Beleza
ALMEIDA GARRETT
“Folhas Caídas”
Vem do amor a
Beleza,
Como a luz vem da
chama.
É lei da natureza:
Queres ser bela? –
ama.
Formas de
encantar,
Na tela o pincel
As pode pintar;
No bronze o buril
As sabe gravar;
E estátua gentil
Fazer o cinzel
Da pedra mais
dura...
Mas Beleza é isso?
- Não; só formosura.
Sorrindo entre
dores
Ao filho que adora
Inda antes de o ver
– Qual sorri a
aurora
Chorando nas
flores
Que estão por
nascer –
A mãe é a mais
bela das obras de Deus.
Se ela ama! - O
mais puro do fogo dos céus
Lhe ateia essa
chama de luz cristalina:
É a luz divina
Que nunca mudou,
É luz... é a
Beleza
Em toda a pureza
Que Deus a criou.
***
Adeus, mãe!
Adeus, mãe!
ALMEIDA GARRETT
“Folhas Caídas”
“Folhas Caídas”
– “Adeus, mãe!
adeus, querida
Que eu já não
posso coa vida
E os anjos chamam
por mim.
Adeus, mãe, adeus!
... Assim,
Junta os teus
lábios aos meus
E recebe o último
adeus
Neste suspiro...
Não chores
Não chores:
aquelas dores
Já sinto acalmar
em mim.
Adeus, mãe,
adeus!... Assim,
Junta os teus
lábios aos meus...
Um beijo - um
último... Adeus!”
E o corpo
desanimado
No colo da mãe
caía;
E ela o corpo...
só pesado,
Só mais pesado o
sentia!
Não se lamenta,
não chora,
E quase a sorrir,
dizia:
“Que tem este
filho agora,
Que tanto pesa?
Não posso...”
E uma a uma, osso
por osso,
Com a mão trémula
tenta
As mãozinhas
descarnadas,
As faces cavas,
mirradas,
A testa inda morna
e lenta.
“Que febre, que
febre!” diz;
E em tudo pensa a
infeliz,
Tudo que há mau
lhe ocorreu,
Tudo - menos que
morreu.
Como nos gelos do
Norte
O sono traidor da
morte
Engana o
desfalecido
Que imagina
adormecer,
Assim cansado,
esvaído
De tão longo
padecer,
Já não há no
coração
Da mãe força de
sentir;
Não tem já lume a
razão
Senão só para a
iludir.
Acorda, ó mãe
desgraçada,
Que é tempo de
despertar!
Anda ver a eça
armada,
As luzes que ardem
no altar.
Ouves? É a rouca
toada
Dos padres a
salmear!...
Vamos, que a hora
é chegada,
É tempo de o
amortalhar.
E os anjos
cantavam:
“Aleluia!”
E os santos
clamavam:
‘Hosana!”
Ao triste cantar
da Terra
Responde o cantar
do Céu;
Todos lhe bradam:
“Morreu!”
E a todos o ouvido
cerra.
E os sinos a
tocar,
E os padres a
rezar,
E ela ainda a
acalentar
Nos braços o filho
morto,
Que já não tem
mais conforto,
Mais sossego neste
mundo
Que o jazigo úmido e fundo
Onde há de ir a
sepultar.
Levai, ó anjos de
Deus,
Levai essa dor aos
Céus.
Com a alma do
inocente
Aos pés do Juiz
Clemente
Aí fique a santa
dor
Rogando à Eterna
Bondade
Que estenda a
imensa piedade
A quantos pecam
d’amor.
***
A minha mãe
JÔNATAS SERRANO
19 de novembro de
1903.
Abençoa-me, Mãe;
que neste dia,
Talvez o mais
feliz de minha vida,
Possa gozar
minh'alma embevecida
Tão pura, tão
benéfica alegria.
Ao receber-te a
bênção comovida,
Eu julgo ouvir, em
doce fantasia,
Os coros de uma angélica
harmonia,
No céu, longe da
terra corrompida.
Abençoa-me, Mãe;
eu só desejo
Saber que vivo
dentro de teu peito,
Que lá tenho um
refúgio; que lá brilho.
E Deus permita que
essa mão que beijo,
Cheio de amor e
cheio de respeito,
Dirija sempre os
passos de teu filho.
***
Mãe
LEÔNCIO CORREIA
8 de julho de 1911.
I
Mãe! minha mãe! na
augusta claridade
Dos teus olhos,
tranquilos e radiosos,
Ri-se o céu; e, se
o céu não rir, quem há se
Rir, acaso, por
olhos tão piedosos?
Como as estrelas,
pela imensidade,
Desenrolam-se nele
os dons formosos
Dessa alma, e os
vejo, mãe, com que saudade!
Com que sabor de
beijos lacrimosos!
Sonhei: – em raios
de astros, dos azuis
Paços, descendo,
um anjo, ao ver-me triste,
Como a casta ninfeia
nos pauis,
Disse, com um
doce, com um divino chiste:
Porque choras,
feliz, se ainda possuis
O amor mais santo
que na terra existe?
II
Roubem-me o riso,
os ramos desflorindo
Da vida; e os sonhos
roubem-me, que mudo
E frio quedarei
ante o que lindo
Era, e tornou-se
tenebroso e rude.
Que rinja, e rua,
e role, retinindo,
Meu Torreão de
Marfim; e, que eu, desnudo
De Fé, mendigue...
Do desastre infindo
Ficando o teu
amor, fica-me tudo.
Pois que a vida me
dando, mãe, me deste
Parte da tua, e o
teu amor, que enlaça
Meu ser, como uma
faixa azul-celeste,
Sei que darias,
com um sorriso doce,
Para salvar teu
filho da desgraça,
A própria vida, se
preciso fosse...
***
Dor suprema
Dor suprema
(À minha mãe)
SOARES BULCÃO.
“Helianthus”, 1908.
Tento exprimir, ó
mãe, debalde tento
Contar a dor nas
sílabas de um verso,
O amor materno, em
lágrimas, disperso
Pelo intérmino mar
do sofrimento.
Procuro o pranto,
o lúgubre lamento,
Tudo o que geme no
martírio imerso,
E essa agonia
eterna do universo
Não diz o teu
sofrer de um só momento!
Sondo da noite os
tétricos gemidos;
Ocultos ais dos
corações feridos,
A angústia, a
pena, o dó que me insinuas...
E esse concerto de
ânsias e queixumes,
Capaz de encher
milhares de volumes,
Mãe! não vale uma
lágrima das tua!
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