Hemetério dos Santos: aspectos biográficos
O professor Hemetério dos Santos era
um dos raros e legítimos representantes de uma geração que se notabilizou pelo
número de homens ilustres que produziu em todos os ramos das ciências, artes e,
por conseguinte, letras. O seu desaparecimento merece muito mais do que uma
breve notícia telegráfica ou um mero registro necrológico.
Filho do Maranhão, como Artur e
Aluísio Azevedo, Coelho Neto, Graça Aranha, Raimundo Correia e tantos outros
poetas e prosadores notáveis, abandonou Hemetério a terra natal aos 17 anos de
idade, e rumou para o Rio de Janeiro, onde desembarcava, alguns dias depois,
abatido pelo balanço do navio, mas com a alma povoada de sonhos e esperanças.
Segundo relata um seu biógrafo,
no mesmo ou no dia seguinte, sofreu a primeira contrariedade, incidente comum à
maioria dos que se iniciam na vida. Recorrendo a um compatrício com prestígio
suficiente para ampará-lo e auxiliá-lo na consecução de um emprego, este
desconhecendo, talvez porque fosse ele negro, quis colocá-la como condutor de
bondes.
Isso, entretanto, não o fez
desanimar.
Consciente de seu valor dirigiu-se
ao Reitor do Colégio Pedro II, também maranhense, que o acolheu com bondade e
inteirado do que pretendia nomeou-o repetidor de francês, função que condizia,
perfeitamente, com as aptidões que possuía.
Tempos depois fazendo o Imperador
uma visita ao Colégio verificou a inteligência e o preparo do jovem professor,
e tomando informações a seu respeito nomeou-o mais tarde, professor de português
no Colégio Militar.
Proclamada a República, o
marechal de Ferro, que já o conhecia, encarregou-o de fazer a reforma da Escola
Normal, em que o sábio educador se manteve durante 42 anos.
Sem embargo de suas múltiplas
ocupações colaborava o professor Hemetério num grande número de jornais e
revistas, mantendo polêmicas sabre questões filológicas e escrevendo livros
estimados, entre os quais se contam: "Gramática da Língua
Portuguesa", "Preditão de Amor" e "Frutos cadivos".
Sofreu injustiças, movidas pelo
despeito e pela inveja de uns e pela inconsciência de outros, que não sabiam
avaliar a sabedoria de seu espírito e procuravam humilhá-lo porque era de origem
negra, como se, a nossa pátria não tivesse orgulho de homens da mesma linhagem,
que a enobreceram e engrandeceram, tais como: Henrique Dias, Luís Gama, Rebouças,
Visconde de Jequitinhonha, Patrocínio, Monteiro Lopes, o sábio arcebispo D.
Silvério, Marcílio Dias, Juliano Moreira, Cruz e Souza, entre muitos outros.
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J. R.
A Gazeta, 9 de agosto de 1939.
Pesquisa, transcrição e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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