O rico-pobre
Nos tempos fabulosos existia
um homem pobre que, deitando-se uma noite, não podia conciliar o sono. Pensava
ele: por que razão é a vida tão difícil para os pobres? E por que os ricos acumulam
tanto dinheiro?... Tem eles caixas cheias de ouro, e entretanto ainda ajuntam,
privando-se de tudo. Fosse eu rico mostrar-lhes-ia como é que se vive. Haveria de
passar bem não só eu, mas todos os que me rodeassem.
Nem bem acabou de fazer essas
reflexões e ouviu uma voz que disse:
— Quereis ser rico? Eis aí uma
bolsa com uma moeda. Assim que a tiveres tirado de dentro, aparecerá outra, tirando esta, outra, e
assim sucessivamente... Podes retirar da bolsa tantas moedas quantas quiseres: depois joga
a bolsa ao rio. Mas toma todo o cuidado em não gastares nenhuma, até que tenha
jogado a bolsa nas águas; porque, se o fizeres, as moedas se converterão em
pedras.
O homem ficou doido de alegria
e começou a tirar as moedas.
— Que bom — disse ele — vou
passar toda a noite a retirar moedas; pela manhã terei uma grande soma, e só então jogarei
a bolsa ao rio e ficarei rico.
Mas amanheceu, e ele pensou
que, trabalhando mais um dia a tirar moedas, ficaria mais rico, e, portanto
valia apena fazer mais um sacrifício.
Entretanto sentia fome; na
casa só havia um pedaço de pão preto. Ir comprar alimento era impossível, pois
todas as moedas se converteriam em pedras.
Comeu, pois, o pedaço de pão
preto, e continuou a tirar moedas da bolsa.
Chegou a noite e ele a trabalhar.
Passaram-se dias, semanas, meses,
anos, e o homem para não atirar a bolsa ao rio ou para que as moedas não se
transformassem em pedras não gastava nenhuma, amontoando, amontoando sempre. E
o desgraçado vivia de esmolas, mais pobre e miserável do que antes do fatal
presente, até que um dia, já velho e enfraquecido, foi encontrado morto com a
bolsa maravilhosa nas mãos!
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O Olho da Rua, 31 de outubro de 1908.
Pesquisa, transcrição e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)
Essa também e muito boa a ganância do homem não o deixa saborear a vida
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