2/26/2019

O rico-pobre (Conto), de Leon Tolstoi


O rico-pobre

Nos tempos fabulosos existia um homem pobre que, deitando-se uma noite, não podia conciliar o sono. Pensava ele: por que razão é a vida tão difícil para os pobres? E por que os ricos acumulam tanto dinheiro?... Tem eles caixas cheias de ouro, e entretanto ainda ajuntam, privando-se de tudo. Fosse eu rico mostrar-lhes-ia como é que se vive. Haveria de passar bem não só eu, mas todos os que me rodeassem.

Nem bem acabou de fazer essas reflexões e ouviu uma voz que disse:

— Quereis ser rico? Eis aí uma bolsa com uma moeda. Assim que a tiveres tirado de dentro, aparecerá outra, tirando esta, outra, e assim sucessivamente... Podes retirar da bolsa tantas moedas quantas quiseres: depois joga a bolsa ao rio. Mas toma todo o cuidado em não gastares nenhuma, até que tenha jogado a bolsa nas águas; porque, se o fizeres, as moedas se converterão em pedras.

O homem ficou doido de alegria e começou a tirar as moedas.

— Que bom — disse ele — vou passar toda a noite a retirar moedas; pela manhã terei uma grande soma, e só então jogarei a bolsa ao rio e ficarei rico.

Mas amanheceu, e ele pensou que, trabalhando mais um dia a tirar moedas, ficaria mais rico, e, portanto valia apena fazer mais um sacrifício.

Entretanto sentia fome; na casa só havia um pedaço de pão preto. Ir comprar alimento era impossível, pois todas as moedas se converteriam em pedras.

Comeu, pois, o pedaço de pão preto, e continuou a tirar moedas da bolsa.

Chegou a noite e ele a trabalhar.

Passaram-se dias, semanas, meses, anos, e o homem para não atirar a bolsa ao rio ou para que as moedas não se transformassem em pedras não gastava nenhuma, amontoando, amontoando sempre. E o desgraçado vivia de esmolas, mais pobre e miserável do que antes do fatal presente, até que um dia, já velho e enfraquecido, foi encontrado morto com a bolsa maravilhosa nas mãos!


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O Olho da Rua, 31 de outubro de 1908.
Pesquisa, transcrição e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)

Um comentário:

  1. Essa também e muito boa a ganância do homem não o deixa saborear a vida

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