A adivinha
do rei
Tinha um rei um ministro em quem
depositava toda a confiança; mas uma vez tal teiró lhe ganhou, que resolveu dar
cabo dele e disse:
— Não tenho outro remédio senão
mandar-te matar; mas como em tempo te estimei muito, ainda te deixo uma
esperança, e é que me mandes cá a tua filha, para ver se ela é capaz de
adivinhar o meu pensamento, o qual vem a ser: Que não há de vir nem de noite,
nem de dia; nem nua, nem vestida; nem a pé, nem a cavalo.
Foi o ministro para casa, muito aflito,
como era de esperar, e contou as suas tristezas à filha. Ela como esperta,
disse:
— Deixe estar, meu pai, que eu já sei
qual é o pensamento do rei, e desta lhe juro que o hei de salvar.
Preparou-se, o no dia seguinte arranjou
as suas coisas, de modo que entrou no palácio ao lusco com fusco; ia com uma
camisa fina de cambraia em cima do corpo, e levada às cavaleiras de um criado
velho que tinha. O rei assim que a viu, conheceu que o lusco com fusco não era
nem noite nem dia; que vindo em camisa não vinha vestida, mas também não estava
despida; e que às costas do criado não estava a cavalo, mas também não estava a
pé. Louvou muito a esperteza da menina, e disse-lhe que fosse dali dar parte ao
pai que estava perdoado, e que tornava a entrar na sua confiança, porque quem
tinha filhas assim espertas era homem de capacidade.
(Porto)
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Pesquisa
e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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