A paraboinha de ouro
Era de uma vez três irmãs, que
viviam juntas; a mais nova punha à janela uma bacia com água e ali vinha
espanejar-se um passarinho, que era um príncipe encantado, que falava com ela.
As irmãs tomaram-lhe grande inveja, e procuraram jeito de acabar com as
conversas; espreitaram e viram o príncipe, e meteram na bacia de água muitas
navalhas de barba. Quando ao outro dia veio o passarinho lavar-se, cortou-se e
foi-se embora; a pequena veio à hora do costume, e o passarinho não aparecia;
só quando olhou para a água e a achou cheia de sangue e com as navalhas de
barba, é que compreendeu a traição das irmãs. Foi por esse mundo além,
perguntando se alguém sabia onde estava o príncipe encantado; até que chegou a
casa da Lua. A mãe da Lua disse-lhe:
— Ai menina, que vem aqui
fazer? Se o meu filho a acha cá… Olhe que ele tem uma cara muito arrenegada.
A menina sempre lhe contou o
que queria, e a velha escondeu-a e disse-lhe que havia de perguntar ao filho,
onde é que estava o príncipe. Por fim entra a Lua, muito arrenegada, dizendo:
— Cheira-me aqui a fôlego
vivo.
A velha lá sossegou a Lua, e
perguntou o que a menina queria; respondeu a Lua:
— Eu sei lá dele! todos os que
estão doentes me fecham as janelas assim que anoitece! O Vento é que há de
saber.
A mãe da Lua deu à menina uma
paraboinha de ouro, e ela foi ter à casa do Vento. A mãe do Vento também
perguntou ao filho, e ele disse:
— O príncipe está muito longe
e eu já lá cheguei, mas como está doente fecharam-me todas as janelas. O Sol é
que sabe onde é que o príncipe está.
A menina foi-se embora, e a
mãe do Vento deu-lhe uma roca de ouro cravejada de diamantes. Até que chegou à casa
do Sol; a mãe tratou-a muito bem, e nisto entrou o Sol muito radiante e alegre,
e disse onde é que estava o príncipe, e ensinou-lhe o caminho. A mãe do Sol
deu-lhe um fuso de ouro.
A menina chegou defronte do palácio
e sentou-se, mas estava tudo fechado. Puxou da sua paraboinha e pôs-se a dobar.
As criadas do palácio viram aquilo e foram-no dizer à rainha, que lhe mandou
dizer que queria comprar aquela paraboinha. Ela respondeu:
— Só se me deixarem entrar no
quarto do príncipe.
E pôs para a banda a
paraboinha, e começou a fiar na roca de ouro cravejada de diamantes. Foram dizê-lo
à rainha, e ela tornou a mandar-lhe pedir que lhe vendesse a roca e a
paraboinha; a menina respondeu, que só se a deixassem entrar no quarto do príncipe.
A rainha quis, e a menina foi ter ao quarto aonde estava o príncipe doente e
cheio de feridas. A menina chegou-se ao pé da cama, falou-lhe, e ele
conheceu-a; contou-lhe então a traição que as irmãs lhe fizeram com inveja. O príncipe
ficou muito contente com a verdade e melhorou de repente, contou tudo à rainha
e casou e viveram ambos muito felizes.
(Algarve)
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Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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