Minha mãe
GUERRA JUNQUEIRO
Minha mãe, minha mãe! ai que saudade imensa,
Do tempo em que
ajoelhava, orando, ao pé de ti.
Caía mansa a
noite; e andorinhas aos pares
Cruzavam-se voando
em torno dos seus lares,
Suspensos do
beiral da casa onde eu nasci.
Era a hora em que
já sobre o feno das eiras
Dormia quieto e
manso o impávido lebréu.
Vinham-nos da
montanha as canções das ceifeiras,
E a Lua branca,
além, por entre as oliveiras,
Como a alma dum
justo, ia em triunfo ao Céu!...
E, mãos postas, ao
pé do altar do teu regaço,
Vendo a Lua subir,
muda, alumiando o espaço,
Eu balbuciava a
minha infantil oração,
Pedindo ao Deus
que está no azul do firmamento
Que mandasse um
alívio a cada sofrimento,
Que mandasse uma
estrela a cada escuridão.
Por todos eu orava
e por todos pedia.
Pelos mortos no
horror da terra negra e fria,
Por todas as
paixões e por todas as mágoas…
Pelos míseros que
entre os uivos das procelas
Vão em noite sem
Lua e num barco sem velas
Errantes através
do turbilhão das águas.
O meu coração
puro, imaculado e santo
Ia ao trono de
Deus pedir, como inda vai,
Para toda a nudez
um pano do seu manto,
Para toda a
miséria o orvalho do seu pranto
E para todo o
crime o seu perdão de Pai!...
………………………………………………
A minha mãe
faltou-me era eu pequenino,
Mas da sua piedade
o fulgor diamantino
Ficou sempre
abençoando a minha vida inteira
Como junto dum
leão um sorriso divino,
Como sobre uma
forca um ramo de oliveira.
***
Mamã
Mamã
ANTÔNIO NOBRE
Ilha da Madeira,
1898.
Toda a Paz, todo o Amor, toda a Bondade,
Toda a Ternura que de ti me vêm,
Amparam-me esta triste mocidade
Como nos tempos em que tinha Mãe.
Quanto eu te devo! Ódios, impiedade,
Indignações e raivas contra alguém,
Loucuras de rapaz, tédios, vaidade,
Tudo isso perdi – e ainda bem!
Salvaste-me! Trouxeste-me a Esperança!
Nunca ma tires não, linda criança,
(Linda e tão boa não o farás, talvez!)
Pois que perder-te, meu amor, agora,
Ai que desgraça horrível! isso fora
Perder a minha Mãe, segunda vez.
***
Palavras de minha mãe
Palavras de minha mãe
OLEGÁRIO MARIANO
Quando, num dia
calmo, eu vim ao mundo,
Minha Mãe-santa e
nobre Flor de Lis,
Disse, olhando os
meus olhos bem no fundo:
– Meu filho! Hás
de ser bom e ser feliz!
No decorrer do
tempo, na bravia
Onda humana que
ruge e se encapela,
Cada cousa de mal
que acontecia,
Eu me lembrava das
palavras dela,
E era um gozo
infinito o que eu sofria.
Hoje, homem feito,
a alma de crenças morta,
Colhendo males
pelo bem que fiz,
Inda ouço a mesma
voz que me conforta,
Sei a sorte que
tenho... mas, que importa?
Quero iludir-me
para ser feliz.
***
Conselho materno
Conselho materno
GALDINO DE CAMPOS
1927
Minha mãe, tão
pobrezinha,
coitadinha!
não tem nada para
me dar;
cada hora dá-me um
beijo,
e depois fica a
chorar.
Minha mãe deu-me
um tesouro
— não é de ouro,
que ele é pobre e
nada tem
mas um conselho
materno
é um tesouro também.
— “Escuta, filha querida,
minha vida!"
—
cada dia ela me
diz.
— Ouve a lição que
te ensino,
que não serás
infeliz:
Da mulher toda a
riqueza
é a pureza!
Ó filha, confia em
Deus!
Sê casta e boa,
que os anjos
Vão te coroar nos
céus.
Tua mãe, tão
pobrezinha,
coitadinha!
não tem nada para
te dar;
dá-te a lição da
virtude,
que te repete a
chorar!
***
A minha mãe
A minha mãe
ARISTEU SEIXAS
Anuário do Jornal do
Brasil, 1928.
Quando em ti penso, mãe, quando
No puro afeto com
que a ti me ligas,
Sinto minh'alma
cheia do infinito,
Porque é infinito
o amor com que me abrigas.
Venço com ele — talismã
bendito —
Todas as dores,
todas as fadigas;
E à sua sombra
confortado habito,
Vendo-te amiga entre
as visões amigas.
Brilhas de amor
nos sonhos de teu filho,
Onde apareceu pródiga
em carinho.
Como em teus
sonhos com saudade brilho.
Vive comigo, velas
o meu ninho,
E palmilhas os ermos
que palmilho,
Iluminando as
curvas do caminho.
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