3/30/2019

Múcio Teixeira e o "Barão Ergonte"



Múcio Teixeira e o "Barão Ergonte"

Múcio Teixeira, poeta de delicado lirismo, tivera, na fase romântica, notável prestígio entre as sinhás e sinhazinhas dos fins do Império. Conservou-se, depois, afastado das rodas literárias de parnasianos, simbolistas e nefelibatas. Fiel em política às suas convicções monarquistas, como em poesia à escola de Lamartine e Musset, deixara-se ficar para trás, como bardo das priscas eras, vivendo das antigas láureas dos tempos em que brilhava na corte burguesa de São Cristóvão e nos saraus dos barões e comendadores de Botafogo.

Quando, porém, de raro em raro, aparecia entre jornalistas e homens de letras, a todos encantava com a sua interessante figura mefistofélica, sempre com um mundo de reminiscências políticas, literárias, sociais, em narrativas pitorescas e, por vezes, picarescas.

Múcio, a quem os anos não diminuíram a vivacidade do espírito, manifestava-a na agudeza e na finura dos ditos e comentários. Assombrava principalmente a sua maravilhosa retentiva. Sabia de cor poesias inteiras suas e alheias que recitava, na órbita direita o monóculo decorativo, voz pausada e cheia, rica de inflexões.  

Dera ultimamente — inspiração talvez por sua figura física de astrólogo — ao estudo e a prática das ciências ocultas. Inteligentíssimo, foi-lhe fácil aprender todas as fantasias cabalísticas dos Mesmers, Cagloostros, Mme. de Tbébes et coettra e apoderar-se do "jargon" e da liturgia de metapsíquicos, supermentalistas, quiromantes, nicromantes, fisiognomistas etc.

Declarou-se publicamente "Hierofante", dando-se o título de "Barão Ergonte", com que assinava artigos, manifestos, receitas e proclamações proféticas, datando-as da "Sombra das Sete Palmeiras do Mangue".

A curiosidade e a ingenuidade do público ajudaram a ação ocultista do Barão Ergonte que — afirmava-se — chegou a ganhar muito dinheiro em sua "clínica particular ".
 
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Revista "Vamos Ler!", 24 de outubro de 1946.
Pesquisa e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)

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