Vi-te apanhar uma rosa...
(1932)
Vi-te apanhar uma rosa
Que
desfolhaste em segredo;
E
ao dar-te o meu coração,
Soledade,
ai, mal de mim!
E
ao dar-te o meu coração
Senti-o
bater de medo.
A
formosura dos céus
Quando
o Criador a deu
Não
andavas muito longe,
Alegria
dos meus olhos!
Não
andavas muito longe,
Que
tanta te pertenceu.
Eu
andei, no cemitério,
Ao
coveiro perguntando
Se
tem lugar reservado,
Soledade,
ai, soledade!
Se
tem sítio reservado
Para
quem morreu amando.
Sou
aquele pobrezinho
Que
à tua porta bateu,
Que
uma esmola te pediu,
Meu
desejo de ventura!
Que
uma esmola te pediu
E
que nunca a recebeu.
Podes
tirar-me, se queres,
Hoje,
com essa boquinha,
Os
beijos que ontem me deste,
Ó
prenda dos meus afetos!
Os
que ontem me deste
Indo
comigo sozinha.
Esses
teus olhos, morena,
Têm
um olhar desumano,
Pois
matam mais num minuto.
Encantos
da minha vista!
Pois
matam mais num minuto
Que
a morte mata num ano.
Uns
olhos pretos que vi
Deram-me
penas mortais;
Não
quero mais olhos pretos.
Meu
constante pensamento!
Não
quero mais olhos pretos,
Que
matam como punhais.
Meus
olhos não sei que têm
Desde
o dia em que te vi
Que
em tudo, tudo o que veem,
Ó
prenda dos meus carinhos!
Que
em tudo, tudo o que veem
Somente
te veem a ti.
Minha
mãe, a um Santo Cristo,
As
minhas penas contou:
Que
penas tão grandes eram
Que
o Santo Cristo chorou.
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