Um lobo perseguido por um caçador
encontrou um mujique que regressava dos campos com um saco e um malhadeiro. E o
lobo disse-lhe:
— Mujique, esconde-me! os
caçadores perseguem-me.
O mujique teve compaixão do lobo,
escondeu-o no saco e pô-lo às costas.
Os caçadores vieram e perguntaram
ao mujique se tinha visto o lobo:
— Não, não vi! — respondeu o mujique.
Os caçadores afastaram-se, o lobo
saiu do saco e lançou-se sobre o mujique.
— Ó lobo ingrato! Não tens vergonha?
Acabo de te salvar a vida e é a mim que
queres devorar?!
O lobo respondeu-lhe:
— Um favor esquece-se!
— Não, respondeu o mujique, um
favor nunca se esquece: interroga quem quiseres e verás o que te respondem.
E o lobo concordou:
— Pois seja assim! Vamos por aí afora, juntos,
e perguntemos a quem primeiro se nos deparar se um favor se esquece ou não. Se
responderem que sim, comer-te-ei.
E continuaram o seu caminho.
Daí a pouco encontraram um cavalo.
O mujique perguntou-lhe:
— Dize-me, ó cavalo, se um favor
se esquece ou não.
O cavalo disse:
— A esse respeito conto-te o seguinte:
vivi doze anos em casa do meu dono, dei-lhe doze cavalos, e ao mesmo tempo ajudei-o
no cultivo da terra; o ano passado ceguei e ele fez-me trabalhar no moinho. Por
fim perdi as forças, e um dia cair debaixo da roda. Bateram-me, me arrastaram
pela cauda e puseram-me fora. Quando voltei a mim, tratei de fugir. Onde vou?
Não sei.
Então o lobo observou:
— Vês, mujique, que um favor se
esquece?
E o mujique respondeu:
— Espera um pouco, perguntemos
a outro.
Mais longe, encontraram um cão
velho, coxeando e levantando-se a custo.
O mujique perguntou:
— Dize-me, cão, se um favor se
esquece.
— Ouve-me, respondeu o cão...
Vivi quinze anos em casa do meu
dono, guardava o seu lar, ladrava e saltava nos malfeitores para os morder.
Agora, porém, que já não tenho dentes, fui posto na rua, bateram-me e quebraram-me
as costelas. Arrasto-me como posso, não
sei para onde, mas o que quero é fugir para
bem longe do meu antigo dono.
E o lobo observou novamente:
— Ouves o que ele diz?
E o mujique replicou:
— Espera um terceiro encontro.
Mais distante encontraram uma
raposa.
—Dize me, ó raposa, interrogou
o lobo, um favor se esquece ou não?
— Por que queres saber isso? disse
a raposa.
O mujique respondeu:
O mujique respondeu:
— Eu explico. O lobo era perseguido por
caçadores, pediu-me para o esconder e agora quer me devorar.
— Quê? um lobo desse tamanho
pode caber num saco? Se eu visse isso, fazia-os chegar a um acordo, afirmou a
raposa.
— Encolheu-se todo, exclamou o
mujique, ele mesmo te pode dizer.
— É verdade, confirmou o lobo.
Então a raposa insistiu.
— Mostra-me lá como o meteste
no saco, que só acreditarei vendo.
O lobo deixou-se escorregar para
dentro do saco e disse:
— Foi assim!
— Mete-te todo, insistiu mais a
raposa, porque ainda não vejo.
O lobo entrou completamente para
o saco e a raposa disse ao mujique:
— Agora é necessário atá-lo.
O mujique atou o saco, e a raposa
disse-lhe:
— Mostra-lhe, agora, mujique,
como é que bates o trigo.
O mujique pôs-se a rir e bateu
no lobo com o malhadeiro.
Depois comentou:
— Olha, raposa, como se abre o grão debaixo do malheiro!
E deu uma forte paulada na cabeça
da raposa, matou-a e disse-lhe:
— Um favor, esquece-se!
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Tradutor desconhecido (2 de março de 1899).
Pesquisa, transcrição e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)
Tradutor desconhecido (2 de março de 1899).
Pesquisa, transcrição e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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