O corvo e seus filhos
Um corvo fez um ninho em uma
ilha, e quando teve filhos, quis transportá-los até o continente.
Primeiro tomou um para
atravessar o mar; porém chegando no meio do caminho sentiu-se fatigado, diminuiu o
seu voo e disse para si:
— Agora que sou forte e ele fraco,
posso levá-lo; porém quando ele for forte e a velhice me debilitar, lembrar-se-á
de meus cuidados e me levará de um lugar para o outro?
Perguntou então ao seu filho:
— Quando fores forte e eu fraco,
levar-me-ás assim? Responde com franqueza!
O filho temendo que ele o
deixasse cair no mar, respondeu:
— Sim, hei de levar-te!
Porém o corvo não acreditou no
seu filho e abriu as garras. Como uma bala, o filho caiu na água e se afogou.
O velho corvo voltou à ilha, tomou
outro filho e atravessou novamente o mar.
Mais uma vez cansado,
perguntou a esse outro filho:
— Levar-me-ás de um lugar para
o outro, como eu a ti agora faço, quando eu for velho?
Com o mesmo receio que seu
irmão, este também respondeu que sim, que o levaria.
O pai também não o acreditou,
e soltou-o ao mar.
Quando regressou à ilha, no
ninho só havia um filho. Tomou-o e dirigiu seu voo em direção ao mar.
Outra vez exausto, perguntou:
— Vais manter-me na minha
velhice e transportar-me assim quando estiver velho e debilitado?
E o corvo jovem respondeu:
— Não... não o levarei!
— Por quê? — perguntou,
surpreso, o pai.
— Quando fores velho eu serei
forte, terei um ninho meu, e provavelmente muitos filhos, a quem terei de
alimentar e transportar como hoje o fazes comigo.
Então pensou o velho corvo:
Então pensou o velho corvo:
— Há dito a verdade. Em
recompensa vou levá-lo até à margem. E assim o fez.
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A República, 14 de março de 1924.
Pesquisa, transcrição e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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