3/16/2019

Fernando Pessoa na década de 1950


Fernando Pessoa na década de 1950

Os vinte anos da morte de Fernando Pessoa, que se deu a 30 de novembro de 1955, passaram praticamente despercebidos no Brasil. Praticamente, dizemos, porque aqui e ali, sempre se ouviu alguma referência ao grande poeta lusitano, talvez o maior de quantos tenham cantado em Portugal desde a época de Camões. De modo geral, porém, os críticos preferiram dedicar-se a outros estudos, abandonando a incômoda personalidade de Fernando Pessoa, do multifacetado poeta, que se assinou ora Alberto Caeiro, ora Ricardo Reis, ora Álvaro de Campos, afora os heterônomos ingleses da juventude, e o próprio nome recebido em batismo.

Talvez seja essa dificuldade em penetrar a obra fernandiana — dificuldade que, à primeira vista, não existe — que tem, até ao momento, privado o leitor de língua portuguesa de um bom ensaio sabre o autor da "Ode Marítima".  Porque, quanto ao trabalho de João Gaspar Simões, em dois volumes, sobre Fernando Pessoa e a sua geração, não podemos dizer que seja verdadeiramente um ensaio compreensivo e de alto valor, embora lhe reconheçamos uma infinita superioridade sobre os poucos outros que a ele foram até hoje dedicados.

Nós, que em Portugal estivemos há pouco mais de um ano, ali tivemos o ensejo de estranhar a quase total ignorância demonstrada pela juventude estudiosa portuguesa para com aquele que, a nosso ver, foi o maior poeta da língua, em todo o século XX — um dos maiores do século, aliás, em todas as literaturas. Essa ignorância não denotava, em verdade, desconhecimento da obra e da vida do poeta, porém hostilidade, e até menosprezo. Porque, em realidade, se as Edições Ática publicam as obras completas de Fernando Pessoa, eles não conseguem entusiasmar as gerações mais moças, que neles veem sobretudo o dedo político inimigo do integralismo lusitano de décadas passadas, do autor de alguns versos do há muito considerados ofensivos ao próprio sentimento nacional.

E até que esse estado de coisas permaneça será muito difícil, realmente, que surja um bom ensaio sobre o grande poeta português.

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J. R. TEIXEIRA LEITE
Revista da Semana, 12 de maio de 1965.
Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)

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