Os três ladrões
Um camponês ia vender ao
mercado da cidade um burro e um cabrito.
O burro ia lhe servindo de
montaria, e lavava o cabrito com um cabresto amarrado a cauda da cavalgadura.
Três ladrões o avistaram; um
deles diz:
— Vou roubar o cabrito, sem
que ele o perceba.
Diz o segundo:
— Pois eu lhe roubarei o
burro.
— Isto é muito fácil — diz o
terceiro — eu vou roubar-lhe toda a roupa, sem que ele proteste.
O primeiro gatuno chegou
disfarçadamente perto do camponês e aproveitando um momento em que ele estava
distraído, desamarrou o cabrito e o levou dali.
Numa volta do caminho o
camponês olhou para trás e, não vendo o cabrito, começou a procurá-lo pela
estrada.
Chegou então o segundo ladrão,
e perguntou-lhe o que procurava. O camponês contou que lhe tinham roubado o
cabrito.
— Eu vi agora mesmo —
respondeu o ladrão; ainda deve estar naquela ladeira o homem que vai levando.
O camponês correu para o lugar
indicado, e confiou o burro ao segundo ladrão. Este tratou logo de se pôr a
caminho.
Quando o camponês voltava sem
o cabrito, encontrou-se também sem o burro e rompeu a chorar. Entretanto, assim
mesmo seguiu a viagem.
Chegando perto de um rio, viu
um homem lamentando-se de sua desgraça.
Chegou perto dele e perguntou
o que lhe acontecera.
O homem respondeu que levava um
saco cheio de onças de ouro; que se deitara à beira do rio; que pegara no sono
e só se acordara com o barulho do saco caindo na água.
— E por que não vais buscar no
fundo do rio? — perguntou-lhe o camponês.
— Tenho medo da água. Não sei nadar;
daria de boa vontade vinte onças a quem mo tirasse de lá.
O camponês ficou todo
contente, pensando que poderia ganhar mais do que perdido com os dois furtos;
despiu-se e atirou-se nu à água.
Procurou, procurou, mas nada
encontrou.
Quando saiu do rio, o homem e
a roupa tinham desaparecido.
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Gazeta de Petrópolis, 24 de novembro de 1924.
Pesquisa, transcrição e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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