3/17/2019

Hemetério dos Santos: aspectos biográficos



Hemetério dos Santos: aspectos biográficos

O professor Hemetério dos Santos era um dos raros e legítimos representantes de uma geração que se notabilizou pelo número de homens ilustres que produziu em todos os ramos das ciências, artes e, por conseguinte, letras. O seu desaparecimento merece muito mais do que uma breve notícia telegráfica ou um mero registro necrológico.

Filho do Maranhão, como Artur e Aluísio Azevedo, Coelho Neto, Graça Aranha, Raimundo Correia e tantos outros poetas e prosadores notáveis, abandonou Hemetério a terra natal aos 17 anos de idade, e rumou para o Rio de Janeiro, onde desembarcava, alguns dias depois, abatido pelo balanço do navio, mas com a alma povoada de sonhos e esperanças.

Segundo relata um seu biógrafo, no mesmo ou no dia seguinte, sofreu a primeira contrariedade, incidente comum à maioria dos que se iniciam na vida. Recorrendo a um compatrício com prestígio suficiente para ampará-lo e auxiliá-lo na consecução de um emprego, este desconhecendo, talvez porque fosse ele negro, quis colocá-la como condutor de bondes.

Isso, entretanto, não o fez desanimar.

Consciente de seu valor dirigiu-se ao Reitor do Colégio Pedro II, também maranhense, que o acolheu com bondade e inteirado do que pretendia nomeou-o repetidor de francês, função que condizia, perfeitamente, com as aptidões que possuía.

Tempos depois fazendo o Imperador uma visita ao Colégio verificou a inteligência e o preparo do jovem professor, e tomando informações a seu respeito nomeou-o mais tarde, professor de português no Colégio Militar.

Proclamada a República, o marechal de Ferro, que já o conhecia, encarregou-o de fazer a reforma da Escola Normal, em que o sábio educador se manteve durante 42 anos.

Sem embargo de suas múltiplas ocupações colaborava o professor Hemetério num grande número de jornais e revistas, mantendo polêmicas sabre questões filológicas e escrevendo livros estimados, entre os quais se contam: "Gramática da Língua Portuguesa", "Preditão de Amor" e "Frutos cadivos".

Sofreu injustiças, movidas pelo despeito e pela inveja de uns e pela inconsciência de outros, que não sabiam avaliar a sabedoria de seu espírito e procuravam humilhá-lo porque era de origem negra, como se, a nossa pátria não tivesse orgulho de homens da mesma linhagem, que a enobreceram e engrandeceram, tais como: Henrique Dias, Luís Gama, Rebouças, Visconde de Jequitinhonha, Patrocínio, Monteiro Lopes, o sábio arcebispo D. Silvério, Marcílio Dias, Juliano Moreira, Cruz e Souza, entre muitos outros.

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J. R.

A Gazeta, 9 de agosto de 1939.
Pesquisa, transcrição e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)

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