É preciso voltar aos clássicos
Os estudos humanistas são os
meios fundamentais para emancipar o espírito da tirania da máquina e da
brutalidade de quem as forja.
Quando falamos de um mundo novo,
devemos assegurar-nos de que dispomos dos meios necessários para criá-lo. Na
época atual falta, primordialmente, um claro e definitivo sentido da vida. Toda
gente, à falta disto, segue as vistosas luminárias e se perde em ilusões;
carece da escola de valores e torna seus os "ismos" amiudadamente
absurdos.
É preciso disciplina mental que
impulsione os homens a propor a si mesmos ideais e harmonias. E isto encontramos
nas vidas e nos ensinamentos gregos.
Shelley disse: "Nunca, era
período algum, se tem desenvolvido tanta energia, beleza e virtude; nunca foram
a força cega e a forma tenaz tão disciplinados e submissos súditos da vontade
dos homens ou menos repugnantes ao formoso e autêntico, como durante o século
que precedeu a morte de Sócrates".
Quando lemos Platão e Aristóteles,
nos impressionam com seus sentimentos de equilíbrio e de paz, com suas
determinações de manter com eles uma vida normal e regulada. Os caracteres são
analisados e se toma como ideal ao homem magnânimo. A qualidade de justiça é
considerada por Platão, e é concebida uma comunidade ideal a fim de que
possamos ver ali implantada a justiça. E, para Platão, o maior de todos os
vícios é a mentira da alma, o estado em que a luz que há em todos nós se
converte em obscuridade; e ele pensaria, agora, que este vício é penosamente
evidente em nossos dias, entre pessoas que adoram as máquinas, a velocidade, o ruído,
as sensações, não pelo bem que naturalmente derivam deles, mas porque enchem
com eles o vácuo deixado pela falta de pensamento.
"Tu, meu amigo — dizia Sócrates
— cidadão da grande, poderosa e sábia cidade de Atenas, não te envergonhas de
acumular as maiores quantidades de dinheiro, honrarias, fama, e cuidares tão
pouco da sabedoria e da verdade, — e do maior melhoramento de tua alma, que
nunca foi considerada?
A Grécia nos dá uma grande cópia
de sabedoria filosófica, e Roma exemplos práticos. O apuro dos gregos jamais
foi ultrapassado por outro povo, antigo ou moderno, o político era o seu lado
mais fraco, porque nunca puderam ir além da concepção da cidade-estado. Esta
forma de política foi incapaz de resistir à Macedônia e, posteriormente, a
Roma.
Foi Roma que teve a capacidade "regere
império populos", e esta capacidade converteu em uma cidade o que antes
era um mundo. Este gênio político foi, por certo, maravilhoso. Os romanos
aprenderam a admitir inúmeras nações vizinhas, em sua comunidade, e no ano 200
da nossa era todos homens livres do império eram cidadãos romanos. Sua
capacidade administrativa e seu gênio de realizações lhes permitiu governar a
todos com prosperidade, como nunca o mundo havia sido governado. Sua
civilização se adiantou, na Europa, durante o reinado da rainha Ana.
Por outro lado, nos aspectos
intelectuais e espirituais, a Grécia estabeleceu um nível incalculável.
Praticamente, toda a filosofia deriva de Platão e Aristóteles. Este último, foi
o farol das idades sombrias e a medida que foi estudado com maior inteligência,
sua reputação cresceu mais do que nunca. Platão, submergido na Idade Média,
como a maior parte dos autores clássicos, tem sido, desde o Renascimento, o
poço de sabedoria em que beberam todos os pensadores.
Hoje nós enfrentamos com uma
ideologia espantosa, cujos ensinamentos colocam os homens sob o nível das
bestas. As formas mais baixas da filosofia cirenaica eram elevadas e nobres
comparadas com esta. Nada parecido foi imaginado por qualquer grego ou romano.
Ao contrário, os estoicos e outros ensinaram que Deus é bom, que Deus governa o
universo, que o homem sábio se aproxima de Deus e a ele se assemelha.
Muitas gerações honrarão ainda os
gregos e os romanos pelas gloriosas poesias que produziram por mais de mil
anos. Uma característica de muitos dos seus poetas é a majestade, quase
austeridade. Homero, pertencente ainda à época primitiva, é um profeta e um
cantor. Sua poesia está cheia de aforismos e de normas de moral. Em Ésquilo,
Sófocles e Eurípedes são encontradas as mesmas atitudes, desde a maldade e a
loucura. Também entre os romanos encontramos semelhantes características...
Por tudo isso, a volta aos
clássicos talvez salve a humanidade.
---
W.A. HIRST
Revista "Vamos Ler!", 28 de junho de 1945.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...