À minha mãe
A.
PRAXEDES LIMA
Recife, 1904.
Recife, 1904.
Não raros na
cabeça te aparecem
Argênteos fios,
que mais bela a tornam,
E esses cabelos brancos
que te adornam
Todo o meu culto e
o amor merecem.
À medida que as
rosas se emurchecem
Da tua cútis,
outras flores ornam
A tua alma gentil
e em ti entornam
Raros perfumes que
minh'alma descem.
Em vão o tempo, a
desventura, a sorte
E dos males a
intérmina coorte
Lutem contigo, minha
terna santa.
Em vão! Encaras
tudo frente a frente;
E uma alergia
sempre renascente
Dentro do coração palpita
e canta.
***
Partida
SILVA BRAGA
São Paulo, 1905.
São Paulo, 1905.
Parto, levando o
peito esfacelado
Pelo cruciante
espinho da saudade;
Ao deixar minha mãe
e o ninho amado
Eu deixo a vida, a
fé, a mocidade!
Nauta sem norte,
em meio à imensidade
Do mar da vida — pélago
insondado,
Tenho por leme a
meiga claridade
Do olhar de minha mãe,
doce, abençoado.
A madrugada em
festa, alegremente,
Saúda o sol, que
além vem despontando;
Gorjeia o
passaredo folgazão.
E eu, estrada em fora,
tristemente,
As minhas mágoas,
triste, vou chorando,
Porque parto
deixando o coração!
***
Ilusão divina
(À memoria idolatrada de minha mãe)
ZILDA GAMA
29/11/1902.
Não, minha Mãe, tu
não me abandonaste
Qual uma ave que o
seio balearam
E ao ninho seu não
volta!
Eu te sinto ao meu
lado, boa e terna,
Qual um Anjo da
Guarda — protetor,
Enflorado de bênçãos
e carinhos
Iluminando as
sombras de minh'alma...
E, quando minha
fronte cismadora
Pende, e meus
olhos lágrimas destilam:
Eu sinto a pluma
albente de tua asa
— Como um pálio de
gaze rociada —
Adejar-lhe, de
leve,
Extinguindo-lhe as
pérolas de fogo!
***
Saudade eterna
(A memória de minha mãe Ana Santos)
ERNANI DOS SANTOS
Rio de Janeiro,
1905.
Deixai da dor
vibrar sentida corda
Para exprimir o luto
ardente d'alma!
E que entre os
mortos busque a doce calma
O lenitivo o
pranto que a transborda!
Tombou no leito
frio, aonde eu via,
Mãe desvelada,
amante e carinhosa,
De cuja boca ouvia
a voz morosa
E em cujo colo,
rindo, adormecia!
Tombou para sempre
lá no seio eterno
Onde o destino impele
atroz, fatal!
A morte vil
roubou-lhe o viço externo
Para lhe dar o
gelo sepulcral.
Já que a tristeza
o peito meu definha,
Lembrança amarga
meu viver consterna,
Deixai que
inscreva sobre a mente minha
O preito inteiro
da saudade eterna.
***
Mãe
(A João Guimarães Salgado)
FAGUNDES FILHO
Mendes, 1905.
Quem já não tem
esse carinho santo,
Quem vive só, sem afeição
sincera,
Quem não tem mais,
e tê-la quem me dera!
Enfim, quem não
tem mais esse ente amigo
Tesouro que possui
a natureza,
Mudado traz o
peito num jazigo
E o Coração em
esquife de tristeza.
Assim, quem não
recebe mais, risonho
A essência pura
dessa flor seleta,
Da vida tão somente
tem um sonho,
É um ente que não
vive, mas vegeta.
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