos videntes do norte um impostor. A vida
exemplaríssima de Swedenborg é um desmentido completo e irretorquível aos
argumentos desta ordem.
Como
explicar a inspiração continua, a segunda vista? A alma paira entre dois mundos
— o físico com que se relaciona pelos
sentimentos, o físico com que se relaciona pelos pressentimentos; se é atraída
para o mundo dos corpos, predominam nela os instintos, e as sensações, todas
relativas, só lhe advém pela presença dos objetos; se a alma por um desejo
veemente se eleva do estado de anima
ao de spiritos, os sentimentos
desprendem-se do nexo das relações terrestres, e conhecem tudo independente das
sensações pela representação subjetiva. É o que acontece aos poetas, cantando a
beleza de formas não sonhadas, a reminiscência de harmonias não ouvidas.
***
Ema
estava naquela tarde tão afável! Tinha por certo a consciência de ir em breve
completar-se na essência de algum anjo. As suas falas eram como suspiros.
Lançou-me um olhar interrogativo, de quem temia fazer-me uma pergunta
indiscreta. Eu desconhecia-lhe aquela afabilidade de serafim, costumado a vê-la
sempre aérea, desdenhosa do mundo, radiante como na transfiguração do Thabor.
Apertei as mãos dela entre as minhas, queria tirar um som deste instrumento
celeste, cujo segredo de harmonia era só percebido pelos anjos. Se pudesse
desferi-lo, havia de perguntar-lhe o motivo de tanta tristeza, a intensidade
dessa dor tão intima, tão espiritual, que se não pode exprimir na materialidade
fônica da palavra. Ela adivinhou o meu desejo:
—
Tens uma vontade enérgica? — perguntou-me quase a medo e de um modo
sibilino. Seria uma frase abrupta para qualquer, e ininteligível até; eu porém
que devo à atividade só desta faculdade tudo quanto sou, as grandes dores, os
impulsos irresistíveis, as glórias sonhadas, a realização dos mais exíguos
apetites, que a encontro na intensidade absoluta do Fiat, que é Deus, que a vejo nos grandes fatos do espírito, a
Religião, o Direito e a Arte: na religião manifestando-se emotivamente na fé; no
direito, no acordo dos contratos individuais; na arte, no ponto onde os gostos
diversíssimos se harmonizam, isto é o belo; eu, repito, compreendi aquela
interrogação na sua plenitude. E começava a conhecer mais o poder da vontade porque acabava de observar o
resultado do ato em que a exercera.
Ema
fitou-me com um olhar profundo; o rosto era majestoso e santo, como o
frontispício de uma catedral da Idade média; as flechas, as linhas arquitetônicas
a infinitivarem-se para o alto, eram os seus cabelos; o olhar, o olhar que me
oprimia nesse instante, era misterioso como uma ogiva sombria. Tive o medo do
neófito, quando ouve mugir a caverna, e escoar-se a brisa gélida e odorante
pela fenda do penhasco, e quase que se esvai em terra sem sentidos, ao ver atônito
as convulsões do hierofante. Ema perguntou-me se eu cria nas relações com o
mundo invisível. Hesitei um instante, depois volvi:
—
Creio, mas não as sei demonstrar por uma
fórmula, que, embora refutável, tenha valor filosófico. — Ela ouviu-me com o pesar e serenidade de uma
jovem esposa na sua viuvez, que ouve o filhinho a perguntar-lhe pelo pai.
Depois murmurou, encostando a face sobre o meu peito:
—
És tão novo ainda, e porque matas em ti
já o sentimento pela reflexão? A reflexão é fria, é terrena, não compreende sem
decompor para recompor. Como se há de ela elevar ao simples, ao absoluto, que
tem por atributo supremo a indivisibilidade? A luz, que é incoercível, não se
espelha na face quieta do lago? O sentimento é assim; só ele te pode levar além
das relações e das contingências. A substancia é única; esta essência dela é
que prende pela unidade a multiplicidade dos atributos. Todas as vezes que te
absorveres na unidade que te alia como atributo ou modo à substancia, entraste
na essência de todas as coisas, porque o simples que atua nesse momento em ti,
é o mesmo em que tudo existe. Vibra em ti a harmonia universal.
E
continuou com palavras quase imperceptíveis. Estava em êxtase, no êxtase da
abstração, como o sentia Newton quando determinava a essência de uma ordem de
fatos complexos, na lei que havia ficar eterna, e a que havia imprimir o seu
nome. Tive vontade de lançar-me por terra, diante daquele espírito
incompreensível; precipitava-me se ela me dissesse como satanás, quando
arrebatou Jesus ao pináculo do templo: — Haec
omnia tibi dabo, si cadens adoraveris me.
***
Quando Ema saiu da sua mudez sublime, recostou-se sobre o meu ombro com uma graça infantil:
—
Ainda não sabes por que ando triste?
Olha, uma tarde, pus-me a escutar o murmúrio de um regato; parecia-me ser uma
música interior. Tive vontade de saber o que dizia, de confidenciar com ele, de
comunicar minha alma, que aspirava numa sede de amor. Ao trepidar mavioso da
veia cristalina, sonhava, devaneava, enleada, embevecida. Adormeci. Pareceu-me
então aquele cicio, como de asas de um querubim que baixasse ao meu lado; via a
claridade de alvura das suas roupagens longas, estava silencioso ao pé de mim.
Mostrava a expressão da serenidade augusta, uma aparência que consolava.
Acordei, e o mundo afigurou-se-me um desterro, a vida um cárcere, tinha uma
impaciência de voar, de fugir, o desejo irrepressível de tornar a ver o rosto
risonho daquele que me veio mostrar o mundo intransitável para a vida, como
sarçal espinhoso. De outra vez apareceu-me, brilhante como Iahveh na
sarça-ardente. Era sempre silencioso. O amor emudecia-me diante dele, quis
segui-lo na visão que se esvaecia lentamente, mas o corpo estava preso aos
limos terrenos, como o cordeiro que se prende nas urzes do matagal. A anciã do
extremo esforço despertou-me. Foi assim que nasceu essa melancolia profunda,
concebida diante do impossível. Mais tarde conheci o mistério da vontade; isolei-a em mim, para revocar o
ente dos meus sonhos à realidade de um instante. Quase que me abrasava na
intensidade do querer. Ele apareceu-me mais triste. Perguntei-lhe se amava? Sorriu-se.
Que era preciso para completarmos uma mesma essência? o sorriso converteu-se
numa alegria doida, e disse-me vagamente — voa da terra. Nunca mais voltou a visitar-me
no desolamento em que vivo. A vida assim é o vegetar do lixo na umidade das lágrimas
derramadas de hora em hora. Por que não hei de voar da terra?
***
Ouviu-se
trindades nesse instante; cerrava-se a noite, frígida; o luar vinha saudoso.
Ema pediu-me para deixá-la só. Por alta noite via-se a luz derramar-se pela
vidraça do seu quarto, luz viva, silenciosa, como da alampada do filósofo
hermético surpreendendo a natureza em algum dos seus segredos mais recônditos.
Ema
lia no livro predileto, que eu deparara aberto sobre o regaço. Pouco depois começou
a alvorada. Quando o silêncio era mais solene e a natureza inteira parecia
reconcentrar-se em santos mistérios, sentiu-se em casa um estrondo surdo, como
o baque de um corpo morto, depois o bracejar, de quem se debatia nas vascas do
paroxismo. Ergueram-se à pressa, foram após o eco. Era no quarto de Ema. Seria
algum pesadelo longo? A porta cedeu à prontidão do socorro. Foram encontrá-la
em terra, morta, a pouca distância do fogão, que saturava o ar ambiente de
exalações carbônicas. O corpo já estava frio; o rosto tinha a palidez do
mármore. A pouca distância dela estava aberto o livro fatal das exaltações
místicas de Swedenborg.
Lia-se
esta frase profunda:
“A
inocência dos céus produz uma tal impressão na alma, que os que são afetados
dela guardam um transporte que lhes dura toda a vida, como eu mesmo
experimentei. Basta talvez ter uma mínima percepção para ser para sempre mudado, para querer ir aos céus e entrar
assim na esfera da Esperança.” Seguiam-se outras palavras. Tive medo de ler
mais, porque começava também a sentir a sedução da melancolia e reconcentração
subjetiva, que leva ao suicídio.
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