Pedindo-lhe um amigo uma notícia biográfica, Monteiro Lobato forneceu-lhe as seguintes notas, que achamos interessante publicar:
"Nasceu em Taubaté, aos 18 de abril de... 1884. Mamou até 87. Falou tarde, e ouviu pela primeira vez aos 5 anos um célebre ditado:
Cavalo pangaré
Mulher que... em pé
Gente de Taubaté
Dominus libera mé.
Concordou.
Depois, teve caxumba aos 9 anos. Sarampo aos 10. Tosse comprida aos 11. Primeiras espinhas aos 15...
Gostava de livros. Leu o "Carlos Magno e os doze pares de França", o "Robinson Crusoé" e todo o Júlio Verne.
Metido em colégios foi um aluno nem bom nem mau — apagado. Tomou bomba em exame de português, dada pelo Freire. Insistiu. Formou-se em Direito, com um "merecidíssimo" apenas no 5º ano. Foi promotor em Areias mas não promoveu coisa nenhuma. Não tinha jeito para a chicana e abandonou o anel de rubi (que nunca usou no dedo, aliás).
Fez-se fazendeiro. Gramou café a 4.200 a arroba e feijão a 4.000 o alqueire.
Convenceu-se a tempo que isso de ser produtor é sinônimo de ser imbecil e mudou de classe. Passou ao paraíso dos intermediários. Fez-se negociante, matriculadíssimo. Começou editando a si próprio e acabou editando aos outros. Escreveu umas tantas lorotas que se vendem — Urupês, gênero de grande saída, Cidades Mortas, Ideias de Jeca (subprodutos), Problema Vital, Negrinha, Narizinho...
Pretende publicar ainda um romance sensacional que começa por um tiro:
— Pum! E o infame caiu redondamente morto...
Nesse romance introduzirá uma novidade de grande alcance, qual seja a de suprimir todos os pedaços que o leitor pula. Particularidades: não faz nem entende de versos, nem tentou o raid a Buenos Aires.
Físico: lindo!"
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A Novela Semanal, 2 de maio de 1921.
Pesquisa, transcrição e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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