Fernando Pessoa na década de 1950
Os
vinte anos da morte de Fernando Pessoa, que se deu a 30 de novembro de 1955,
passaram praticamente despercebidos no Brasil. Praticamente, dizemos, porque
aqui e ali, sempre se ouviu alguma referência ao grande poeta lusitano, talvez
o maior de quantos tenham cantado em Portugal desde a época de Camões. De modo
geral, porém, os críticos preferiram dedicar-se a outros estudos, abandonando a
incômoda personalidade de Fernando Pessoa, do multifacetado poeta, que se
assinou ora Alberto Caeiro, ora Ricardo Reis, ora Álvaro de Campos, afora os heterônomos
ingleses da juventude, e o próprio nome recebido em batismo.
Talvez
seja essa dificuldade em penetrar a obra fernandiana — dificuldade que, à
primeira vista, não existe — que tem, até ao momento, privado o leitor de
língua portuguesa de um bom ensaio sabre o autor da "Ode Marítima". Porque, quanto ao trabalho de João Gaspar
Simões, em dois volumes, sobre Fernando Pessoa e a sua geração, não podemos
dizer que seja verdadeiramente um ensaio compreensivo e de alto valor, embora
lhe reconheçamos uma infinita superioridade sobre os poucos outros que a ele
foram até hoje dedicados.
Nós,
que em Portugal estivemos há pouco mais de um ano, ali tivemos o ensejo de
estranhar a quase total ignorância demonstrada pela juventude estudiosa
portuguesa para com aquele que, a nosso ver, foi o maior poeta da língua, em
todo o século XX — um dos maiores do século, aliás, em todas as literaturas.
Essa ignorância não denotava, em verdade, desconhecimento da obra e da vida do
poeta, porém hostilidade, e até menosprezo. Porque, em realidade, se as Edições
Ática publicam as obras completas de Fernando Pessoa, eles não conseguem
entusiasmar as gerações mais moças, que neles veem sobretudo o dedo político
inimigo do integralismo lusitano de décadas passadas, do autor de alguns versos
do há muito considerados ofensivos ao próprio sentimento nacional.
E
até que esse estado de coisas permaneça será muito difícil, realmente, que surja
um bom ensaio sobre o grande poeta português.
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J. R. TEIXEIRA LEITE
Revista
da Semana, 12 de maio de 1965.
Pesquisa,
transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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