O cão morto
Jesus chegou um dia a uma cidade e, ao atravessá-la, viu um grupo de pessoas que contemplava um cão morto que trazia ainda ao pescoço a corda com que fora enforcado.
O cão já estava podre e
cheirava mal.
E todos que se achavam em
torno daquele animal em decomposição, examinavam-no, fazendo comunitários.
— Como empesta o ar — dizia
um, tapando o nariz.
— Por quanto tempo ainda —
acrescentava outro — continuará este maldito cão a envenenar o ar que se
respira nesta rua?
— Olhem a sua pele! —
exclamava um terceiro — parece um coalho de leite estragado...
— E as suas orelhas? —
observava outro — escorre uma aguadilha verde de pútridas espumas...
— Teria sido estrangulado
porque se tornou hidrófobo ou ladrão? — indagava por fim uma outra pessoa.
Jesus, que se acercou daquele
grupo e ouviu todos esses comentários, lançou então um olhar de compaixão sobre
o imundo animal e disse:
— Oh! mas os seus dentes são
cândidos e belos como a neve.
O povo, então, que não o
conhecia, maravilhou-se de ouvir palavras ungidas de tanta doçura sobre aquela
alimária podre e, em coro exclamou:
— Quem será este homem? Não
deve ser outro senão Jesus de Nazaré. Só ele é capaz de tamanha piedade ante a
carcaça de um cão morto.
E todos se retiraram,
inclinando respeitosamente a cabeça diante do Filho de Maria.
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Illustração Pelotense, 16 de maio de 1923.
Pesquisa, transcrição e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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