Múcio Teixeira
e o "Barão Ergonte"
Múcio
Teixeira, poeta de delicado lirismo, tivera, na fase romântica, notável
prestígio entre as sinhás e sinhazinhas dos fins do Império. Conservou-se,
depois, afastado das rodas literárias de parnasianos, simbolistas e
nefelibatas. Fiel em política às suas convicções monarquistas, como em poesia à
escola de Lamartine e Musset, deixara-se ficar para trás, como bardo das
priscas eras, vivendo das antigas láureas dos tempos em que brilhava na corte
burguesa de São Cristóvão e nos saraus dos barões e comendadores de Botafogo.
Quando,
porém, de raro em raro, aparecia entre jornalistas e homens de letras, a todos
encantava com a sua interessante figura mefistofélica, sempre com um mundo de
reminiscências políticas, literárias, sociais, em narrativas pitorescas e, por
vezes, picarescas.
Múcio,
a quem os anos não diminuíram a vivacidade do espírito, manifestava-a na
agudeza e na finura dos ditos e comentários. Assombrava principalmente a sua
maravilhosa retentiva. Sabia de cor poesias inteiras suas e alheias que
recitava, na órbita direita o monóculo decorativo, voz pausada e cheia, rica de
inflexões.
Dera
ultimamente — inspiração talvez por sua figura física de astrólogo — ao estudo
e a prática das ciências ocultas. Inteligentíssimo, foi-lhe fácil aprender
todas as fantasias cabalísticas dos Mesmers, Cagloostros, Mme. de Tbébes et coettra e apoderar-se do
"jargon" e da liturgia de metapsíquicos, supermentalistas,
quiromantes, nicromantes, fisiognomistas etc.
Declarou-se
publicamente "Hierofante", dando-se o título de "Barão
Ergonte", com que assinava artigos, manifestos, receitas e proclamações
proféticas, datando-as da "Sombra das Sete Palmeiras do Mangue".
A
curiosidade e a ingenuidade do público ajudaram a ação ocultista do Barão
Ergonte que — afirmava-se — chegou a ganhar muito dinheiro em sua "clínica
particular ".
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Revista
"Vamos Ler!", 24 de outubro de 1946.
Pesquisa e
adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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